Nossa habilidade de transformar mercados de commodities determinará o destino da natureza

Rhett Butler, do Mongabay

O sucesso dos governos e grandes corporações em eliminar a degradação ambiental de produtos que consumimos terá um papel essencial em determinar o destino das áreas selvagens restantes no mundo, disse um grupo de especialistas que falaram em um painel durante o Fórum Skoll para Empreendedorismo Social.



Reunindo-se em Oxford na última semana, o fórum incluiu WWF, grande grupo de conservação; Greenpeace, grupo de ativismo ambiental que é conhecido por suas campanhas coloridas para mudar práticas corporativas; Unilever, gigante de produtos de consumo que é uma das maiores compradoras de commodity do mundo; UNICA, associação que representa 140 produtores de cana-de-açúcar do Brasil; e Rankbank, o maior banco agrícola do mundo, com operações em muitos países com florestas tropicais chave.

Os painelistas discutiram e debateram como o mundo pode proteger florestas em face à crescente demanda por terras agrícolas devido ao crescimento da população e o aumento do consumo.

“No século XX resolvemos o problema populacional, mas no século XXI ainda temos que resolver o problema do consumo”, disse Jason Clay, vice-presidente de transformação de mercado do WWF, observando que as taxas de crescimento da população diminuíram drasticamente desde os anos 1970 e devem diminuir até 2050. “Nos próximos 40 anos precisamos produzir tanto alimento quanto produzimos nos últimos oito mil”.

“Se não tivermos como produzir alimentos nos próximos 40 anos, nós, como um grupo de conservação, podemos acabar. Não restará qualquer biodiversidade para salvar.”

Clay afirmou, portanto, que é vital fazer da produção de commodities tanto produtiva quanto mais sustentável, e já que grandes corporações controlam uma quantia crescente da produção e comércio, é essencial impor metas a elas. Apenas 300-500 companhias no mundo controlam 70% do comércio das 15 commodities chave ligadas à destruição e degradação de habitat. E menos de 100 corporações impactam metade da produção global.

Enquanto o WWF geralmente trabalha para engajar essas companhias, ajudando a “esverdear” suas operações, o Greenpeace tem uma abordagem mais contraditória, realizando campanhas agressivas contra corporações que acreditam não estarem fazendo o suficiente para evitar danos ambientais.

Por exemplo, em 2008, o Greenpeace teve como alvo a Unilever por seu abastecimento com óleo de palma, que os ativistas ligaram ao desmatamento na Indonésia. A campanha do Greenpeace incluiu o lançamento de um relatório de danos e o envio de ativistas vestidos com fantasias de orangotangos para invadirem uma assembleia geral da Unilever.

Gavin Neath, vice-presidente sênior para sustentabilidade da Unilever, foi sincero sobre a experiência de ser alto do Greenpeace.

“O Greenpeace estava certo em nos atacar”, declarou ele. “Estamos fazendo mais do que qualquer um, mas não estamos fazendo rápido o suficiente. O Greenpeace colocou-nos em ação.”

A Unilever viria a melhorar sua política de abastecimento, visando eliminar o desmatamento de sua cadeia de suprimentos.

O Greenpeace mais tarde foi atrás da Nestlé por causa do óleo de palma, usando um vídeo chocante que Pat Venditti mostrou para a audiência. O vídeo e a desastrosa resposta da Nestlé à campanha de mídia de acompanhamento social revelaram-se extremante prejudiciais à gigante de alimentos.

A empresa mais tarde estabeleceu uma das políticas mais restritivas de abastecimento com óleo de palma. A política mais tarde foi adotada por sua fornecedora de óleo de palma, a Golden Agri Resourses / PT Smart, que tem sido o principal alvo da campanha do Greenpeace.

A ameaça de uma ação do Greenpeace pode ser um forte motivador para companhias, disse Daniela Mariuzzo, diretora de responsabilidade social corporativa e desenvolvimento empresarial sustentável do Rabobank-Brasil, que estende créditos a agricultores e pecuaristas.

O Rabobank tem usado o vídeo do Greenpeace internamente para demonstrar o potencial risco de reputação de práticas ligadas ao desmatamento. O banco está estabelecendo políticas de empréstimo para 12 setores que considera “sensíveis” por causarem desmatamento e esgotamento de recursos naturais, incluindo o óleo de palma na Ásia e a soja e o gado no Brasil.

Punição e recompensa

Mas os painelistas concordaram que as companhias não deveriam ser apenas motivadas por punições. Elas precisam de recompensas também.

Macros Jank, CEO da UNICA, afirmou que sua indústria tem feito o possível para melhorar seu desempenho ambiental nos últimos anos, incluindo reduzir as queimadas, aceitar a proibição de expansão na Amazônia e Pantanal, e restaurar a vegetação ciliar. Mas a maioria dos compradores da indústria brasileira de cana-de-açúcar não está em mercados como a Europa, onde os consumidores ligam para o desempenho ambiental dos produtos que compram.

“Agora temos um excedente de produtos certificados”, declarou ele. “Onde está a demanda?”

No entanto, Clay, Venditti e Neath disseram que a demanda do consumidor tem um papel importante, mas limitado, em conduzir a transformação de mercado.

Observando as dificuldades que muitos consumidores têm em fazer as escolhas “certas”, Neath afirmou que as corporações têm que fazer sua parte para eliminar problemas como o desmatamento de suas cadeias de suprimento.

“As companhias têm que solucionar os problemas ambientais das escolhas dos consumidores”, afirmou ele.

“Os consumidores não deveriam ter que escolher por sustentabilidade – tudo nas prateleiras deveria ser sustentável”, observou Clay, acrescentando que produtos sustentáveis deveriam ser mais baratos do que os não sustentáveis, embora hoje normalmente o inverso seja verdadeiro.

Calcular os custos ambientais poderia ajudar.

Dan Nepstad, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que participou da discussão, declarou que o mundo está indo em direção a padrões que incorporam externalidades sociais e ambientais na precificação.

“O Brasil atingiu uma redução de 2% nas emissões globais cortando o desmatamento, assim como o Protocolo de Quioto, mas isso não foi compensado”, disse ele. “Essa é uma falha de mercado colossal.”

Andrew Mitchell do Programa Global Canopy concordou.

“O papel dos sinais de preço é realmente importante para salvar as florestas”, afirmou ele.

Até que os custos de danos ambientais sejam precificados na produção de commodities, não há nenhum desincentivo para derrubar florestas. Clay declarou que as emissões de carbono são um bom ponto para começar e sugeriu que pagamentos de carbono poderiam fornecer incentivos para produtores se juntarem a mesas-redondas de commodities, que visam reduzir a pegada ambiental da soja, açúcar, óleo de palma, gado e produção de biocombustível.

O papel do governo

Muitos participantes do fórum concordaram, no entanto, que as mesas-redondas focadas em sustentabilidade só podem mudar os mercados até certo ponto.

Clay declarou que a certificação tende a mudar assim como os líderes em um mercado. Cerca de 10-20% do mercado – o que tipicamente é mais do que a metade dos danos ambientais –responde apenas à intervenção governamental.

Membros do painel sugeriram que já que a disposição do mercado para pagar um prêmio por produtos certificados parece limitada, os governos poderiam reduzir as taxas de importação em produtos agrícolas certificados para criar condições equitativas.

O bioetanol produzido a partir da cana-de-açúcar brasileira e certificado sob a iniciativa Bonsucro poderia, portanto, entrar nos mercados europeus ao mesmo preço que a cana-de-açúcar produzida sem nenhum padrão social ou ambiental.

Mas para transformar realmente os mercados em longo prazo, os governos têm que estabelecer quadros jurídicos, segundo Venditti, do Greenpeace.

“A certificação pode ser uma ferramenta poderosa, mas não será a ferramenta que conduzirá mudanças”, observou ele. “Precisamos ir além disso para mudar a dinâmica política em países com florestas para fazer disso uma solução. Educar o consumidor é educar os eleitores.”

“Se não trouxermos as políticas públicas para isso, será muito difícil trazer isso para a grande escala.”

Clay acrescentou que já que apenas 12% da alimentação é comercializada por fronteiras internacionais, visar aos mercados domésticos – que são movidos por intervenção governamental – é essencial. E as corporações têm que trabalhar com os governos para reformar o sistema.

Venditti concordou que adversários teriam que se tornar aliados se esperamos resolver os problemas ambientais.

“Não estamos no negócio de transformar companhias para transformá-las”, declarou ele. “Estamos interessados em como a transformação reduz o desmatamento.”

“A questão agora é se isso conduzirá uma mudança setorial. Procuramos por mudanças transformadoras nos setores.”

* Traduzido por Jéssica Lipinski


(Instituto CarbonoBrasil)

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