A indústria dos relatórios de sustentabilidade: mais informação significa maior transparência?

Das 100 maiores empresas brasileiras, 88 reportam informações socioambientais, colocando nosso país na 6ª posição entre os 34 países estudados
Por Ricardo Zibas*



Nos últimos anos, temos acompanhado a evolução da publicação de informações socioambientais pelas corporações globais, na forma de relatórios de sustentabilidade ou de responsabilidade corporativa. Mas até que ponto a evolução na quantidade de informações é também uma evolução qualitativa?

Recentemente, a KPMG divulgou a sua última pesquisa sobre o tema, abrangendo as 100 maiores companhias de 34 países (totalizando 3.400 organizações), entre eles o Brasil. Das 100 maiores empresas brasileiras, 88 reportam informações socioambientais, colocando nosso país na 6ª posição entre os 34 países estudados. 

Ficamos atrás do Reino Unido (100% das 100 maiores empresas reportam), Japão (99%), África do Sul (97%), França (94%) e Dinamarca (91%). No caso da África do Sul e da França, vale lembrar que existe uma matriz regulatória que demanda a divulgação de informações socioambientais, o que é um fator preponderante para a obtenção de índices mais altos.

Considerando que o reporte no Brasil (ainda) é voluntário, temos uma publicação expressiva de relatórios, que nos coloca à frente de países como a Finlândia (85%), Estados Unidos (83%), Holanda (82%), Canadá (79%), Itália (74%), Suécia (72%) e Portugal (69%).

Entretanto, será que a quantidade de relatórios se traduz também na qualidade das informações reportadas? O estudo divide os relatórios dos países em quadrantes, e a maioria dos reportes brasileiros se enquadrou no que denominamos “arranhando a superfície (scratching the surface)”, que se caracteriza por um alto grau de eficiência na comunicação, mas sem uma maturidade de processos condizente.

Normalmente, as organizações e setores deste quadrante são as que possuem maior risco de falhar nas metas e expectativas descritas no relatório de sustentabilidade e, por consequência, estão mais sujeitos às pressões das partes interessadas, entre eles os investidores.

O principal motivo para isto é que o foco é dado para a comunicação das realizações em múltiplos canais (ou até na integração com o reporte financeiro), mas a mesma atenção não é dada aos processos de gestão, integração e origem das informações. Como resultado, temos uma comunicação muito boa, mas embasada em processos pouco desenvolvidos, que comprometem a qualidade das informações, ou seja, muito foco na forma, mas nem tanto no conteúdo.

Assim, várias metas não são atingidas, frustrando as expectativas dos públicos de interesse ou, muitas vezes, recaindo em um processo de verificação externa demasiadamente longo, cujo retrabalho contínuo passa a ser a regra, pois as informações relatadas acabam não possuindo as evidências necessárias de rastreabilidade ou gestão.

Como fugir desta armadilha? A integridade e a maturidade dos processos geradores da informação é a chave para um reporte adequado. 

A abordagem denominada “Fazendo a coisa certa” (Getting it right), segundo a pesquisa, consiste na ação equivalente à de organizações que adotam uma postura mais conservadora, priorizando a construção de sistemas de informação de dados socioambientais e processos de consolidação e registro de evidências, em vez de uma pura e simples superexposição de realizações, que muitas vezes não tem como demonstrar ou manter. 

Além disto, visando evitar a compilação dos dados e indicadores uma única vez por ano (o que denotaria falta de gestão), estas organizações utilizam auditorias externas trimestrais dos dados socioambientais, o que reduz o tempo da auditoria anual e indica lacunas ao longo do processo e a tempo de serem corrigidas.

Mais detalhes sobre a pesquisa podem ser obtidos no link:


*Ricardo Zibas é gerente sênior da área de Climate Change & Sustainability Services da KPMG no Brasil.

Nenhum comentário: