"É preciso traduzir essa economia de energia em resultados econômicos
para a empresa", defende Wargas:
Foto: Divulgação
Otimizar o uso das fontes de energia por meio da eliminação do desperdício, da adesão ao consumo racional e da redução de custos são alguns dos pressupostos do conceito da eficiência energética.
Otimizar o uso das fontes de energia por meio da eliminação do desperdício, da adesão ao consumo racional e da redução de custos são alguns dos pressupostos do conceito da eficiência energética.
As micro e pequenas empresas estão muito interessadas no assunto, estimuladas tanto pela "onda verde" da sustentabilidade, mas, sobretudo, pela própria sobrevivência, em tempos de escassez dos bens da natureza e de um mercado cada vez mais voraz.
Nesta entrevista concedida ao portal EcoDesenvolvimento.org, o gerente da unidade de Inovação e Acesso a Tecnologia do Sebrae-RJ, Ricardo Wargas, explica como a instituição trabalha para incutir a importância da eficiência energética nas gestões das micro e pequenas empresas. O especialista vislumbra também um cenário promissor para o tema no Brasil em um futuro próximo, além de advertir: quando o assunto é eficiência energética, estamos falando em muito mais do que apenas conta de luz menos salgada no final do mês.
EcoD: Como é que funciona o Programa de Eficiência Energética do Sebrae?
Ricardo Wargas: Nós temos uma primeira questão, que é aumentar o nível de informação do micro e pequeno empresário com relação a forma como ele utiliza a energia. Me refiro a energia de uma forma geral, e não somente a elétrica. Consideramos todos os segmentos: indústria, comércio e serviços, que usam um verdadeiro leque de insumos, como energia elétrica, óleo combustível, lenha, gás, energia renovável. Então, em um primeiro momento, nós atuamos difundindo boas práticas no que diz respeito a eficiência da energia, visando demonstrar para o empresário que, por meio de mudanças de hábitos de consumo e formas de gerenciar o negócio, ele pode reduzir as perdas.
EcoD: De que forma isso é operacionalizado?
Ricardo Wargas: Nossa experiência demonstra que, em alguns segmentos, nós conseguimos identificar potenciais de redução do consumo de energia que podem chegar a 30%, 35%, 40% - vai depender do estado da empresa. Geralmente, nós temos um potencial a ser atingido, que está dividido em dois momentos: no que diz respeito as boas práticas, que costumam estar relacionadas a mudanças da forma de se gerenciar a energia, de contratar energia, além de procedimentos operacionais, podem resultar em economia de 10% a 15%. E as medidas que vão requerer investimento, mais profundidade de abordagem, que muitas vezes nos dão retorno em menos de um ano, através de uma parcela da energia diminuída. Então, nós desenvolvemos uma série de ações visando demonstrar para o empresário que o uso sustentável da energia pode ajudá-lo a melhorar a competitividade no mercado.
EcoD: Mostrando que ele vai sentir essa diferença no bolso?
Ricardo Wargas: A eficiência energética não está correlacionada, apenas, com a redução na conta da energia – que no final é o que o empresário sente mais. Não adianta falarmos apenas na abordagem da economia de energia. É preciso traduzir essa economia de energia em resultados econômicos para a empresa. Faz parte do nosso trabalho abordar de que forma as consequências da eficiência energética poderão repercutir no negócio. Melhoria na qualidade do produto, questões relacionadas ao ambiente de trabalho, impactos ambientais gerados pela atividade produtiva, seja na geração de resíduos, na emissão de partículas, enfim, são questões que nós procuramos quantificar para o empresário, de modo a sensibilizá-lo.
Nesta entrevista concedida ao portal EcoDesenvolvimento.org, o gerente da unidade de Inovação e Acesso a Tecnologia do Sebrae-RJ, Ricardo Wargas, explica como a instituição trabalha para incutir a importância da eficiência energética nas gestões das micro e pequenas empresas. O especialista vislumbra também um cenário promissor para o tema no Brasil em um futuro próximo, além de advertir: quando o assunto é eficiência energética, estamos falando em muito mais do que apenas conta de luz menos salgada no final do mês.
EcoD: Como é que funciona o Programa de Eficiência Energética do Sebrae?
Ricardo Wargas: Nós temos uma primeira questão, que é aumentar o nível de informação do micro e pequeno empresário com relação a forma como ele utiliza a energia. Me refiro a energia de uma forma geral, e não somente a elétrica. Consideramos todos os segmentos: indústria, comércio e serviços, que usam um verdadeiro leque de insumos, como energia elétrica, óleo combustível, lenha, gás, energia renovável. Então, em um primeiro momento, nós atuamos difundindo boas práticas no que diz respeito a eficiência da energia, visando demonstrar para o empresário que, por meio de mudanças de hábitos de consumo e formas de gerenciar o negócio, ele pode reduzir as perdas.
EcoD: De que forma isso é operacionalizado?
Ricardo Wargas: Nossa experiência demonstra que, em alguns segmentos, nós conseguimos identificar potenciais de redução do consumo de energia que podem chegar a 30%, 35%, 40% - vai depender do estado da empresa. Geralmente, nós temos um potencial a ser atingido, que está dividido em dois momentos: no que diz respeito as boas práticas, que costumam estar relacionadas a mudanças da forma de se gerenciar a energia, de contratar energia, além de procedimentos operacionais, podem resultar em economia de 10% a 15%. E as medidas que vão requerer investimento, mais profundidade de abordagem, que muitas vezes nos dão retorno em menos de um ano, através de uma parcela da energia diminuída. Então, nós desenvolvemos uma série de ações visando demonstrar para o empresário que o uso sustentável da energia pode ajudá-lo a melhorar a competitividade no mercado.
EcoD: Mostrando que ele vai sentir essa diferença no bolso?
Ricardo Wargas: A eficiência energética não está correlacionada, apenas, com a redução na conta da energia – que no final é o que o empresário sente mais. Não adianta falarmos apenas na abordagem da economia de energia. É preciso traduzir essa economia de energia em resultados econômicos para a empresa. Faz parte do nosso trabalho abordar de que forma as consequências da eficiência energética poderão repercutir no negócio. Melhoria na qualidade do produto, questões relacionadas ao ambiente de trabalho, impactos ambientais gerados pela atividade produtiva, seja na geração de resíduos, na emissão de partículas, enfim, são questões que nós procuramos quantificar para o empresário, de modo a sensibilizá-lo.
EcoD: E a informação é uma arma importante nesse sentido?
Ricardo Wargas: Sem dúvida. Realizamos uma série de eventos com esta finalidade: palestras, seminários, workshops, mesas-redondas. Distribuímos materiais maciçamente, no sentido de melhorar essa percepção do empresário.
EcoD: Não tem o empresário que vê essa tentativa com receio, sob a alegação de que já é difícil conseguir recursos para a sobrevivência do próprio micro e pequeno negócio, quanto mais para eficiência energética?
Ricardo Wargas: Sim, acontece constantemente. A fase de sensibilização é extremamente importante, para que haja uma aproximação. Então, se o empresário não perceber que ele não está gastando dinheiro, mas investindo, ele dificilmente vai avançar para as fases seguintes. Nesse sentido, uma abordagem setorial costuma dar mais resultado, pois além de demonstrarmos o quanto de ganho que o negócio pode ter, nós mostramos a importância de determinada prática para todo o segmento específico. Por exemplo, para o setor hoteleiro, nós podemos fazer a seguinte abordagem, por meio de indicadores: faça a eficiência energética que isso será equivalente a dez quartos ocupados no mês. Então, com uma unidade de medida, o empresário consegue perceber melhor.
Nós precisamos sempre estar atentos a três questionamentos do empresário: “o que eu ganho com isto?”, “quanto custa?” e “como é que eu faço?”. Quando ele faz essa última pergunta, o empresário nos sinaliza que está mais interessado, Ricardo Wargas.
EcoD: Qual é o próximo passo?
Ricardo Wargas: Passada esta primeira fase, na qual nós convencemos o empresário de que a eficiência energética é um bom negócio para ele, muitas vezes é alegado que ele não dispõe de condições de tomar todas as iniciativas, e que precisa de algum auxílio nosso. Aí sim nós entramos com essa linha de consultoria, que é o chamado “diagnóstico energético”. Nossa estratégia hoje é vinculá-lo por meio da grande linha de operação do sistema Sebrae, que é o Sebraetec. Essa linha permite, dentro de suas várias atividades, desenvolver a temática da eficiência energética. É um subsídio que o Sebrae oferece, até determinado patamar. O empresário da pequena empresa pode solicitar esse apoio. Através de uma rede de consultores e instituições conveniadas com o Sebrae, nós vamos disponibilizar esse auxílio tecnológico, de modo que o empresário tenha dentro de sua empresa um consultor especializado para fazer esse diagnóstico energético, que dá uma base para ele tomar as decisões sobre os investimentos, em termos de adotar as medidas.
EcoD: Quais são os setores envolvidos no programa de eficiência energética?
Ricardo Wargas: Nós temos a cerâmica vermelha, que trabalha com tijolo, telha; setor hoteleiro, alimentício (restaurantes, padarias); recauchutagem de pneus, salões de beleza, enfim, uma gama de segmentos. Algumas micro e pequenas empresas já têm adotado, inclusive energias renováveis em sua gestão, embora de maneira muito pontual, embrionária. No próprio setor hoteleiro já tem vários casos consagrados de utilização de energia solar térmica, mais usado para o aquecimento de água.
EcoD: Um dado interessante é que o Sebrae já tem um setor específico para tratar de eficiência energética desde 1979, quando a sustentabilidade ainda não era um "assunto da moda", não é mesmo?
Ricardo Wargas: Exato. A experiência pioneira é do Sebrae do Rio de Janeiro. Nessa época, o Sebrae ainda tinha "C", em vez de "S" (risos). O programa começou logo após o Brasil sofrer o segundo choque do petróleo. Naquela época, o foco era a substituição do óleo diesel, pois o país era um grande importador. Outra meta era otimizar o uso do óleo combustível para melhorar o rendimento das caldeiras nas fábricas. Era uma abordagem nos sistemas térmicos.
EcoD: E o que nos reserva o futuro em relação a eficiência energética?
Ricardo Wargas: Estou muito otimista quanto ao futuro por conta de dois marcos muito representativos. O primeiro é o PNE 2030, que é o Plano Nacional de Expansão do sistema energético. O sistema energético brasileiro é todo projetado a médio e longo prazo. Segundo esse plano, em 2030, 10% da demanda energética nacional projetada para tal período seria evitada por meio de ações de eficiência energética. Vai se exigir um esforço nacional, o que inclui políticas públicas, no sentido de que a eficiência energética contribua com a redução da necessidade de investimento. Portanto, trata-se de uma meta. Em paralelo a isso nós temos a Lei de Eficiência Energética, que foi promulgada em 2001, e está em fase de implementação. Aí, no ano passado, o Ministério de Minas e Energia foi em busca de uma ação mais concreta em termos de criar um programa nacional que visa desenvolver resultados para se chegar a esses 10%. Então foi criado o Pnef (Programa Nacional de Eficiência Energética). Um grupo de 75 especialistas foi convidado para discutir ações para se chegar a esta meta. O Pnef passou por consulta pública e pelo Conselho Nacional de Política Energética e vai ser promulgado pelo ministro [Edison Lobão]. Então, o mercado está muito otimista, porque vai surgir uma abertura para empresas de consultoria e fabricantes, por exemplo.
EcoD: O que está faltando para o panorama atual sobre o tema ficar melhor?
Ricardo Wargas: O diagnóstico que nós fazemos é que, no mercado das micro e pequenas empresas, faltam alguns atores quando o assunto é a eficiência energética. A questão do financiamento, por exemplo. Hoje, o microempresário que quer aplicar a eficiência energética precisa recorrer a uma linha tradicional, seguir aqueles caminhos tradicionais de obtenção de crédito. Dentro do Pinef, nós batalhamos e conseguimos que um capítulo específico sobre as micro e pequenas empresas fosse criado dentro do programa. É preciso que o poder público entre em cena também, mas estamos otimistas.
Mais informações no site do programa ou pelo telefone: 0800 570 0800
Ricardo Wargas: Sem dúvida. Realizamos uma série de eventos com esta finalidade: palestras, seminários, workshops, mesas-redondas. Distribuímos materiais maciçamente, no sentido de melhorar essa percepção do empresário.
EcoD: Não tem o empresário que vê essa tentativa com receio, sob a alegação de que já é difícil conseguir recursos para a sobrevivência do próprio micro e pequeno negócio, quanto mais para eficiência energética?
Ricardo Wargas: Sim, acontece constantemente. A fase de sensibilização é extremamente importante, para que haja uma aproximação. Então, se o empresário não perceber que ele não está gastando dinheiro, mas investindo, ele dificilmente vai avançar para as fases seguintes. Nesse sentido, uma abordagem setorial costuma dar mais resultado, pois além de demonstrarmos o quanto de ganho que o negócio pode ter, nós mostramos a importância de determinada prática para todo o segmento específico. Por exemplo, para o setor hoteleiro, nós podemos fazer a seguinte abordagem, por meio de indicadores: faça a eficiência energética que isso será equivalente a dez quartos ocupados no mês. Então, com uma unidade de medida, o empresário consegue perceber melhor.
Nós precisamos sempre estar atentos a três questionamentos do empresário: “o que eu ganho com isto?”, “quanto custa?” e “como é que eu faço?”. Quando ele faz essa última pergunta, o empresário nos sinaliza que está mais interessado, Ricardo Wargas.
EcoD: Qual é o próximo passo?
Ricardo Wargas: Passada esta primeira fase, na qual nós convencemos o empresário de que a eficiência energética é um bom negócio para ele, muitas vezes é alegado que ele não dispõe de condições de tomar todas as iniciativas, e que precisa de algum auxílio nosso. Aí sim nós entramos com essa linha de consultoria, que é o chamado “diagnóstico energético”. Nossa estratégia hoje é vinculá-lo por meio da grande linha de operação do sistema Sebrae, que é o Sebraetec. Essa linha permite, dentro de suas várias atividades, desenvolver a temática da eficiência energética. É um subsídio que o Sebrae oferece, até determinado patamar. O empresário da pequena empresa pode solicitar esse apoio. Através de uma rede de consultores e instituições conveniadas com o Sebrae, nós vamos disponibilizar esse auxílio tecnológico, de modo que o empresário tenha dentro de sua empresa um consultor especializado para fazer esse diagnóstico energético, que dá uma base para ele tomar as decisões sobre os investimentos, em termos de adotar as medidas.
EcoD: Quais são os setores envolvidos no programa de eficiência energética?
Ricardo Wargas: Nós temos a cerâmica vermelha, que trabalha com tijolo, telha; setor hoteleiro, alimentício (restaurantes, padarias); recauchutagem de pneus, salões de beleza, enfim, uma gama de segmentos. Algumas micro e pequenas empresas já têm adotado, inclusive energias renováveis em sua gestão, embora de maneira muito pontual, embrionária. No próprio setor hoteleiro já tem vários casos consagrados de utilização de energia solar térmica, mais usado para o aquecimento de água.
EcoD: Um dado interessante é que o Sebrae já tem um setor específico para tratar de eficiência energética desde 1979, quando a sustentabilidade ainda não era um "assunto da moda", não é mesmo?
Ricardo Wargas: Exato. A experiência pioneira é do Sebrae do Rio de Janeiro. Nessa época, o Sebrae ainda tinha "C", em vez de "S" (risos). O programa começou logo após o Brasil sofrer o segundo choque do petróleo. Naquela época, o foco era a substituição do óleo diesel, pois o país era um grande importador. Outra meta era otimizar o uso do óleo combustível para melhorar o rendimento das caldeiras nas fábricas. Era uma abordagem nos sistemas térmicos.
EcoD: E o que nos reserva o futuro em relação a eficiência energética?
Ricardo Wargas: Estou muito otimista quanto ao futuro por conta de dois marcos muito representativos. O primeiro é o PNE 2030, que é o Plano Nacional de Expansão do sistema energético. O sistema energético brasileiro é todo projetado a médio e longo prazo. Segundo esse plano, em 2030, 10% da demanda energética nacional projetada para tal período seria evitada por meio de ações de eficiência energética. Vai se exigir um esforço nacional, o que inclui políticas públicas, no sentido de que a eficiência energética contribua com a redução da necessidade de investimento. Portanto, trata-se de uma meta. Em paralelo a isso nós temos a Lei de Eficiência Energética, que foi promulgada em 2001, e está em fase de implementação. Aí, no ano passado, o Ministério de Minas e Energia foi em busca de uma ação mais concreta em termos de criar um programa nacional que visa desenvolver resultados para se chegar a esses 10%. Então foi criado o Pnef (Programa Nacional de Eficiência Energética). Um grupo de 75 especialistas foi convidado para discutir ações para se chegar a esta meta. O Pnef passou por consulta pública e pelo Conselho Nacional de Política Energética e vai ser promulgado pelo ministro [Edison Lobão]. Então, o mercado está muito otimista, porque vai surgir uma abertura para empresas de consultoria e fabricantes, por exemplo.
EcoD: O que está faltando para o panorama atual sobre o tema ficar melhor?
Ricardo Wargas: O diagnóstico que nós fazemos é que, no mercado das micro e pequenas empresas, faltam alguns atores quando o assunto é a eficiência energética. A questão do financiamento, por exemplo. Hoje, o microempresário que quer aplicar a eficiência energética precisa recorrer a uma linha tradicional, seguir aqueles caminhos tradicionais de obtenção de crédito. Dentro do Pinef, nós batalhamos e conseguimos que um capítulo específico sobre as micro e pequenas empresas fosse criado dentro do programa. É preciso que o poder público entre em cena também, mas estamos otimistas.
Mais informações no site do programa ou pelo telefone: 0800 570 0800
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