Reinaldo Canto*

De  Davos na Suíça para Dacar no Senegal. Do frio congelante da Europa,  para o calor escaldante da África. Essas são algumas, mas certamente não  as maiores diferenças entre o Fórum Econômico Global encerrado na  semana passada e o Fórum Social Mundial que está sendo realizado nestes  dias. Elas, sem dúvida, vão muito além de questões geográficas e  climáticas.
Ambos os encontros tem a nobre missão de discutir, refletir sobre  atuais e futuros caminhos para a humanidade. E, terminam aí as suas  semelhanças. Davos teve como protagonistas as cerca de 2.500 lideranças  empresarias, executivos representantes do poder econômico mundial. Já o  fórum de Dacar terá em torno de 100 mil participantes representantes de  uma gama variada de etnias, ideologias, culturas, religiões, enfim de  uma enorme diversidade que compõe boa parte da sociedade civil  planetária. Um espaço aberto de discussão heterogêneo, plural e  participativo.
Palco da pluralidade
O Fórum Social Mundial tem sido palco em suas diversas edições, de  uma série de propostas que colocam o ser humano no centro do processo.  São propostas e caminhos que tem em comum, o fato de colocar a economia a  serviço do homem e não o homem a serviço da economia.
Entre as reflexões que definem o fórum está a busca por organizar a  sociedade de uma maneira que ela seja capaz de atender as necessidades  humanas. Daí vem o slogan sempre presente nesses encontros da construção  de, “um outro mundo possível”. Do desenvolvimento de projetos  alternativos para um novo modelo civilizatório.
Exemplos
Vale destacar, como exemplo, algumas das discussões que fazem parte do fórum nesses dias:
Princípios para um novo paradigma de civilização,  que tem como  objetivo superar as rupturas com a biosfera criando as condições para  harmonizar as necessidades de sustentabilidade do planeta com as  necessidades de desenvolvimento. Colocar na mesma agenda, o impulso as  forças produtivas ao lado da implementação de justiça social, ética,  integridade e transparência.
Diálogo, articulação e construção de plataformas de ação, na busca  por uma nova relação entre governos e sociedade civil. Uma nova cultura  política baseada na ética, transparência, horizontalidade e  compartilhamento do conhecimento.
A crítica contundente é outro aspecto marcante do Fórum Social  Mundial. Um painel denominado Críticas aos ideais civilizatórios de  crescimento e progresso, afirma que o atual modelo de desenvolvimento e  crescimento desordenado é responsável por destruições, exclusões e  desigualdades. Pelos problemas climáticos e a agressão aos limites do  planeta.  Um modelo que valoriza mais o “ter” do que o “ser”.
Chama ainda a atenção propostas polêmicas como a de crescimento zero  que visa antes do puro e simples crescimento econômico, a redução da  pobreza, das desigualdades e a busca por melhorias na qualidade de vida  das pessoas.
FSM: Rico, plural e democrático
Independentemente dos resultados obtidos no curto prazo, o Fórum  Social Mundial é um espaço onde ocorrem momentos inspiradores capazes de  trazer à tona, questões importantes sobre o papel a ser desempenhado  por governos, empresas e sociedade civil.  Papel que deve levar em  conta, acima de tudo, a valorização da diversidade humana baseada em  visões de mundo diferentes.
*Reinaldo Canto é  jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de comunicação do  Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu. É colunista  de Carta Capital e colaborador da Envolverde.
**Artigo publicado originalmente na coluna Cidadania & Sustentabilidade:
 
 
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