Ser sustentável é mais trabalhoso do que parece

Para Rebecca Henderson, referência em sustentabilidade empresarial, estratégias ambientais podem transformar negócios — desde que cuidadosamente definidas

Por Renata Vieira

                         (Divulgação/Ser sustentável é mais trabalhoso do que parece
                          Revista EXAME)

São Paulo – Depois de uma década no renomado instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, onde deu aulas sobre o papel da tecnologia nos negócios, e há quase sete anos como professora na escola de negócios da Universidade Harvard, a engenheira britânica Rebecca Henderson está hoje à frente da Iniciativa de Negócios e Meio Ambiente da instituição. 

Trata-se de um grupo que auxilia executivos a desenvolver estratégias que lhes permitam superar desafios ambientais.

Segundo a especialista, metas genéricas em várias frentes — água, resíduos e emissões, entre outras — tendem a fracassar. 

Em vez disso, é preciso identificar oportunidades reais de ganhos de acordo com a especificidade do negócio.

Em seu último livro, Leading Sustainable Change: An Organizational Perspective(numa tradução livre, “Liderando uma mudança sustentável: uma perspectiva organizacional”), ela defende que negócios baseados em investimentos sustentáveis já se provaram bem-sucedidos, mas que muitas empresas não conseguem aplicá-los por causa de executivos descomprometidos com o tema, processos internos pouco eficientes e ausência de propósito. Rebecca virá a São Paulo em novembro para o evento HSM ExpoManagement, e, de Boston, falou a EXAME por telefone.

EXAME: Existe uma estratégia de sustentabilidade básica que se aplique a qualquer empresa?

Rebecca Henderson: Não há, absolutamente, nenhuma estratégia genérica que funcione. 

Toda empresa precisa pensar meticulosamente na sustentabilidade com base em suas características. 

Para algumas companhias, sustentabilidade diz respeito aos fornecedores, ou seja, garantir que vão ter os insumos e serviços de que precisam no curto e no longo prazo. 

No agronegócio, as mudanças climáticas tornaram a produção sustentável um imperativo de sobrevivência e de crescimento.

Já as empresas de bens de consumo precisam estar atentas ao que pode ser associado à imagem de suas marcas. 

Há ainda os casos em que essa estratégia diz respeito à inovação e ao preço: negócios como o site Airbnb, de aluguel de casas e apartamentos, tornaram-se multibilionários ao encontrar clientes por meio de caminhos inusitados e disruptivos.

EXAME: A senhora diz que há modelos de negócios que, baseados na sustentabilidade, podem elevar a lucratividade das empresas. Que modelos são esses?

Rebecca Henderson: Um deles está centrado na eficiência operacional, isto é, no uso de sistemas inteligentes de gestão que permitem economizar insumos, como combustíveis. 

O varejista Walmart hoje consegue economizar 1 bilhão de dólares por ano em sua rede logística dessa maneira.

Outro modelo nasce de uma boa política de prevenção e gestão de riscos. 

Temos visto muitas empresas em busca de insumos de origem sustentável — como óleo de palma, soja, couro e carne bovina. 

O objetivo delas é proteger suas marcas das polêmicas que giram em torno dessas matérias-primas, que pode lhes custar muito. 

Há ainda aquelas cujos produtos sustentáveis estão no cerne do negócio. 

É o caso do varejista Whole Foods e da fabricante de carros elétricos Tesla.

EXAME: Esses exemplos são casos isolados ou podemos falar em uma tendência?

Rebecca Henderson: O caso da fabricante de bens de consumo Unilever é emblemático. 

Em 2010, para evitar ter sua marca de chás Lipton associada a questões como desmatamento e violações dos direitos humanos, ela se comprometeu a vender apenas chá de origem certificada. 

Já havia ali um entendimento de que não se posicionar sobre o tema poderia fazê-la perder uma parcela de seu mercado. 

A empresa atualmente responde por cerca de 30% das vendas de chá em vários países do mundo.

Quando essa decisão foi tomada, não estava muito claro de que maneira isso era um bom negócio. 

Mais tarde, porém, os executivos da empresa descobriram que era possível ampliar sua participação em mercados estratégicos, como Itália e Índia, uma vez que esse tipo de mensagem, de fato, atrai o consumidor de hoje. 

Conclusão: num negócio com pouquíssima margem para diferenciação — um saquinho de chá é apenas um saquinho de chá —, a Unilever se deu muito bem.

EXAME: A correlação entre sustentabilidade e lucro ainda não é um consenso. Estamos perto de comprovar isso?

Rebecca Henderson: As muitas pesquisas feitas nos últimos anos nessa seara sugerem que empresas movidas por um propósito podem ser mais produtivas e inovadoras do que suas concorrentes. 

Mas, se a pergunta é se já existe uma evidência indiscutível de que uma empresa orientada pela premissa da sustentabilidade lucra mais, a resposta é: não, essa evidência ainda não existe. 

Por outro lado, também não há evidência indiscutível de que a sustentabilidade diminui a lucratividade, o que é uma ótima notícia. 

Afinal, estamos falando de empresas que estão fazendo a coisa certa sem perder dinheiro por isso.

EXAME: A senhora associa propósito e sustentabilidade. Mas para muitos executivos, propósito é um conceito etéreo. Como torná-lo mais concreto?

Rebecca Henderson: Uma empresa movida por um propósito é aquela que tem objetivos que ultrapassam a maximização do lucro. 

E há uma correlação direta entre propósito e cultura de uma companhia — e é isso que vai determinar quanto a visão de sustentabilidade permeia um negócio ou não. 

Prova disso é o fato de que um dos aspectos mais importantes para a produtividade nas empresas é o engajamento dos funcionários — e isso depende de altos níveis de confiança entre chefes e equipes.

Em empresas nas quais o nível de confiança é muito baixo, os funcionários são menos previsíveis, menos produtivos e, por consequência, menos confiáveis. 

Acredito que é possível gerir esses ambientes de maneira diferente — e isso passa por um relacionamento transparente com funcionários e fornecedores. 

Em outras palavras, isso tem a ver com cultura — um conceito difícil, mas importante no mundo dos negócios. 

É preciso mostrar que há uma correlação clara entre os valores de fundação de uma empresa e seu desempenho.

EXAME: Há setores que estão mais aptos que outros a fazer essa transição para modelos de negócios sustentáveis?

Rebecca Henderson: Empresas de agronegócio, de bens de consumo e, sobretudo, de energia estão liderando esse movimento. 

Algumas das maiores companhias de energia do mundo têm sido bastante sistemáticas em seus investimentos em fontes renováveis. 

Ao mesmo tempo em que respondem a desafios ambientais, sobretudo ao aquecimento global, essas empresas estão reduzindo o risco associado a seu portfólio — e antecipando mudanças regulatórias previstas, como a taxação do carbono.

É claro que, com isso, não quero dizer que uma petroleira como a Chevron vai se transformar na nova Patagonia (empresa americana de artigos esportivos que desincentiva o consumo desenfreado).

EXAME: Empresas sustentáveis tendem a ser mais inovadoras?

Rebecca Henderson: Uma das vantagens estratégicas da sustentabilidade é o potencial que esse tema tem de se desdobrar em inovações. 

Ela gera novos mercados, novos produtos, novos tipos de cliente, diferentes fontes de lucro. 

Em empresas movidas por um propósito — e não só por lucro — o nível de abertura à inovação tende a ser mais alto. 

Isso lhes rende uma capacidade muito maior de lidar com dificuldades e conflitos gerados por mudanças drásticas, a exemplo do que aconteceu recentemente com os mercados de transporte e hotelaria.

Não quero com isso dizer que toda companhia pode lucrar muito por meio de estratégias de sustentabilidade, mas que isso é um caminho para muitas delas. 

As empresas de energia Schneider Electric e General Electric são bons exemplos: hoje constroem negócios bilionários a partir da demanda por eficiência energética.

Estratégias sólidas para os negócios sustentáveis

Marina Grossi, presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) defende que novas formas de mensuração do valor da sustentabilidade ainda precisam ser incorporadas em níveis empresarial e governamental para aumentar o estímulo á economia de baixo carbono.


26/10/2016 – Economista, Marina Grossi assumiu a presidente do CEBDS em 2010. No CEBDS desde 2005, ela atuou como diretora-executiva e coordenadora das Câmaras Temáticas de Mudança do Clima e Energia, Construção Sustentável e Finanças Sustentáveis. 

Possui um vasto currículo ligado á área governamental, atuando como negociadora do Brasil na Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP do Clima) entre 1997 a 2001, e como coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003. 

Participou das negociações do Protocolo de Kyoto e representou o Grupo dos 77 (G77) mais China na área de Mecanismo Financeiro na COP 6 ½ (segunda fase da COP 6) que ocorreu em Bonn, na Alemanha.

Com sua abrangente experiência no setor de sustentabilidade, como avalia a evolução deste tema?

A sustentabilidade está passando a ser vista de maneira mais estratégica, como um elemento de competitividade. 

Neste cenário, as empresas já entenderam que sustentabilidade não é custo, e, sim, investimento e lucro. 

Os retornos podem ser de médio a longo prazos, mas os benefícios em reputação e competitividade são notáveis.

No entanto, novas formas de mensuração deste valor da sustentabilidade ainda precisam ser incorporadas, tanto em nível empresarial quanto no governamental. 

É essencial que haja um maior estímulo à economia de baixo carbono, tanto por meio de soluções de negócios quanto pela construção de um ambiente regulatório mais favorável.

O Brasil é protagonista em várias áreas, como florestas, biodiversidade, energias renováveis, biocombustíveis e eficiência energética. 

O CEBDS, juntamente com o parceiro global World Business Council for Sustainable Development, está trabalhando nesses temas e trazendo para o Brasil a discussão e o desenvolvimento de soluções que desenvolvam e deem escala à tecnologias de baixo carbono que contribuem, de maneira considerável, a solucionar esse problema global da mudança do clima.

Ainda temos muitas barreiras a superar, mas temos condições de avançar bastante. 

Para isso, é essencial que sustentabilidade e desenvolvimento sejam pensados de forma integrada, promovendo a realização de projetos de médio e longo prazos. 

A adoção dos princípios e práticas de sustentabilidade depende desta integração. O futuro das empresas, do governo e da sociedade é o mesmo, as agendas não podem ser pensadas separadamente.

O CEBDS acaba de completar 19anos e tem uma história marcada pelo incentivo às boas práticas ambientais e conquistas positivas em prol da implementação da Economia Verde no Brasil. Quais as expectativas da entidade para os próximos anos?

É possível perceber que as empresas evoluíram muito nos últimos 20 anos, de vilãs a agentes estratégicos nesse processo de transição para o desenvolvimento sustentável. A partir de agora, é preciso avançar para a implementação porque o discurso da sensibilização já passou.

Nos próximos anos, o CEBDS trabalhará para dar ganho de escala às boas práticas do mercado e para construir junto com o poder público propostas de regulação que favoreçam a economia verde. 

Sem políticas públicas de governo, não haverá um salto de qualidade nas ações de sustentabilidade.

Este ano, o CEBDS realizou a primeira edição do Fórum Água 2016, num momento crucial em que toda a sociedade deve combater a crise hídrica. Qual a posição da entidade em relação ao reuso de água na indústria e uso de tecnologias que ajudem na gestão dos recursos hídricos?

O Fórum Água 2016 promoveu o debate dos principais desafios enfrentados pelo setor empresarial na gestão dos recursos hídricos, além de estratégias de sucesso para superá-los, entre as abordadas estava a questão do reuso.

Um tema importante, porque cada vez mais empresas investem no reuso como alternativa para redução do volume de captação de água tratada, gerando economia e minimizando riscos durante a escassez, tanto do ponto de vista operacional quanto do ponto de vista de conflitos com a sociedade.

Porém, ainda há uma grande carência de normais legais que incentivem a sua adoção, assim como produtos financeiros que beneficiem empresas que investem nessa prática, além da necessidade de maior regulamentação sobre os diversos usos para essas águas. 

Esses fatores são importantes para permitir o desenvolvimento de um mercado consolidado de água de reuso.

O CEBDS defende duas grandes bandeiras no que tange ao reuso: a necessidade de mecanismos financeiros que estimulem a adoção dessas práticas e tecnologias, como é o caso do incentivo previsto pelo Projeto de Lei – PLS 12/14, que prevê a redução de impostos e taxas de produção/importação de equipamentos.

A segunda grande bandeira é a defesa pela regulamentação federal para os diversos aproveitamentos das águas de reuso, com vias a não só viabilizar o uso interno pelas empresas, mas também criar um mercado de vendas dessas águas, tanto para águas de processo como até mesmo água potável.

Como exemplo, temos o caso da Ambev, empresa associada ao CEBDS, que visando reduzir o uso da matéria prima, entre 2002 e 2013, a empresa diminuiu em mais de 38% a captação de água em suas unidades, tornando-se referencia internacional. 

No Maranhão, a empresa reduziu o descarte de efluentes para o Rio Pedrinhas em 72% com o projeto de reutilização dos efluentes em parceria com a Alumar.

Os desafios da mudança do clima também exigem uma agenda mais proativa do setor industrial e o CEBDS tem atuado diretamente em encontros mundiais, como a COP 21, em Paris. Quais os riscos e oportunidades para o Brasil e suas empresas?

O setor empresarial reconhece que a implementação do Acordo de Paris requer avanços expressivos em áreas específicas, como a de energias renováveis. 

Mas tanto no que se refere à meta global quanto às demais, vemos como principal ponto crítico para o Brasil a definição dos meios pelos quais as metas serão implementadas.

Para o CEBDS e suas associadas, será fundamental definir regras adequadas para a implementação das medidas, de modo a garantir, na prática, que o país alcance os objetivos propostos. 

O setor privado está disposto e empenhado em trabalhar junto com o governo para que a ambição brasileira se torne realidade, contribuindo efetivamente para a retomada do crescimento econômico em termos mais sustentáveis e para a pavimentação do caminho rumo à economia brasileira de baixo carbono.

Consideramos que a participação do setor empresarial é fundamental para que todas as metas apresentadas sejam não apenas implementadas, mas também monitoradas, e se transformem em realidade. 

O anúncio feito ano passado pelo governo brasileiro deve ser lido como um ponto de partida, e não de chegada para que o país retome o seu crescimento em termos mais sustentáveis e desenvolva uma economia de baixo carbono.

O novo acordo deverá conter mecanismos que promovam a geração de novas tecnologias e a transferência de tecnologias entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, fomentando a redução de emissões.

É necessário enxergar a implementação da meta como uma grande oportunidade. Uma oportunidade de gerar desenvolvimento, uma vez que serão necessários investimentos de grande porte em infraestrutura com empreendimentos de geração de energia renovável.

É também um momento para se repensar processos produtivos, buscando uma maior eficiência no consumo de energia, e buscando de forma contundente zerar o desmatamento ilegal no país.

É latente que para nos desenvolvermos de forma sustentável, tanto em termos econômicos quanto sociais e ambientais, precisamos acabar com esse tipo de questão. 

Então, o que o Brasil precisa fazer é, de fato, reconhecer que a busca por alcançar as metas contidas na sua Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida (INDC), que em abril se tornou NDC com a ratificação do acordo, deve ser uma grande motivação para desviar dos prognósticos negativos que temos para país nos próximos anos.

O Brasil, como uma das 10 maiores economias do mundo e 12º maior emissor, segundo o Global Carbon Atlash, tem um papel crucial na busca pela redução das emissões globais. 

Ainda que sua trajetória não tenha sido altamente emissora, como a dos países desenvolvidos, quando se fala sobre mudanças climáticas é necessário pensar em um futuro de longo prazo.

Pensamos em horizontes até 2050 e 2100. Precisamos nos desenvolver para que todos os brasileiros tenham condições dignas de vida, mas não podemos nos tornar grandes emissores. 

Precisamos, portanto, nos desenvolver dentro desta nova lógica que irá reger a economia global, ou seja, emitindo o mínimo de carbono possível.

O documento Visão Brasil 2050, lançado pelo CEBDS com o apoio de mais de 70 das maiores empresas brasileiras, na Rio+20, visa que o Brasil seja uma potencial verde nos próximos 40 anos. Como estão sendo estruturadas as ações para alcançar esse objetivo? De que forma as empresas estão contribuindo para o alcance das metas?

Depois do lançamento durante a Rio+20 do Visão Brasil 2050, documento prospectivo que tem o propósito de apresentar uma visão de futuro sustentável e qual o caminho possível para alcançá-lo, nosso desafio tem sido pensar nas ações que precisamos fazer para a transição para futuro que a desejamos.

Junto com as 70 empresas associadas, o CEBDS está trabalhando no projeto “Do visão 2050 à Ação 2020”, que consiste em um plano de ação com objetivos claros para 2020, ações e indicadores.

O plano foi construído por meio de três passos principais, sendo que o primeiro foi a identificação dos Must Haves de cada tema. Must Have é uma meta quantificável e verificável que precisa ser atingida até o final da década em cada um dos temas.

O segundo passo é a identificação das ações necessárias, por parte do setor empresarial, para que os Must Haves sejam alcançados.

Por fim, é necessária a identificação dos indicadores de monitoramento das ações das empresas, com a finalidade de verificar se estamos no caminho certo para alcançarmos as metas propostas.

O Ação 2020 é um instrumento importante para unir as agendas da sustentabilidade e do desenvolvimento.

A evolução do mercado ambiental estimula um mercado importante, que necessita de profissionais qualificados. Temos condições de atender essa demanda? Existem oportunidades para esses profissionais no mercado de trabalho? O CEBDS tem alguma ação voltada para esse assunto?

Creio que temos um mercado bastante qualificado que cada vez mais cresce no Brasil. O CEBDS acredita e estimula que mais empresas se preocupem com o desenvolvimento sustentável do seu negócio.

Um relatório divulgado no começo desse ano prevê que a adoção de modelos produtivos mais sustentáveis pode gerar de 15 milhões a 60 milhões de empregos até 2030 em todo o mundo. 

Não à toa, diversas escolas de negócio estão falando sobre a sustentabilidade já há algum tempo, e, mais recentemente, diversas escolas de estudos socioambientais perceberam a importância dos negócios para que o desenvolvimento sustentável possa ser alcançado.

Além disso, há já diversas ações dentro das empresas para que os profissionais se capacitem e se informem cada vez mais nas temáticas relacionadas à sustentabilidade empresarial – a Universidade Corporativa Brasil Kirin e a EY University são exemplos dessas práticas.

O CEBDS atua justamente fortalecendo essa diretriz da sustentabilidade corporativa não como um “anexo” da empresa, mas, sim, fazendo parte de uma estratégia sólida do negócio como um todo – inclusive ao capacitar os profissionais de outras áreas da empresa nesta direção.

Fonte: Revista Meio Ambiente Industrial

Alimentos orgânicos e produzidos com energia solar! Cooperativas do PR participam de projeto-piloto

    Por 
    Em Energia

Além de aquecer, em breve, o sol também poderá servir para produzir energia em trêspropriedades rurais do oeste do Paraná. 

É que elas farão parte de um estudo inédito para analisar a viabilidade técnica e econômica da produção de energia elétrica no campo, a partir de painéis fotovoltaicos.

A expectativa é que os resultados sirvam de base para a elaboração de políticas públicas de incentivo à energia solar no meio rural.

Quem irá selecionar as propriedades que receberão os módulos fotovoltaicos serão ascooperativas da região que integram o convênio. 

A Itaipu Binacional, o Programa Oeste em Desenvolvimento, o Sistema Ocepar, o Sebrae e a Fundação Parque Tecnológico Itaipu também participarão da escolha.

Cada uma das três propriedades-piloto receberá uma cobertura de 180 m² de módulos fotovoltaicos, que deverão dar conta de produzir 2 MWh de energia por mês.

Com expectativa de duração de três anos, a pesquisa será feita por quatro doutores doCentro de Energia Solar da PUC do Rio Grande do Sul. 

A universidade tem mais de 20 anos de estudos em energia solar, além de conseguir fabricar os painéis fotovoltaicos dentro do próprio ambiente acadêmico, o que barateia os custos.

Sancionada lei que obriga construção civil a adotar práticas sustentáveis

Entre as medidas estão a economia e reutilização da água, eficiência energética, gestão dos resíduos sólidos, a permeabilidade do solo, o uso de energia solar através de placas fotovoltaicas.

O governador Wellington Dias (PT) sancionou a lei 6.888, de autoria do deputado estadual Robert Rios (PDT), que obriga a adoção de medidas de sustentabilidade na construção civil. 

De acordo com o texto da lei, o objetivo é assegurar a proteção do meio ambiente mediante a determinação do emprego de técnicas sustentáveis nas obras construídas pelo poder público estadual.

   Foto: Assis Fernandes/O Dia
A lei elaborada pelo deputado robert rios trata também sobre a qualidade do materiais utilizados 

Entre as medidas estão a economia e reutilização da água, eficiência energética, gestão dos resíduos sólidos, a permeabilidade do solo, o uso de energia solar através de placas fotovoltaicas, coberturas verdes quando o ambiente permitir, além de dar preferência a materiais compostos de substancias não toxicas e não utilizar insumos que possam poluir o meio ambiente ou cuja produção seja ecologicamente imprópria.

“Todas as construções civis executadas pelo Estado, diretamente por sua administração ou por meio de agentes contratados, sejam prédios públicos ou conjuntos habitacionais, deverão, obrigatoriamente, empregar critérios de sustentabilidade ambiental, eficiência energética, qualidade e procedência de materiais, conforme as diretrizes em lei”, diz na lei elaborada por Robert Rios.

A sanção foi publicada no Diário Oficial do Estado, na edição de 20 de outubro

Por: João Magalhães - Jornal O Dia

Especialistas querem mobilização da população para as questões ambientais e mudanças climáticas

Da Redação


Mudanças climáticas: engajamento precisa ser individual e 
sistêmico, por meio de iniciativas governamentais


São Paulo – O cineasta Fernando Meirelles quer fazer com que o maior número de pessoas possível entenda e se mobilize pela questão das mudanças climáticas.

Depois de levar o problema para 3,5 bilhões de pessoas na abertura da Olimpíada no Rio, ele está agora desenvolvendo uma série de TV com a BBC. Por um lado, quer difundir informações sobre o tema e, por outro, engajar as pessoas para que elas se mobilizem para isso.

Meirelles contou seus planos na terça-feira, 4, durante o debate 

“Saindo do gueto ambientalista: o desafio de mobilizar as pessoas para a sustentabilidade“, promovido pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo.

Ele e mais três especialistas em comunicação debateram como fazer com que o tema seja incorporado nas discussões do dia a dia das pessoas, das empresas e dos governos.

Em linhas gerais, a mensagem que todos passaram é que é preciso atuar em duas frentes: uma mais individual, que toque as pessoas para elas se entenderem parte do problema e assim poderem se engajar em busca de soluções; e em uma mais sistêmica, em que a sustentabilidade deixe de ser tratada de modo setorial, como por um departamento dentro de uma empresa, por exemplo, ou apenas por uma secretaria ou ministério, e entre na base de ações de empresas ou governos.

“É preciso ativar outras dimensões nas pessoas, para se sentirem motivadas a participar. É importante virar uma convocação, um convite de ação. E tem de trazer uma porta de saída. 

Não adianta dar só os fatos desesperados. É como falar de morte. Ninguém quer falar disso, porque se não tem saída, melhor nem falar”, comentou Mônica Gregori, que fez o estudo 

“O Fluxo das Causas”, sobre desafios para grandes causas como cidades sustentáveis e mudanças climáticas.

Meirelles, que se disse um pessimista sobre o futuro do planeta, contou que fez isso na Olimpíada, ao mostrar o problema, mas em seguida ao apresentar uma solução: o plantio de árvores. 

“Acho que em geral as imagens catastróficas, de desastres, que já vimos tanto, não tocam mais. 

Mas ali a ideia era ir direto à informação. E depois veio a boa notícia: mostramos projetos de reflorestamento em todo o mundo. Representam a mudança de atitude que queremos. Plantar floresta é a maneira mais barata de absorver carbono. Não resolve o problema, mas mitiga”, disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Guerra e paz por trás de um bife

Por Juliana Tinoco (reportagem) e Marcio Isensee (fotos) 



Seção de carnes de uma loja do Walmart, uma das redes 
que assinou com o Greenpeace o compromisso público de 
rastrear a origem do produto e garantir que ele é livre de 
crimes ambientais. Foto: Marcio Isensee

Grandes frigoríficos e corporações internacionais do setor de alimentos, uma vez acusadas de comprar carne de bois criados em áreas desmatadas ilegalmente, hoje garantem que não adquirem nem vendem carne de origem desconhecida

Este compromisso público assinado por pressão do Greenpeace é considerado um sucesso na batalha contra crimes ambientais na Amazônia, mas não garante o monitoramento de toda a cadeia de produção de carne.

“O Greenpeace não tem inimigos nem amigos permanentes”. 

O lema, velho conhecido dos membros da ONG, cai bem para a história da campanha que trouxe uma revolução no modo de operação do setor da carne no Brasil. Lançada pela organização em 2009 e citada pelos principais atores da cadeia como divisora de águas, 

"A Farra do Boi na Amazônia" apontava o dedo para os grandes frigoríficos, acusando-os de compactuar com o desmatamento na Amazônia e pressionava o governo (do então presidente Lula) de ser "sócio" de frigoríficos criminosos, em referência aos então principais beneficiários de empréstimos com juros subsidiados do BNDES - JBS, Marfrig e Bertin, posteriormente vendida à JBS. 

Tratava-se de um setor que até pouco tempo desconhecia restrições ambientais ao seu crescimento. De lá para cá, entre brigas e reconciliações, precisou se reinventar.

Fome de carne

"o selo de "desmatador da Amazônia brasileira" cruzou os mares e alcançou as sedes internacionais de nomes como Gucci, Nike e Adidas. 

Para estas marcas, que compravam o couro dos frigoríficos brasileiros investigados, doeu ver sua imagem associada a um crime ambiental "

“A pecuária é a variável central da equação de sustentabilidade do agronegócio brasileiro”, diz Márcio Nappo. Ele é o diretor de Sustentabilidade da JBS, a maior empresa de proteína animal do mundo, nascida no Brasil. 

Dos 38,7% do território brasileiro ocupado pelo setor agrícola, metade são para pastos, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. 

A pecuária usa mais de 200 milhões de hectares de terras, dos quais 48 milhões na Amazônia. Para fins de comparação, apesar de ser o maior produtor de soja do mundo, o grão ocupa 30 milhões de hectares de solo brasileiro, seguida da cana-de-açúcar, com entre 8 e 10 milhões de hectares.

Em 2004, o Brasil chegou a líder mundial em exportação de carne bovina e, segundo os últimos dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), em 2014 estávamos na segunda posição. 

O governo brasileiro viu oportunidades de crescimento mundial no setor de carnes especialmente a partir do início da década de 2000, graças a fatores econômicos, entre eles a fase de desvalorização do Real, entre 1999 e 2003. 

A crise do mal da vaca louca, que preocupou a Europa em 2003, também fez bem ao nosso boi. Logo passamos a deter parcela expressiva do mercado europeu e, na sequência, do Russo e dos países do Oriente Médio.

A partir de 2005 começa uma fase de intensa internacionalização das nossas empresas de carne, graças à política de desenvolvimento de "campeões nacionais", ou empresas brasileiras eleitas pelo governo para serem transformadas em grandes multinacionais. 

Dois terços dos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) destinados ao programa foram para fomentar o crescimento de frigoríficos. É o exemplo da JBS e da Marfrig. 

A primeira, corruptela do nome de seu fundador, José Batista Sobrinho, vulgo Zé Mineiro, começou com um pequeno açougue em Anápolis (GO) e hoje é a maior processadora de proteína animal do mundo, líder também em capacidade de abate. 

Já a Marfrig Global Foods, fundada por Marcos Molina, que aos 16 anos já tinha a própria distribuidora de carnes, orgulha-se de estar presente com seus produtos em mais de 110 países do mundo.

Em 2007, os frigoríficos JBS, Marfrig e Bertin figuravam entre os três maiores beneficiários de empréstimos a juros baixos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

Com o avanço da exportação da matéria-prima crescia também os índices de devastação da Amazônia. Em 2008, 80% de suas áreas desmatadas deviam-se à pecuária, diz o relatório do Greenpeace. Foi com este dado estampado em manchetes que, em 2009, os frigoríficos levaram o susto.

Chicotada de couro

A investigação que deu origem ao relatório “Farra do Boi na Amazônia” seguiu o rastro da carne dos grandes frigoríficos até as fazendas de onde se originavam na Amazônia. 

Lá, o Greenpeace achou todo tipo de crime - de desmatamento ilegal a trabalho escravo. Atestado o problema de um lado, fez então o caminho inverso e rastreou a produção dos frigoríficos até o seu consumidor final. E foi no couro que a ONG achou matéria prima para o seu chicote. 

Como a indústria da carne, especialmente à época, não investia em marcas de varejo, era preciso encontrar um alvo cuja imagem ficasse marcada na cabeça do povo - no melhor estilo Greenpeace de ser. Foi assim que o selo de "desmatador da Amazônia brasileira" cruzou os mares e alcançou as sedes internacionais de nomes como Gucci, Nike e Adidas. 

Para estas marcas, que compravam o couro dos frigoríficos brasileiros investigados, doeu ver sua imagem associada a um crime ambiental contra a mais importante floresta tropical do mundo.

"A aposta que o Greenpeace fez naquele momento, e continua fazendo, foi de entender as empresas como um ator fundamental do ponto de vista de impulsionar a produção e o consumo de commodities de uma forma mais responsável", explica Adriana Charoux, da campanha de Amazônia do Greenpeace. 

 A briga foi parar nos jornais, empresas como a Nike cancelaram contratos e em questão de meses os frigoríficos Marfrig e Minerva e, por fim, JBS, assinavam um compromisso público, proposto pelo Greenpeace, de rastrear suas cadeias e garantir que estariam livres das ilegalidades.

Pelo acordo, os frigoríficos ficaram obrigados a garantir que seus fornecedores não estão envolvidos em desmatamento após 2008 - ano limite estipulado pelo Código Florestal para que uma área seja considerada consolidada como agrícola. 

Os critérios incluem observar a lista de embargos do IBAMA, de trabalho escravo do Ministério do Trabalho e garantir que nenhuma fazenda ocupe áreas legitimamente delimitadas como Terras Indígenas e Unidades de Conservação. 

"Foi um processo até de fato a gente conseguir sentar na mesa de negociação. Não foi lançar o compromisso e de repente todo mundo disse “tá bom, onde eu assino?”, relembra Adriana. 

"Houve pressão e também diálogo". De lá para cá, a máxima de que inimigos e amigos podem ser transitórios se aplica. Hoje o Greenpeace e os três frigoríficos tratam-se cordialmente, saudando uns aos outros a cada resultado positivo das auditorias externas que acompanham o compromisso.

Nó de terras

"O Brasil criou o maior sistema de monitoramento geográfico de matéria-prima do mundo", afirma Fernando Sampaio, diretor da ABIEC e que também preside o Grupo de Trabalho pela Pecuária Sustentável (GTPS), iniciativa que reúne os principais atores da cadeia em torno de agendas de sustentabilidade para o setor. Um dos grandes responsáveis por isso é Breno Félix, sócio-fundador e Diretor Comercial e de Inovação da AgroTools

Criada em 2008, ela se coloca como uma empresa hiperbólica. Para começar, descreve a si mesma como "a maior empresa de big data do país" e líder mundial em gestão e monitoramento de riscos para o agronegócio tropical. 

É ela que hoje atende às necessidades de monitoramento da cadeia de fornecedores dos grandes frigoríficos, redes de supermercado, boa parte do mercado financeiro e os maiores produtores de agronegócio brasileiro. Na cartela de clientes da Agrotools estão McDonald's, Walmart, Carrefour, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), além dos maiores frigoríficos do país e do mundo - a JBS e a Marfrig. 

Entre os parceiros de trabalho, nomes como o Google e a ONG WWF. A empresa se diz a guardiã de 25 milhões de hectares de Amazônia, o equivalente ao tamanho do Reino Unido.

Na prática, o que a Agrotools faz é reunir e cruzar dados - muitos deles públicos, como a lista de embargo do IBAMA – para dar uma cara e um endereço às propriedades rurais da Amazônia. 

A ideia é a de um grande mapeamento, a partir do qual é possível saber se fazendas ocupam áreas ilegais como Unidades de Conservação e Terras Indígenas, se possuem permissão para exercer sua atividade ou se estão envolvidas em crimes de desmatamento, por exemplo. 

A partir desta análise, a Agrotools é capaz de estabelecer o grau de risco ambiental associado a cada fornecedor.

"A JBS teve entre 2009 a 2010 para tirar do papel uma política de desmatamento zero na sua compra de gado", relembra Márcio Nappo, Diretor de Sustentabilidade da JBS. 

Para fazer cumprir o acordo, era preciso rastrear os fornecedores. Descobrir onde estavam, de onde vinham seus bois e saber se eram legalizados. À época, os frigoríficos não estavam organizados para fazer isto. "Eles tinham o cadastro comercial das fazendas. 

O comprador de boi era o cara que tinha um relacionamento com o pessoal no campo e só quem sabia onde estava a fazenda era o caminhoneiro que ia até ela. E nem sempre o caminhoneiro era da empresa, então esse conhecimento estava completamente disperso na cadeia", conta Breno Félix.

A demanda alta por serviço de monitoramento, segundo revela a Agrotools, é um indicativo de que a gestão de risco chegou ao agronegócio brasileiro. Breno conta que a empresa recebe diariamente cerca de 100 pedidos para identificação de imóveis. 

"A realidade fundiária do Brasil é que a gente não conhece as peças do quebra-cabeça. Nós aqui temos uma visão muito clara desta desordem territorial", diz. Por isso, quando questionado, Breno não titubeia em dizer que se a empresa sabe hoje mais do território amazônico do que o próprio governo.

O valor de um bife verde

Para Márcio Nappo, o principal desafio de tornar sustentável o negócio está nas próprias características da cadeia da pecuária. "É, de todas, a mais complexa, sob o ponto de vista comercial e de outras agendas importantes como questões sanitárias, bem-estar animal e sustentabilidade", diz. 

"A gente tem cerca de 70 mil fornecedores de gado na nossa carteira, dos quais 40 mil estão na região amazônica. Todo dia temos que comprar milhares de cabeças de gado no mercado de commodity pura, guiado por preço". Como a compra é diária, a checagem também precisa ser. 

“A gente atualiza o estado socioambiental de todos os nossos 70 mil fornecedores brasileiros diariamente. Aqueles que tiverem alguma não conformidade, a área de sustentabilidade da JBS bloqueia o cadastro comercial”, diz Nappo.

Todo este esforço não se converte em lucratividade para a empresa. "A gente não vê uma sinalização do mercado de pagar mais pela sustentabilidade. Eu brinco: Um bife com trabalho escravo tem o mesmo sabor de um bife sustentável. Esses atributos - desmatamento e trabalho escravo - são do sistema de produção e não do gado em si. 

Carne de valor se dá pelo que é tangível ao consumidor", diz Nappo. Em comum, Marfrig e JBS criticam também o efeito de concorrência desleal que o acordo lhes rendeu. Como nem todos os frigoríficos atuando na Amazônia assinaram compromissos de monitoramento, a compra de gado de fazendas ilegais não foi interrompida. 

"A gente tem que ter uma regra comum. Quer dizer, se nós não podemos comprar o gado, então que ninguém compre, porque se não fica uma guerra", critica Mathias Almeida, diretor de Sustentabilidade da Marfrig. 

Queixa recorrente também diz respeito aos outros elos da cadeia. "A ilegalidade só se viabiliza porque tem um supermercado que compra a carne dos frigoríficos sem fazer qualquer tipo de questionamento ou verificação sobre a origem e procedência do produto", lembra Nappo.

"Carne ao molho madeira"

"Há dificuldades ainda sem solução para se rastrear com sucesso todos os elos da cadeia. Entre eles está o monitoramento de fornecedores indiretos - fazendas de criação de bezerros, por exemplo"

"Até o final de 2017 nós vamos garantir que 100% da carne brasileira vendida pelo Wal-Mart será monitorada", diz Tatiana Trevisan, gerente de Sustentabilidade do Wal-Mart Brasil. 

 O supermercado figura hoje na lista dos bons amigos do Greenpeace. Mas esta história, claro, nem sempre foi assim. Desde final de 2015 as grandes cadeias de supermercados entraram na mira da ONG. 

O segundo relatório da saga, "Carne ao Molho Madeira", denuncia os grandes do varejo por compactuarem com o crime de comprar carne sem saber dar nome aos bois.

No que diz respeito à Amazônia, o Wal-Mart garante confiabilidade no seu monitoramento. A empresa também precisou reconfigurar seu negócio para atender aos requisitos impostos pelo Greenpeace. 

Entrou em cena, de novo, a Agrotools, que hoje monitora mais de 75 mil fazendas para o banco de dados do supermercado. "Temos recebido demandas do Walmart internacional, nos Estados Unidos, para entender melhor como implantamos esse sistema e como podemos levar isso para outras commodities", diz Trevisan. 

 Além do Wal-Mart, Pão-de-Açúcar e, mais recentemente, o Carrefour também aderiu ao compromisso de monitorar e excluir fornecedores com problemas de sua lista. Novamente, lá esteve ela, a Agrotools.

O lançamento da Plataforma de Pecuária Sustentável, do Grupo Carrefour, deu o tom da importância estratégica do monitoramento e da rastreabilidade da cadeia. 

O evento aconteceu no final de agosto, na sede do governo de Mato Grosso, o Palácio Paiaguás, em Cuiabá, e teve as presenças do Governador de Mato Grosso, Pedro Taques e do Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho. 

A mensagem era de total alinhamento entre a nova política de compras do segundo maior varejista de alimentos do Brasil e o governo do Estado do Mato Grosso, maior produtor de carne bovina do país. 

Recentemente, em evento nos Estados Unidos, o Ministro da Agricultura e Pecuária Blairo Maggi também citou a rastreabilidade da produção como um dos grandes atrativos para investimentos estrangeiros na pecuária brasileira.

Boi de piranha

A trajetória da carne - de vilã a exemplo internacional de sustentabilidade - é controversa e permeada por conflitos no campo e nas ideias. "A gente sabe que a pecuária é usada como um mecanismo de especulação fundiária na Amazônia", diz Adriana Charoux. 

Do lado da indústria, Fernando Sampaio concorda: “A pecuária não é a causa do desmatamento, sim uma desculpa. A especulação que existe na fronteira agrícola é imobiliária, o boi está ali para ocupar aquele espaço”.

Adriana, no entanto, lembra que há ainda muita falta de controle na cadeia que hoje se anuncia verde. "Rebanhos são autodeclarados. Então, como os bois andam, os bois também voam e desaparecem. 

É isto que acontece no campo”, diz. Há dificuldades ainda sem solução para se rastrear com sucesso todos os elos da cadeia. Entre eles está o monitoramento de fornecedores indiretos - fazendas de criação de bezerros, por exemplo. Estas vendem para as propriedades de engorda, que por sua vez chegam aos frigoríficos.

Adriana Charoux também acredita que é o caos fundiário do país e a ilegalidade de muitos que contribui para fazer da pecuária uma vilã. "É por isso que as políticas públicas são fundamentais. 

Não há acordo de mercado que vá substituir o papel do governo. Ele precisa fazer muito mais", cobra a representante do Greenpeace.


Agência da ONU apresenta plano para tornar cidades mais inclusivas

in: MEIO AMBIENTE

                               Vista aérea de favela no Rio de Janeiro. Foto EBC/Marcelo Horn

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) apresentou nova estratégia de urbanização, que prevê estreita aliança com parceiros locais e internacionais para iniciativas que abordem questões como pobreza urbana, desemprego, mudança do clima, redução de risco de desastres, além de diminuição das disparidades de gênero.

Pela primeira vez na história, mais da metade da população do mundo vive em áreas urbanas. 

Até 2030, 60% da população global viverá em cidades, sendo que 90% desse crescimento urbano ocorrerá nos países em desenvolvimento, sobretudo na África e na Ásia.

Esses são dados da Estratégia de Urbanização Sustentável do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), lançada na segunda-feira (17), em Quito, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável (Habitat III).

Na quinta-feira (20), as delegações participantes da conferência definiram a Nova Agenda Urbana de Desenvolvimento, que define uma abordagem global para a urbanização nos próximos 20 anos.

Enquanto as cidades ocupam uma pequena parte do mundo, suas economias e pegadas ecológicas são muito maiores. 

As cidades são responsáveis por 80% do Produto Interno Bruto (PIB) global, produzem mais de 70% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e usam 80% da energia do mundo.

“Precisamos que as cidades sejam mais resilientes, e seus habitantes, menos vulneráveis”, disse a administradora do PNUD, Helen Clark. 

“O PNUD reconhece que, para ajudar os países a implementarem a Agenda 2030, precisamos apoiar governos, empresas e comunidades, para respondermos a esses aspectos de urbanização, usando uma abordagem integrada, com sustentabilidade, inclusão e resiliência”, afirmou.

A Agenda 2030 e os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável oferecem uma poderosa ilustração dos desafios e oportunidades que as cidades apresentam, de acordo com a agência da ONU. 

A Habitat III, maior conferência global de desenvolvimento em 2016, teve o objetivo de assegurar um compromisso político renovado com o desenvolvimento sustentável urbano, avaliar as conquistas feitas até o momento, enfrentar a pobreza urbana e identificar e contemplar novos e emergentes desafios.

A Embaixadora da Boa Vontade do PNUD e atriz premiada Michelle Yeoh, também presente na ocasião, declarou: “estou orgulhosa de estar aqui com todos vocês e com a administradora do PNUD, Helen Clark, para lançar a Estratégia de Urbanização Sustentável do PNUD”.

“Para cumprirmos o compromisso com a Agenda 2030 de não deixar ninguém para trás, teremos de encontrar maneiras de garantir que aqueles que vivem na pobreza tenham voz nos processos decisórios para aumentar as oportunidades econômicas em áreas urbanas”, afirmou.

Alguns planos de ação fundamentais na nova estratégia de urbanização do PNUD incluem uma aliança estreita com parceiros locais e internacionais para projetar, desenvolver e promover iniciativas que abordem questões como a pobreza urbana, desemprego, mudança do clima, redução de risco de desastres, assim como a redução das disparidades de gênero.

A estratégia também recomenda a Cooperação Sul-Sul e ajudar os países a monitorar e relatar o progresso deles em desenvolvimento urbano, questões e tendências, alinhadas com a Agenda 2030 e os compromissos da Habitat III.

O PNUD apoiará países e cidades, construindo, com base em seu passado e no trabalho atual sobre urbanização em parceria com a ONU Habitat, cidades e países.

O desenvolvimento sustentável nas cidades é essencial para o maior alcance da Agenda 2030, e ações em cidades serão fundamentais para o alcance de ao menos 11 dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, como indicado na estratégia de urbanização do PNUD.

Ford Leva Conceito De Sustentabilidade À Criação Dos Protótipos Em Argila

Escrito por Imprensa Ford


A Ford levou o conceito de sustentabilidade também para o processo de criação de veículos, por meio da reciclagem da argila usada na construção de protótipos. 

Conhecido na indústria automobilística como "clay", esse material de moldagem está presente em diversas fases da criação e passou a ser reciclado, como mostra o vídeo.

A máquina de reciclagem da Ford já evitou o envio de mais de 9 toneladas desse material para aterros nos últimos anos. 

A maior parte da argila reciclada pela Ford vem do processo de usinagem, no qual os designers usam uma máquina para esculpir a silhueta do veículo.

Apesar de todos os avanços da tecnologia e softwares digitais, nada supera a modelagem do veículo em tamanho real para o aprimoramento de detalhes internos e externos do seu design. 

A argila ainda é o melhor meio de visualizar nuances que podem não ficar aparentes quando se usa um modelo digital ou em escala.

“Novas tecnologias estão surgindo a todo momento, mas quando queremos ver os aspectos físicos do carro no início do processo ainda usamos a argila”, diz Lloyd VandenBrink, gerente de modelagem do Estúdio da Ford em Dearborn, EUA.

A produção de novos modelos requer muita argila. A criação da nova picape F-150 Raptor, por exemplo, consumiu cerca de 880 kg de argila e mais de 20 mil horas de modelagem durante quatro anos.

Inovando na reciclagem

Nos últimos cinco anos, a Ford reciclou argila suficiente para preencher mais de 26 mil latas de refrigerante de 350 ml, ou o equivalente ao peso de três elefantes asiáticos.

O enxofre costumava ser um ingrediente importante da argila, mas quando aquecido ele evaporava e podia causar mau funcionamento nos equipamentos eletrônicos. Por isso, foi eliminado nos anos 2000.

A argila usada pela Ford na modelagem, na verdade, não é de barro. Ela é feita de uma combinação de ceras e óleo com agregado e não contém água como a argila cerâmica tradicional.

Sustentabilidade, um novo paradigma



Por Montserrat Martins

Nem à esquerda, nem à direita, rumo à sustentabilidade. Essa nova teoria política responde às necessidades do século XXI, o da crise climática e das metrópoles urbanas, se distinguindo das receitas do neoliberalismo e do estatismo.

O neoliberalismo, que sacraliza o livre mercado acompanhado de um “Estado mínimo”, não atende às necessidades de preservação nem do patrimônio natural, nem do patrimônio humano, social e econômico das sociedades contemporâneas. 

Na crise financeira global de 2008, a economia internacional teve de ser salva por intervenções estatais, com destaque para o governo americano que aumentou seu poder de endividamento para socorrer o sistema financeiro.

O estatismo, por outro lado, já evidenciou seus limites nas últimas décadas desde a derrocada da União Soviética, do leste europeu, de Cuba e da tragédia social vivida atualmente na Venezuela. 

O único regime político estatizado que vingou economicamente foi a China e para isso ela se flexibilizou para o mercado, assumindo característica peculiares e se encontrando ainda em evolução.

As democracias ocidentais usam sustentabilidade na retórica, mas não inibem o desmatamento nem a exclusão social. 

Com a globalização da economia, na Era do Capitalismo Financeiro, esse se caracteriza pela volatilidade e o imediatismo, ou seja, o mercado vai atrás do lucro instantâneo onde ele estiver. 

Projetos que desmatam a Amazônia para plantar cana, mais a soja e a pecuária lá, agravam a crise climática.

Também nenhum modelo de estatismo teve compromissos com a sustentabilidade, em suas dimensões econômica, social, ambiental, cultural, ética, política ou estética. 

Um dos “gargalos” do crescimento chinês (tal como ocorrera com os europeus) é o esgotamento dos seus recursos naturais, incluindo a crise hídrica.

Um novo paradigma para o século XXI requer um novo papel do Estado e do “mercado”, não como antagonistas, mas como complementares, bem como o protagonismo dos organismos internacionais como ONU, Unesco, OMC. 

Um exemplo “sustentabilista” foi dado por Barack Obama e Xi Jinping, presidente americano e secretário geral do PC chinês, ao assinarem esse ano um acordo de cooperação para reduzir a emissão de carbono na atmosfera. Nesse acordo sino-americano não há supremacia nem do “mercado” que move a economia americana nem da “economia estatal” chinesa. 

O terceiro setor e a sociedade civil são importantes nesse novo modelo de desenvolvimento, que não tem um Estado mínimo nem máximo, mas necessário. 

Um Estado não meramente “indutor” do desenvolvimento, mas que emana da própria sociedade e responde às necessidades de planejamento com visão estratégica para dar respostas às questões do século XXI.

Montserrat Martins é médico e bacharel em ciências jurídicas e sociais.