Balanço ecológico é favorável ao setor de cimento no Brasil

Arnaldo Forti Battagin, gerente dos laboratórios da ABCP, afirma que indústria cimenteira do país é referência para o mundo em inovações ambientais
Por: Altair Santos

Um setor que tem índice de conformidade às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) de quase 100% e que investe maciçamente em seu parque industrial, sobretudo em inovações voltadas ao meio ambiente. É assim que se comporta a indústria nacional de cimento, como revela a entrevista com o gerente dos laboratórios da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) Arnaldo Forti Battagin. Segundo ele, as cimenteiras do país são hoje referência mundial, além de tornarem-se estratégicas para o desenvolvimento econômico do Brasil. Confira:
 
Arnaldo Forti Battagin: “É tradição do cimento brasileiro primar pela qualidade.”

O cimento brasileiro é um dos produtos de mais alta qualidade produzido no país. Pelo PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat) atingiu índice de conformidade de 99,6%. A que se deve essa excelência do produto?
Sem dúvida esses números foram conseguidos pela cultura da qualidade estabelecida no setor de cimento há muito tempo. Quando se fala sobre conformidade, o termo se refere à conformidade às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e é necessário esclarecer que as primeiras normas da ABNT, envolvendo todos os setores, foram sobre cimento. São as antigas EB-1 e MB-1 – Especificação de cimento e Métodos de ensaio de cimento -, respectivamente. Portanto, é tradição do cimento brasileiro primar pela qualidade.
Além do PBQP-H e das normas da ABNT, existe também o selo de qualidade da ABCP. O que esse selo exige para que uma empresa possa conquistá-lo?
Existe um procedimento que regula a concessão do selo e a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) usa o modelo 5 da ISO. Na verdade, o selo é concedido ao produto e não à empresa, e para consegui-lo essa empresa precisa ser associada da ABCP e evidenciar conformidade de seu cimento às normas da ABNT. Em linhas gerais, isso é feito através de amostragens periódicas de cimento nas próprias fábricas, geralmente feitas por órgãos coletores, qualificados pela ABCP. Essas amostras são divididas e uma parte é analisada na fábrica e outra na ABCP ou no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Os resultados são confrontados e não havendo diferenças significativas servem para avaliar os resultados do autocontrole. Esse autocontrole consiste na análise diária de todo cimento produzido e a cada 45 dias o conjunto desses resultados de análise – no jargão, conhecido como mapão de autocontrole. Os resultados são enviados à ABCP, para tratamento estatístico, que decide pela continuidade ou não da concessão do selo de qualidade ABCP para cimento Portland.
Hoje todas as cimenteiras do Brasil estão adequadas à ABNT, ao PBQP-H e têm o selo de qualidade da ABCP?
Os sites dessas entidades indicam quais produtos possuem esse diferencial, mas o importante para o consumidor é ter a garantia de que estão adquirindo um produto que tenha um selo ou marca de conformidade concedida por uma entidade idônea.
Em quais áreas a indústria cimenteira mais investiu recentemente: tecnologia para melhorar o produto, equipamentos para fazer o controle ambiental ou na expansão de seus pólos industriais?
Os investimentos vêm progredindo ao longo do tempo. Tanto, que hoje o setor apresenta um parque industrial moderno, que opera com 99% dos fornos pelo sistema via seca, o que garante a diminuição do uso de combustíveis em até 50%. Além disso, os altos níveis de eficiência energética são conseguidos com pré-aquecedores e pré-calcinadores que reaproveitam os gases quentes da saída do forno para pré-aquecer a matéria-prima, previamente à entrada do forno, diminuindo o consumo de combustíveis. Multiqueimadores desenvolvidos para queima simultânea de combustíveis alternativos e convencionais (coque de petróleo, óleo combustível e carvão mineral e vegetal), sistemas de filtro de alto desempenho, monitoramento on line de gases para controle ambiental e do processo fazem com que sejam praticados índices específicos de consumo térmico médio de 2730 MJ/t de cimento (653 kcal/kg ou 825 kcal/kg de clínquer). Adicionalmente, graças aos moinhos e separadores de alta eficiência, o consumo elétrico de 107 kWh/t de cimento, atingiram metas que são reconhecidas como parâmetros de referência em âmbito mundial segundo a Agência Internacional de Energia.
A indústria do cimento no Brasil, comparado com outros setores, emite bem pouco CO₂. No entanto, sempre é citada como uma das vilãs quando o assunto é agressão ao meio ambiente. Por que ela não consegue ser excluída deste grupo? Falta mais divulgação das ações, no que se refere ao controle ambiental?
Não acredito que deva ser considerada vilã, mas é necessário reconhecer que a fabricação de cimento gera impactos ambientais. Isso não é exclusividade do setor, mas de toda a cadeia da construção, como a produção de agregados, a indústria da cal, da areia, do aço, dos aditivos químicos e das tintas. Ao mesmo tempo, essa mesma indústria da construção é considerada um dos principais indicadores de desenvolvimento de uma nação, representando o crescimento real das áreas urbanas, organização e reorganização dos sistemas de infraestrutura  e obras necessárias ao desenvolvimento social. O cimento, através do concreto, está presente nesse processo como o material mais produzido e utilizado nas construções brasileiras, sendo empregado em edificações, pontes, estradas, barragens e outros tipos de obras.  Resumindo, seu uso crescente implica também em atividades impactantes, assim como o próprio desenvolvimento econômico de um país gera situações de impacto ao ambiente. Enfrentar esse desafio é um dever de todo o setor da construção civil. Neste sentido, a ABCP, como representante dos fabricantes de cimento, procura cumprir seu papel ao promover boas práticas e difundir o conhecimento sobre vantagens competitivas do concreto, novas tecnologias e prevenção de patologias, que visam o aumento da durabilidade e da vida útil das estruturas de concreto, com o objetivo de reduzir o consumo de matérias-primas, a geração de poluentes, o consumo energético e os custos adicionais com reparos, renovação e manutenção das construções. E assim demonstrar que o balanço ecológico é favorável para o setor de cimento.
No universo acadêmico brasileiro, o cimento é objeto de pesquisas ou são incipientes os estudos sobre o produto nos centros de pesquisa das universidades?
Para responder essa questão torna-se oportuno esclarecer que diferentemente do concreto, cuja inovação é bastante visível, com pesquisas acadêmicas que resultaram no aparecimento dos concretos de pós-reativos, concretos de elevadíssimas resistências, concretos autolimpantes, concretos autoadensáveis, o cimento Portland, como material, já atingiu um alto patamar de qualidade e competitividade e de tecnologia de fabricação. O grande desafio que ora se configura para a indústria de cimento mundial é a diminuição das emissões dos gases de efeito estufa, principalmente o CO₂, por fazer parte do processo de fabricação desse insumo. Portanto as inovações ou pesquisas têm se direcionado à mitigação das emissões de CO₂. Embora existam importantes pesquisas em várias universidades brasileiras, elas são essencialmente pontuais. A universidade não vem contribuindo efetivamente para o tema.
Em termos de inovação, o que a indústria cimenteira brasileira tem feito para melhorar os agregados do cimento e aproveitar os resíduos na fabricação do produto?
A geração de resíduos representa um dos maiores desafios para a sociedade contemporânea. Atenta a essa questão, a indústria de cimento está utilizando seus fornos para a eliminação de resíduos industriais, numa atividade conhecida como coprocessamento. Para praticar o coprocessamento vem fazendo investimentos constantes para adaptar o processo produtivo para uso dos resíduos, quer como combustível alternativo quer como substituto de matéria-prima. Além dos benefícios ao meio ambiente, a atividade contribui para a economia de combustíveis fósseis e recursos naturais não renováveis, possibilita o melhor aproveitamento das matérias-primas, gera expressiva quantidade de empregos diretos e indiretos. O coprocessamento representa uma integração ambientalmente segura dos resíduos industriais com o processo de elaboração do cimento e é regulamentada, em nível nacional, pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). É uma alternativa economicamente competitiva com relação à disposição em aterros e incineração, e, ao contrário desses, se caracteriza pela destruição total de grandes volumes de resíduos, sem geração de novos passivos ambientais. Isso está contemplado como técnica de gestão ambiental na nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada pelo governo em agosto de 2010. Os principais resíduos coprocessados como combustíveis nas fábricas são: pneus, resíduos de tecidos, plásticos, misturas de resíduos sólidos das indústrias petroquímica, química, automobilística, siderúrgica, de alumínio, de embalagens e celulose, mistura de resíduos pastosos da indústria química e petroquímica, como borras de tintas; líquidos e outros. Como substituto de matéria-prima: resíduos das indústrias de alumínio e siderúrgica, solos contaminados, lamas de estação de tratamento de esgotos e similares.
Recentemente, por causa da alta demanda de consumo no Brasil, algumas grandes construtoras importaram cimento, principalmente o chinês. Além disso, algumas cimenteiras também importaram clínquer. Esse cimento vindo de fora, assim como o clínquer, tem qualidade ambiental?
Desconheço o assunto no que diz respeito à qualidade ambiental, pois a questão é inerente ao país de origem. O que a ABCP tem feito, efetivamente, é monitorar a qualidade desses cimentos importados pelas nossas associadas. Posso afirmar que eles são comparáveis aos cimentos brasileiros.
Comparado com o cimento produzido em outros países, dá para dizer que o cimento brasileiro é o mais ambientalmente correto do mundo?
Indubitavelmente a indústria do cimento no Brasil tem sido referência mundial na questão ambiental em publicações da Agência Internacional de Energia e da CSI, do WBCSD, sigla em inglês da Iniciativa de Sustentabilidade do Cimento do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. Os números e gráficos a seguir economizam as palavras. De fato as figuras 1 e 2 apresentam a comparação dos índices de eficiência pelos vários países segundo dados referentes a 2003, compilados pelo SNIC (2009).


Figura 1 – Consumo comparativo de energia elétrica na produção de cimento (SNIC, 2009).


Figura 2 – Consumo comparativo de energia térmica na produção de cimento (SNIC, 2009).

A Figura 3 mostra que a indústria de cimento no Brasil apresenta um dos menores índices de emissão específica de CO₂: ou seja, aproximadamente 620 kg/tonelada de cimento, constituindo referência mundial do setor.

Figura 3– Comparação das taxas de emissão de CO2 no período 1990 a 2008 (WBCSD-CSI, 2009)

Entrevistado
Arnaldo Forti Battagin, gerente dos laboratórios da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Currículo

- Geólogo pelo Instituto de Geociências da USP (1974)
- Gerente dos laboratórios da ABCP
- Especialista nas áreas de tecnologia básica de cimento e concreto, durabilidade do concreto, técnicas experimentais e gestão da qualidade
- Representante da ABCP  nas comissões de estudos de normalização da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
- Autor e co-autor de mais de 60 trabalhos técnico-científicos publicados em revistas e congressos nacionais e internacionais
-  Membro e representante da ABCP no Conselho Diretor do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON).
Contato:
arnaldo.battagin@abcp.org.br
Crédito: Divulgação/ABCP
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
 Fonte: Cimento Itambé

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