Rio + 20 impulsiona a construção sustentável


Conferência das Nações Unidas será importante para setor romper definitivamente com paradigmas que o afastam da “economia verde”
Por: Altair Santos

A Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que acontece de 13 a 22 de junho no Rio de Janeiro/RJ, promete quebrar paradigmas da construção civil. 

O setor estará em peso no evento, principalmente para participar do fórum específico sobre construção sustentável, que reunirá alguns dos principais debatedores internacionais. Entre eles, o presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e coordenador do SBCI (Iniciativa de Construção Sustentável do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Pnuma) Marcelo Takaoka, e o especialista em urbanismo sustentável no Banco Mundial, Daniel Hoornweg.

Georgia Grace: Rio+20 vai 
estimular os processos 
industriais na construção civil.

Antecipando parte do que será discutido na conferência, a assessora técnica da CBIC, Geórgia Grace, avalia que a Rio+20 será também uma grande oportunidade para a construção civil brasileira mostrar os avanços obtidos a partir do programaMinha Casa, Minha Vida e de consolidar práticas da economia verde, como a entrada definitiva dos processos industriais nos canteiros de obras. Confira a entrevista:

Quais conquistas alcançadas pela construção civil brasileira poderão ser mostradas na Rio+20?
Uma das conquistas é a formalidade. Antes do programa Minha Casa, Minha Vida, 94% das habitações de baixa renda eram feitas por autogestão, totalmente na informalidade, gerando desperdício de materiais e mais resíduos. 

A primeira fase do MCMV já demonstrou um salto nesse resultado, com um milhão de unidades contratadas dentro da formalidade. Muitas delas também estão sendo feitas com processos mais industrializados, que otimizam a utilização de recursos naturais na construção e minimizam a geração de resíduos. 

Outra conquista foi o aumento expressivo de certificações ambientais para as edificações. Iniciativa como a da Caixa Econômica Federal, que tem o Selo Casa Azul, é um exemplo. Há também a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e o selo Acqua (Alta Qualidade Ambiental), já bem propagadas no país.

Isso revela uma mobilização do setor voltada para construções mais sustentáveis?
Sim, há uma mobilização setorial e governamental em torno desse tema. O plano de ação de produção e construção sustentável do Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, lançado no ano passado, é composto por seis eixos principais e um deles é o de construção sustentável. 

Dentro desse plano, a CBIC tem como metas: difundir um guia de compra sustentável para as construtoras e, junto com o Senai, propor conteúdos programáticos dentro da formação de profissionais da construção, em torno da redução de desperdício e da captação para coleta seletiva nos canteiros. 

No que se refere à mobilização institucional, o Programa Construção Sustentável (PCS) da CBIC reuniu autores principais do debate nacional, como professores, empresários, representantes do Brasil no Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e parlamentares, que discutiram e fizeram propostas dentro dos temas clássicos da sustentabilidade: água, resíduos, materiais, energia, mudanças climáticas, desenvolvimento humano e desenvolvimento urbano.

Quais os desafios que, a partir da Rio+20, irão se impor à construção civil brasileira?
A indústria da construção impacta muito ambientalmente, por ser intensivo em utilização de recursos naturais e de mão de obra. A Rio+20 consolidará um modelo de construção sustentável, compatível com o conceito de economia verde, baseada no pilar social do desenvolvimento sustentável. Isso implica redução dos impactos ambientais, com a diminuição em emissão de gás carbônico. 

A conferência reforçará a necessidade de se ter um comprometimento maior para esse novo paradigma de desenvolvimento. Esses desafios já estão contemplados pelo setor da construção dentro das ações do Programa Construção Sustentável (PCS) da CBIC e de programas de certificação como os da Caixa Econômica Federal, que já contempla os principais conceitos da economia verde.

De toda a cadeia produtiva que envolve a construção civil brasileira, quais setores estão mais avançados na questão de sustentabilidade e meio ambiente?
Se pensarmos na cadeia produtiva, que inclui projetistas, indústrias de materiais de construção, construtoras e os consumidores, todos estão avançando igualmente na questão da sustentabilidade e do meio ambiente. Os projetistas, por exemplo, estão cientes de que precisam projetar para uma sociedade cada vez mais exigente e consciente em termos de sustentabilidade. 

Diferentemente do que ocorria há 10 anos, hoje há vários cursos de pós-graduação e especialização para projetistas e engenheiros na área de sustentabilidade. A indústria de materiais também tem ofertado muitos sistemas, produtos e materiais com consumo menor de recursos naturais, seja em eficiência energética-térmica ou consumo racional de água. Alguns produtos que são apresentados nas feiras de sustentabilidade da construção internacional precisam ser tropicalizados para o Brasil, mas a indústria está em pleno desenvolvimento. 

No que se refere aos construtores, há toda uma mudança de modelo de negócios e de marketing voltado para as novas exigências dos clientes.

E quais setores precisam avançar mais?
Estamos falando de um novo paradigma. Passos importantes já foram dados, mas há muito o que avançar. Os segmentos têm que avançar juntos. Um demanda o outro em cascata. O ritmo disso quem vai dar é o consumidor, que está em contato direto com as construtoras, que é quem contrata os projetistas e compra os materiais. Quanto mais exigentes forem os consumidores, mais isso será passado para o início da cadeia.

A partir da Rio+20 existe a perspectiva de que finalmente a industrialização do canteiro de obras seja definitivamente abraçada pela construção civil?
Sim. Esse é um caminho que o setor vê como uma das principais soluções para conseguir a sustentabilidade em termos ambientais e para responder às demanda do mercado. Não dá mais para fazer inovação sem atender ao critério de sustentabilidade. Neste caso, a industrialização é um caminho para alcançar esses objetivos.

Outro ponto que deve despertar o interesse do setor é o saneamento básico. Nesse aspecto, a CBIC incentiva um programa de estímulo a esse setor, correto?
Corretíssimo. A CBIC tem um projeto importante na área de saneamento básico. O Sanear é Viver é um dos nossos projetos estratégicos. Ele já foi levado ao governo e está em discussão. 

Está baseado na inovação, em termos de gestão das concessionárias e inovação de plano de saneamento regional. Propõe a figura de parceria pública-privada nessas concessões, levando a expertise da iniciativa privada para a melhoria da gestão. É um projeto que está em plena discussão e que a CBIC defende como item prioritário da agenda política brasileira, a começar pelo poder executivo federal com desdobramento para os demais níveis.

A partir da Rio+20 foi estabelecida uma parceria entre a CBIC e o CEBDS (Conselho Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). Como ela irá funcionar?
O Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável tem um comitê para discussão de construção sustentável. Daí surgiu a grande oportunidade da CBIC apresentar a contribuição do setor junto ao CEBDS, dentro de todo o leque que ele trabalha em termos empresariais e industriais.

No âmbito do Programa Construção Sustentável o que já foi alcançado?
Como mencionado anteriormente, o que foi alcançado é o que temos de movimento em termos de certificação, de novos materiais, de capacitação de projetistas, de selo de um grande financiador como é a Caixa Econômica Federal e de programas consistentes. 

Há uma rede de inteligência institucional, seja ela da iniciativa privada ou do governo federal, voltada para resultados à sociedade em termos de construção sustentável.

Comparativamente com outros países, a construção civil brasileira encontra-se em que patamar em termos de alinhamento com a chamada “economia verde”?
No que se refere à economia verde, esse conceito lançado pelo Pnuma em 2010 ainda é muito novo. Já no que se refere à sustentabilidade, temos um caminho a percorrer, que muitos países já percorreram. 

A Inglaterra, por exemplo, iniciou esse processo há 20 anos, visando ser o país de maior destaque em sustentabilidade na construção. Eles contam com o Building Research Establishment (BRE) que ajuda os clientes a criar edifícios, comunidades e empresas melhores, mais seguros e sustentáveis por meio do uso de soluções inovadoras. 

Então, temos um benchmark maravilhoso para tomar como referência, que são os exemplos já praticados na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos. O Brasil ainda precisa avançar e é bom que tenhamos essas referências e que elas possam inspirar o nosso governo a também incentivar a experiência nacional.

Símbolo da Rio+20: conferência incentiva certificações ambientais para edificações.
Entrevistada
Georgia Grace Bernardes, assessora técnica da Câmara Brasileira da Indústria da Construção
Currículo
Graduada em engenharia civil pela Universidade Federal de Uberlândia.
Tem especialidade (MBA) em gestão ambiental e é consultora da CBIC desde janeiro de 2010.
Contato: assessoria.tecnica@cbic.org.br / www.cbic.org.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

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