Esta semana, enquanto diplomatas, cientistas, ONGs e negociadores se juntam no África do Sul para buscar uma acordo global pra reduzir emissões, em Nova York a agência de notícias financeira, Bloomberg, e a Bolsa de Valores de Nova York, NYSE, lançaram mais um índice para acompanhar as empresas de energias renováveis.
Na verdade, foram lançados três índices: um para as Américas (NBAMCEUP ), um para a Ásia e Oceania (NBASCEUP ) e um para a Europa, África e Oriente Médio (NBEACEUP ). Juntos, eles acompanham o desempenho de cerca de 600 empresas negociadas nas bolsas mundo afora. Em breve, segundo a Bloomberg New Energy Finance, serão lançados índices específicos para energia solar, energia eólica, eficiência energética, energia inteligente e veículos elétricos.
Se fossemos olhar para o desempenho recente destes índices e os movimentos recentes no setor, talvez nos perguntaríamos se realmente vale a pena, pois eles acumularam perdas enquanto os setores de energias renováveis e eficiência energética estão sofrendo com a crise econômica e a redução de subsídios e investimentos públicos.
No entanto, o que se está olhando é o crescimento de investimentos nestes setores e as tendências futuras à medida que o mundo discute e assume compromissos de caminhar para uma economia verde. E aí, o papel dos mercados de capitais é fundamental.
Em 2010, segundo dados da Bloomberg, foram investidos US$243 bilhões em energias renováveis em 2010 – equivalente, em um ano, a quase metade do investimento de R$955 bilhões em quatro anos. Dados compilados da ONU tem demonstrado que estes investimentos têm crescido ano a ano desde 2004 a taxas médias acima de 30%. São investimentos de governos e empresas nestes setores.
Quando o setor de mercado de capitais entra no jogo, significa que há já uma maturidade no modelo. Ou seja, não só que há metodologias para mensurar o desempenho de empresas, mas também que há volume crítico dinheiro circulando para negociação e, o mais importante, há investidores em número suficiente interessados no assunto.
Esta conclusão pode parecer conflitante com os resultados do controle de emissões, o debacle do Código Florestal, o fracasso das metas do Protocolo de Quioto e a falta de acordo nas cúpulas climáticas desde 2009 quando Lula e Obama ambos compareceram à conferência de Copenhague e deram apenas um peso simbólico, sem avanços aparentes.
Mas, no fundo, o mundo caminha para a economia verde de uma maneira inexorável. O PNUMA lançou no dia 16 de novembro, mais um relatório com análises e recomendações para esta transição. Nele, se projeta a necessidade de investimentos de cerca 2% do PIB mundial ou US$1,3 trilhões anuais, até 2050 para se fazer esta transição, investimentos em todos os setores, que, ao longo do caminho, vai criar novos empregos, iniciar o a desacoplamento entre crescimento econômico e degradação ambiental e distribuir melhor a renda e alimentos.
Separado em 14 seções (entre elas Agricultura, Energia, Setor Produtivo, Transporte, Cidades, Resíduos Finanças, Turismo e Edifícios) o relatório reforça o argumento que existe uma profunda necessidade de combinar políticas públicas, ação do setor privado e, sobretudo, investimento em inovação. Em todos estes setores há grandes oportunidades de ganhos e, segundo as conclusões do PNUMA, o investimento na economia verde pode proporcionar um crescimento mais rápido da economia mundial do que o cenário de nada fazer.
Mas o ponto chave é a pontuação da necessidade de se mudar os critérios econômicos de medição econômicas para se lavar em conta o capital natural e a degradação ambiental.
A economia verde não, portanto, continuar os mesmos modelos fracassados de consumismo, de inovação Schumpeteriana baseada em obsolescência programada e nem nos modelos de 'marketing verde' onde se esverdeia a pílula com ações pouco transparentes e que não mudam a estrutura básica do nosso sistema produtivo que hoje consume necessita quase duas vezes os recursos naturais existentes para se manter.
A inovação, no entanto, será chave para ter novas tecnologias e sistemas menos perdulários dos recursos naturais. Um dos caminhos é o fomento de tecnologias por meio de investimentos em epresas nascentes tecnologia.
Hoje, segundo dados do Cleantech Group, os investimentos de fundos de capital de risco em tecnologias limpas somam entre US$1,5 bilhão a US$2 bilhões por trimestre. Apesar de calcados em um lógica de mercado de capital, é um volume considerável que vai diretamente para empresas nascentes com tecnologias novas.
O Brasil, começa a receber parte deste dinheiro e fundos nacionais começam a aparecer para fomentar este ciclo. Estamos começando a trilhar o caminho entre o conhecimento e a inovação e mais e mais pesquisadores olham para mercado como um oportunidade de realização de suas pesquisas aplicadas.
Estamos no início deste ciclo, como também o mundo está no início da transição para a economia verde. Enquanto a desconfiança reina em Durban, o mundo avança pelo setor privado e muitas políticas públicas desconexas na direção da economia verde. No ano que vem, na Rio+20 o debate vai focar nesta transição e teremos, espero, um visão mais clara do caminho a trilhar.
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