São Paulo – A sustentabilidade deixou de ser um ônus para a indústria brasileira. Apesar de o custo ainda ser um desafio, a sustentabilidade passou a ser encarada como um bônus e um modelo de negócio e oportunidade para os industriais brasileiros.
A avaliação é de Nelson Pereira dos Reis, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e diretor titular do Departamento de Meio Ambiente da entidade.
“[A sustentabilidade] é um bônus para a indústria. Durante muito tempo, ela foi vista como custo para muitas empresas. Hoje, não.
Hoje, a empresa enxerga na sustentabilidade um caminho para melhoria da eficiência energética, para conservação da água e para um design mais sustentável do produto.
Isso é uma oportunidade de negócio”, disse o diretor da Fiesp em entrevista no dia 20 de junho (quarta-feira), à Agência Brasil.
Segundo Reis, a importância da sustentabilidade para a indústria reside em três grandes aspectos: ambiental, social e econômico.
“Na vertente ambiental, temos que tratar os recursos naturais com inteligência e sabedoria para transformá-los em produtos que atendam as possibilidades e contribuam para a qualidade de vida das pessoas. Temos que olhar [também] a vertente social, pois estamos falando de pessoas. Queremos tudo isso para o bem-estar das pessoas.
E também tem o ponto de vista econômico, porque toda atividade tem que agregar valores que possibilitem que se continue a investir, pesquisar e melhorar a eficiência no uso de recursos naturais e aumentando a remuneração dos colaboradores”, declarou.
Segundo ele, entre as ações que estão sendo desenvolvidas pela indústria e que envolvem a sustentabilidade está, por exemplo, o reúso da água.
“Mais de 90% das indústrias fazem uso de alguma tecnologia para reúso da água. Além da conservação, no sentido de usar apenas a água necessária, elas [indústrias] também partem para reutilizar a água que entra no seu processo industrial”.
Reis também citou outras ações sustentáveis que estão sendo adotadas pelo setor, tais como o uso de motores mais eficientes para diminuir as perdas energéticas, a transformação de resíduos em energia elétrica e o gerenciamento de resíduos sólidos.
“O resíduo final, o que sobra, passa então a ser tratado de maneira sustentável: ou ele é reprocessado ou é enviado para reciclagem, transformando-se em novos produtos”.
Mas ainda há desafios a ser vencidos. De acordo com o diretor da Fiesp, as eles passam, principalmente, pela questão tecnológica e pelo custo. “Muitas vezes é necessário trocar equipamentos e modificar processos que têm custos iniciais.
E, às vezes, as empresas têm dificuldade de arcar com esses custos. Então, sempre são bem-vindos os financiamentos de bancos e de órgãos de fomento do governo para incentivar a indústria a fazer essas modificações”, disse.
Para Reis, falta investimento do governo para impulsionar as empresas a serem mais sustentáveis.
“Falta ainda acertar alguns marcos regulatórios. Por exemplo, na questão da reciclagem temos a questão tributária que precisa ser resolvida.
Hoje, a questão tributária não favorece a reciclagem”, ressaltou.
O que ocorre, segundo o diretor da Fiesp, é que não há dedução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no caso de produtos feitos por meio da reciclagem.
“Quando se compra uma matéria-prima virgem, há um imposto embutido, tal como o ICMS. Quando se processa essa matéria-prima e vende [o produto] há o crédito desse ICMS, ou seja, pode-se deduzi-lo do produto final.
Mas quando se trabalha com a reciclagem, a matéria-prima geralmente não tem valor. No entanto, o processo de reciclagem tem um custo alto, muitas vezes mais alto do que quando se processa a matéria-prima original.
Quando se tem o produto [reciclado] pronto, vende-se pelo mesmo preço do produto que teve o processamento com a matéria-prima virgem. Mas nesse caso, você não tem o crédito de ICMS embutido”, explicou.
Segundo Reis, a Fiesp tem conversado com os governos estaduais para tentar resolver esse entrave tributário.| Elaine e Ptricia Cruz/ABr
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