Florestas energéticas e resíduos produzem bio-óleo

Embrapa Agroenergia testa o bio-óleo combustível, produto capaz de substituir o petróleo. Amazônia fornece parte das matérias-primeiras da nova descoberta

 
Utilizando madeira de eucalipto no processo de pirólise rápida, a Embrapa Agroenergia (Brasília/DF) produziu bio-óleo que também pode ser fabricado a partir de quase todos os tipos de materiais orgânicos.

O processo de pirólise é conhecido industrialmente – está presente na indústria do petróleo, de carvão mineral e, principalmente, na agroindústria do carvão vegetal. “A aplicação de que estamos falando é a pirólise rápida que transforma termoquimicamente partículas moídas de biomassa, no formato de serragem, em bio-óleo combustível”, explica o pesquisador da Embrapa Agroenergia, José Dilcio Rocha.

E ainda produz o biocarvão, que pode ser utilizado como fertilizante, até mesmo em sistemas de produção orgânica, e em muitas outras aplicações, como por exemplo, na prevenção da poluição ambiental e na descontaminação de corpos d’água e de solo impactados por metais tóxicos.

Embora ainda pouco conhecido, o bio-óleo tem grande potencial para substituir o petróleo, com vantagens, em várias aplicações. O bio-óleo é um combustível orgânico, renovável e derivado do processamento de resíduos agrícolas e florestais. Trata-se de um óleo negro e de odor característico que sai com alto rendimento do processo de pirólise ou degradação térmica acelerada.

Bagaço de laranja é testado

Diversos resíduos foram utilizados nos experimentos realizados em uma planta-piloto na Universidade de Campinas (Unicamp), podendo ser citados: capim elefante, palha de cana-de-açúcar, casca de arroz, casca de café, restos de cultura de milho e tabaco etc.

Entre as matérias-primas testadas pela Embrapa Agroenergia, o bagaço de laranja e a madeira de eucalipto são as melhores biomassas para produção de bio-óleo e de carvão vegetal. De acordo com Rocha, o bio-óleo rende até 60% em massa comparativamente à matéria-prima usada, ou seja, uma tonelada de serragem pode render até 600 kg de bio-óleo.

A substituição de óleo combustível BPF, derivado de petróleo, gera energia elétrica e emite menos gases de efeito estufa. Além da geração termelétrica, o bio-óleo pode ser usado como insumo químico, em resinas e aditivos e como fungicida. Uma aplicação recente, ainda em estudo, é a produção de gás de síntese para produzir fertilizantes, combustíveis e derivados semelhantes aos de petróleo, mas por via renovável.

Esse é o conceito de Química Verde, que vem ganhando adeptos e significa substituir as matérias primas tradicionais e geralmente poluentes por insumos derivados de biomassa. Isso vai significar além da trocas das matérias-primas, grandes mudanças tecnológicas e para isso o Brasil está se preparando. “Atualmente, temos matérias-primas e também tecnologia de conversão, afinal, a rota termoquímica é viável”, afirma o pesquisador.

Tecnologia inovadoras

As florestas para uso energético têm a possibilidade de garantir o fluxo de matérias-primas para as tecnologias inovadoras que o país tanto precisa. A mitigação das mudanças climáticas e principalmente o combate à poluição ambiental estão diretamente ligados a substituição dos combustíveis fóssil e nuclear pela energia renovável da biomassa. O desenvolvimento de tecnologias inovadoras que transformem os resíduos de biomassa em energia renovável proporciona melhores condições de vida para quem vive nas grandes cidades e gera emprego e renda para quem produz nas regiões rurais.

Essa ação faz parte do Projeto Florestas Energéticas, liderado pela Embrapa Florestas, com a parceria de unidades da Empresa e de instituições públicas e privadas nacionais. O projeto contempla pesquisas na área de expansão de plantios florestais, de tecnologias ligadas aos usos tradicionais da madeira, bem como a utilização de tecnologias inovadoras para produção biocarvão, bio-óleo, etanol e celulignina, além de avaliação dos impactos ambientais de plantios florestais. “O projeto florestas energéticas está alavancando tecnologias desse perfil e para isso as parcerias são fundamentais. Quem ganha é o país e a sociedade”, explica José Dilcio Rocha.

Fonte: Agência Amazônia de Notícias, adaptado por Painel Florestal

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