A Vila Brasilândia tornou-se recentemente o primeiro exemplo no mundo de comunidade vulnerável em nível social a ser reconhecida como uma transition town, designação do movimento Transition Towns (Cidades em Transição), uma rede com mais de 300 cidades e bairros em 14 países com o objetivo de redesenhar o meio urbano com foco em sustentabilidade, a partir da multiplicação de ações locais.
Criado na Inglaterra, o movimento busca organizar a transição das cidades para a economia de baixo carbono e transformá-las em modelos menos dependentes do petróleo, mais integrados à natureza e mais resistentes a crises.
“A ideia é resgatar o sentido de comunidade e engajamento local e fazer com que ideias brotem dos próprios moradores”, explicou ao jornal O Estado de S.Paulo May East, diretora do Gaia Education, programa ligado às Nações Unidas que tem como objetivo treinar lideranças para disseminar o movimento. “Para as grandes cidades, uma alternativa é fazer a transição pelos bairros”, acrescentou.
Um bom exemplo tem sido implementado na Vila Brasilândia, bairro da zona norte da capital paulista formado por mais de cem favelas. Ele é o pioneiro entre as comunidades de baixa renda a adotar iniciativas em harmonia com as cidades em transição.
Vila da transformação socioambiental
A responsável por levar os preceitos do movimento para a Brasilândia foi a Fundação Stickel, que iniciou a articulação no bairro há seis meses. Por lá são realizadas iniciativas de preservação ambiental no Parque da Cantareira (que faz divisa com o bairro); programas de geração de renda para mulheres acima de 35 anos e de segurança alimentar, que inclui o plantio de hortas urbanas em terrenos ociosos; e feiras de trocas para estimular a economia solidária.
Também merece destaque a parceria com a Fundação Florestal e a Sabesp, que prevê a capacitação de 30 moradores que vivem no limite do parque em recomposição florestal. A ideia é formar uma cooperativa para restaurar 7,7 hectares e, ao mesmo tempo, criar empregos “verdes” na Brasilândia, segundo explicou ao Estadão Monica Picavea, superintendente da Fundação Stickel, organização social que levou o movimento para o bairro.
“É desafiador preparar para a sustentabilidade uma região de grande vulnerabilidade social, sem equipamentos culturais e com uma população de 140 mil habitantes”, observou Picavea.
Até então, o movimento Cidades em Transição tinha o foco em bairros de classe média e alta, cujas necessidades básicas da população já são atendidas. “O Brasil está inovando em aplicar os preceitos do movimento a comunidades pobres em tão pouco tempo”, destacou a superintendente da Fundação Stickel.
No Brasil, capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre já abrigam iniciativas ligadas ao movimento, além dos municípios de Serra (ES) e Petrópolis (RJ) e o distrito da Granja Viana, na região metropolitana de São Paulo.
(EcoD)
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