Pequenas ações, grandes mudanças.

Um projeto de sustentabilidade que não tenha um programa cultural promove o nada”, diz Ricardo Trento. À frente de diversos projetos de responsabilidade social, o líder da Trupe da Saúde ensina: não existem projetos ruins – existem idéias mal formatadas.
 

Uma década atrás, o ator e produtor cultural Ricardo Trento foi acompanhar o pai em um checkup de rotina num hospital em Curitiba. Ele se espantou com o clima de tristeza que viu entre os pacientes pelos corredores e quartos. “Quanta gente poderia ter acesso à arte aqui dentro”, foi a primeira coisa que pensou. Dez anos depois, a Trupe da Saúde é uma das mais bem sucedidas experiências que se conhece no Brasil de projetos que levam cultura de maneira transversal – quer dizer, fugindo da verticalidade dos projetos convencionais e levando em conta que a cultura é o único segmento que permeia todas as outras atividades humanas.
Criador e criatura: Ricardo Trento e a sua Trupe da Saúde, projeto carro-chefe da UniCultura 



















Atores com especialização em clown e técnicas de improviso, preservando as características do palhaço, percorrem hospitais de Curitiba de leito a leito, de departamento a departamento, levando a fantasia uma arma infalível: o humor. “O riso humaniza o ambiente” – aprendeu Ricardo. O projeto conta com uma equipe de 22 pessoas (12 atores e uma equipe de produção) e se sustenta na Lei Rouanet, a Lei da Cultura que permite o incentivo das empresas através do Imposto de Renda até o limite de 4% do IR devido e para pessoa física o limite é 6% do IR devido quando este faz a declaração completa. “Quando penso em sustentabilidade penso que a primeira ação é cultura.
Um projeto de sustentabilidade que não tenha um programa cultural promove o nada. Não há transformação social,  científica, tecnológica, aumento do IDH sem proposta de acesso e formação cultural. Tudo passa pela arte” – ensina Ricardo. Com a Trupe da Saúde nascia também Trento Comunicação, que começou em 2000 como uma agência de  comunicação através da arte, utilizando as leis de incentivo, e UniCultura, uma ONG que fomenta e atrai investimentos financeiros e contribui com empresas em projetos de desenvolvimento social desportivos, de inclusão social, de  formação e capacitação, de geração de emprego e renda e de comunicação colaborativa.
“Deixamos de ser uma empresa com finalidade em si para ser um instrumento de desenvolvimento social” diz Trento. “Não há projetos ruins, há idéias mal formatadas” – é a máxima de Ricardo. Nesta entrevista ele fala de seu trabalho e do alcance da cultura como ferramenta de desenvolvimento sustentável.
SB – Qual o alcance dos projetos culturais na vida das empresas?
Ricardo Trento – Nosso olhar e percepção são treinados para ver um mundo administrado pelos números, e isto é um grande engano. Se é pelo desenvolvimento econômico que se chega ao desenvolvimento social então é verdade que a empresa deixa de ser uma finalidade em si para ser este instrumento que também é responsável pela qualidade de vida do povo. Todo o projeto que é gestado na Trento usa o conceito da transversalidade, que trata a cultura em seus mais diversos conteúdos e manifestações: educação, saúde, esporte, inclusão social, atuação com criança e adolescente,  turismo, etc.
SB – Como os projetos se viabilizam?
Ricardo Trento – Como a empresa ainda tem seu foco de investimento de comunicação na grande mídia, utilizamos as leis de incentivos para poder viabilizar as ações culturais e sociais que costumam estar longe da visão estratégica das empresas tradicionais, cujos gestores e operacionais corporativos entram no mercado de trabalho sem formação  cultural, humana e pouco estimulado a desenvolver-se. Essa má formação é responsável pelo fracasso e estagnação de muitas empresas. É aí que entramos, ajudando a desenvolver e formatar as idéias.

SB – O que os projetos representam para empresas que buscam sustentabilidade?
Ricardo Trento – Representam muito. A finalidade sempre é o resultado que se colhe com cada projeto. Quando a  empresa investe em projetos sociais só para melhorar sua imagem, sem um conceito de mudança, os resultados são  ruins, a empresa perde credibilidade. Quando o projeto social é uma mentira, ao final se constata que todos perderam tempo e dinheiro desperdiçados. Quando penso em sustentabilidade penso que a primeira ação é uma ação cultural, pois a cultura promove a transformação. Tudo passa pela arte.
SB – A Trento Comunicação e a UniCultura trabalham em conjunto. Qual o foco destas duas instituições?
Ricardo Trento – Para 2011 o foco das duas instituições começa se redefinir. UniCultura como formação,  desenvolvimento de projetos e atração de recursos para pólo de investimentos sociais. E a Trento como executora,  criação de estratégias de comunicação colaborativa, de conteúdos de mídia livre e de novos modelos de comunicação com o público.
SB – Como você presta seus serviços, como é que orienta e como encaminha as idéias de clientes, parceiros, etc?
Ricardo Trento – Nada disso é possível sem uma boa equipe de trabalho. O cliente que nos procura encaminha seus projetos para avaliação da nossa equipe técnica. Não há projetos ruins, há idéias mal formatadas. Há também aquelas que já fazem parte de pensamentos vencidos, ultrapassados. A sociedade anda a passos largos, e o conhecimento aliado a arte promove a evolução do conceito. Então orientamos como serviços de consultorias. E atendemos o cliente/parceiro desde a formatação do projeto, escolha de projetos para patrocínios, toda a cadeia produtiva e econômica desde contratação e indicação de profissionais para os projetos até a prestação de contas.S
SB – Quais projetos fazem um mundo melhor?
Ricardo Trento - O mundo melhor se faz com pequenas ações e locais. Agir onde se está. Isso faz um mundo melhor. Projetos que mostram a boniteza da vida. Você não imagina a satisfação que dá perceber o olhar intrigado de uma  criança quando o Dr. Palhaço entra no quarto. Ou ver uma criança de 7 anos subir num palco: tão pequenina seus pés ainda não alcançam o pedal do piano, mas logo ela será uma jovem concertista. Estas pequenas coisas mudam o  mundo.
Trupe em Visita

Fonte: Revista Sustenta Brasil

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