Brasil tem autoridade para mostrar ao mundo a criação das APPS mundiais nas margens do rios, diz presidente da CNA

Mostrar ao mundo a importância das matas ciliares para garantir a qualidade da água. Esse é o objetivo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que defende, em parceria com a Embrapa e da Agência Nacional de Águas (ANA), a proposta de criação da Área de Preservação Permanente (APPs) mundial nas margens dos rios
 
ASSESSORIA DE IMPRENSA CN



“Não queremos ditar regras a outros países, mas temos autoridade para mostrar ao mundo a importância das matas ciliares e propor um debate conceitual”, afirmou a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu.

“Se esse conceito existe no Brasil, e nós acreditamos nele, tem que ser bom para todos os rios do mundo”, afirmou. A senadora participou, nesta terça-feira (19), no Espaço AgroBrasil, liderado pela CNA, na Rio+20, do lançamento da proposta de criação da APP mundial. 

Ao falar da iniciativa, apresentada pela primeira vez em março deste ano durante o Fórum Mundial da Água, na França, lembrou que essa é a contribuição que o Brasil, que possui 12% da água doce do mundo e preserva 61% de seus biomas, tem a oferecer nesse debate. “O mundo inteiro precisa saber que a preservação é importante”, afirmou.

De acordo com a presidente da CNA, as margens de muitos rios que cortam o País estão conservadas na forma de APPs. “Mas muitos rios estão poluídos nas cidades”, afirmou. 

A senadora Kátia Abreu lembrou que a maioria dos produtores rurais sabe da importância da preservação de suas propriedades, conscientização que será ampliada com o Projeto Biomas, desenvolvido pela CNA em parceria com a Embrapa. O objetivo desse projeto é desenvolver pesquisas e tecnologias para garantir a proteção e o uso sustentável de cada um dos biomas brasileiros, a partir do uso de espécies de árvores nativas ou exóticas nas propriedades rurais. 

“O produtor vai compreender que preservar e adotar boas práticas ambientais valoriza o patrimônio dele e gera mais renda, porque uma fazenda sustentável é fundamental para sobrevivência econômica e financeira”, acrescentou.

A senadora Kátia Abreu lembrou, ainda, que o País transformou cobertura vegetal nativa em “alimentos, comida e ativos econômicos e sociais da maior importância para o Brasil” e que as atividades agropecuárias ocupam 27,7% do território nacional, enquanto 61% estão preservados na forma de florestas nativas. 

Citou a taxa de desmatamento que caiu de 27 mil quilômetros quadrados para 6.200 quilômetros quadrados. “Nós vamos chegar muito antes da meta de 5.800 quilômetros quadrados, estabelecida para 2020, assumida em Copenhague, na Dinamarca”, afirmou. 

Apesar desses dados, lembrou que “erros foram cometidos, mas que todos estão dispostos a corrigir esses erros. O que nós queremos, de verdade, é um ambientalismo por ciência e não por paixão, por ativismo”, afirmou.

Na cerimônia de lançamento da proposta, o presidente da ANA, Vicente Andreu, afirmou que um dos principais problemas no País é a falta de saneamento básico, situação que compromete a qualidade da água. “Muitas vezes as pessoas cobram melhorias na qualidade da água e não sabem que isso deve ser cobrado junto aos seus prefeitos e governadores”, afirmou. 

Outra falha apontada por Andreu foi a falta de um plano de gestão de recursos hídricos em alguns Estados. Nesse contexto, defendeu o fortalecimento do modelo de gestão.

“Há uma carência por parte dos Estados de um sistema de gestão efetiva. Por isso, precisamos trabalhar no sentido de fortalecer a gestão regional para que os Estados estejam à altura de seus desafios”, enfatizou. 

Destacou, ainda, que a proposta de criação de um conceito universal deve considerar, além da segurança hídrica, a segurança alimentar e ambiental, e que estes pontos sejam levados em conta nos debates da Rio+20 e em outros fóruns internacionais de discussão sobre o uso da água.

Para o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, a agricultura hoje pode ser parte da solução para o caminho da sustentabilidade. Ele também avaliou que os outros países podem seguir o modelo brasileiro de gestão e proteção das APPs, desde que cada um faça suas adaptações. 

“Existem várias formas de implantação de técnicas e políticas voltadas para a proteção ambiental e dos recursos hídricos e cada um deve achar o modelo mais adequado”, frisou. 

Já o vice-presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, defendeu a criação de um fórum internacional para discutir a criação da APP global. “Podemos avançar muito nessa questão, optando pelas melhores tecnologias”, avaliou.

Depois dos pronunciamentos, a proposta foi debatida com cientistas estrangeiros. Um dos participantes, o professor Mark Mulligan, da King’s College London, em Londres (Inglaterra), destacou a viabilidade de estender a proposta brasileira para outros países, para proteger e assegurar a qualidade da água utilizada para a atividade rural. 

“As APPs podem contribuir neste processo, além de outras paisagens importantes na questão ambiental, que podemos utilizar nas propriedades rurais”, salientou o pesquisador.

A pesquisadora Jéssica Casaza, do escritório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) para América Latina e Caribe, falou sobre o avanço das discussões sobre a proteção da vegetação próxima aos cursos d’água no âmbito da FAO. 

“Demos passos importantes e podemos trabalhar em parceria para colaborarmos ainda mais com a proteção dos recursos hídricos e a produção sustentável”, comentou.

Para o pesquisador Donald Sawyer, do Centro de Estudo Latino Americano da Universidade de Harvard, a proposta brasileira pode ser adaptada para outros países, desde que “sejam feitos ajustes”. 

Ele ressaltou, ainda, que a qualidade da água dependerá do nível de proteção dos biomas brasileiros para assegurar o uso da água para consumo humano, a agricultura e geração de energia elétrica.

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