Agronegócio - Eficiência energética é desafio do futuro

Para Milton Rego, da Anfavea, setor deve focar em máquinas mais potentes e menos poluentes

por Patrícia Carvalho

Divulgação/Anfavea

Globo Rural - Qual é o papel da mecanização agrícola no desenvolvimento do agronegócio brasileiro?
Milton Rego - Podemos fazer uma linha de corte a partir da década de 1970, com a política desenvolvimentista e, principalmente, a exploração do Centro-Oeste. Naquela época, teve início efetivamente a diversificação da produção brasileira e da pauta de exportações. A mecanização esteve muito vinculada ao aumento do plantio no período. Havia a necessidade física de mais máquinas, pois grandes extensões começavam a ser cultivadas. Isso fez com que tivéssemos um aumento muito grande nas vendas de máquinas. E hoje é inimaginável a abertura do Cerrado sem a mecanização.

Gr - Em termos de tecnologia, o que vem mudando nas últimas décadas?
Rego - Há uma mudança muito grande nos paradigmas do agronegócio brasileiro, especialmente a partir da década de 1990. É quando se começa a ter uma elevação de produtividade sem grandes aumentos de área plantada. São 20 anos em que a área plantada avança algo como 10%, enquanto a produção agrícola mais que dobra. Esse crescimento se dá em função de melhores variedades, melhor gestão do negócio pelos produtores e das técnicas de cultivo, inclusive com a consolidação do plantio direto. E tudo isso esteve relacionado às novas máquinas lançadas no mercado. Elas foram adaptadas às necessidades dos produtos, com uma forte parceria entre indústria e agricultores. No caso do plantio direto, foi preciso aumentar a potência dos motores. Nos últimos dez ou 15 anos, à medida que os avanços genéticos e de manejo acontecem, o objetivo do produtor rural passa a ser diminuir as janelas de plantio e colheita. Ele pode ter três safras para grãos e, para isso, precisa de máquinas maiores, mais potentes, que preparem uma extensão maior. Até porque a propriedade média no Centro-Oeste é de 2 mil hectares, o que exige agilidade. Estamos falando de uma mecanização que busca maior eficiência, com motores mais potentes e controles mais precisos, como sistemas hidráulicos, que permitem o melhor acoplamento e o uso dos implementos. É importante que um trator possa gerenciar bem um implemento e isso se dá com a adoção de sistemas hidráulicos mais eficientes e como início do uso da eletrônica embarcada.

GR - Quando se passa a usar eletrônica embarcada no país?
Rego - Há cerca de 15 anos. É muito recente e é mais ou menos quando aparecem os primeiros instrumentos de georreferenciamento, que diminuem os custos e aumentam a produtividade, por meio da racionalização do uso de insumos, como fertilizantes e defensivos. Em vez de fazer quatro análises de solo manuais em um talhão, hoje se fazem 80 como GPS (Sistema de Posicionamento Global), o que permite maior nível de exatidão das necessidades de insumos.

GR - Nessa evolução constante, quais são os desafios do futuro?
Rego -
Os desafios já estão na pauta do dia. O menor consumo de combustível, por exemplo, é o que se busca hoje como forma de ganho de eficiência. Assim como o uso de biocombustíveis e energias menos poluentes, como diesel de cana e até etanol, ao mesmo tempo que se busca maximizar a potência dos motores. Resumindo, o futuro aponta para máquinas de maior potência, menos poluentes e mais econômicas do ponto de vista energético.

GR – E em relação às colheitadeiras, os maiores ganhos têm sido na diminuição de perdas?
Rego - Houve um desenvolvimento muito grande nos últimos 20 anos. No início da década de 1990, uma colheitadeira se movia a três quilômetros por hora e deixava 6% de grãos para trás. Hoje, deixa menos de 1%, com uma velocidade de seis quilômetros por hora, dependendo de quão sujo está o terreno, em termos de invasoras, por exemplo. Isso foi um avanço enorme para o produtor.

GR - Quais são as perspectivas para a mecanização no Brasil? Há espaço para crescer?
Rego - Calculamos que existam 45 mil colheitadeiras e 400 mil tratores trabalhando efetivamente no campo. Para manter essa frota, precisaríamos de 5 mil colheitadeiras e 35 mil tratores por ano, para uma renovação de algo entre 12 e 15 anos para tratores e seis anos para colheitadeiras. E isso não seria crescimento, mas manutenção da frota. Há também um público potencial, calculado como próximo a 300 mil novos consumidores: os produtores familiares, dos quais apenas 10% já teriam sido atendidos por programas, como o Mais Alimentos. E existe a perspectiva do aumento da área de produção, especialmente sobre pastos degradados, o que deve demandar aumento gradativo da frota.

GR - Os juros do Finame PSI subiram. Isso afeta as perspectivas de vendas para este ano?
Rego
- Não consideramos isso um desestímulo às vendas. Na verdade, a Anfavea considera que a linha de financiamento mais adequada ao setor é o Moderfrota, como concepção. No entanto, é uma linha que hoje não é competitiva, em virtude dos juros mais baixos do Finame PSI. Assim, idealmente, os juros do Moderfrota deveriam diminuir para níveis próximos aos do crédito rural, de 6% ao ano, o que equivaleria a torná-los mais baixos que os do Finame, que estão agora em 6,5%. 

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