Desafio de ser empresa verde


O tema sustentabilidade tem se tornado comum nas discussões feitas nas empresas, mas a primeira questão que deve ser feita é o que a empresa está fazendo agora para garantir o direito futuro ao ar e água limpos, solo fértil, clima estável e uma sociedade mais igualitária. 

Trabalho há quase 15 anos no setor de telecomunicações, considerado um dos mais limpos da economia devido ao baixo impacto ambiental, mas nem por isso nossa preocupação com a sustentabilidade do planeta é menor.

Com uma rede de telecomunicações totalmente projetada em minimizar o consumo de energia elétrica dos seus armários ópticos, sede da empresa certificada pela ISO 14001, metas ambientais para os associados (como são chamados os colaboradores da empresa), adoção de padrões internacionais de controle e, finalmente, considerada a empresa modelo em práticas ambientais no setor de telecomunicações, ainda assim acredito que é pouco. 

Sustentabilidade ambiental é uma questão de cultura, e cultura se constrói durante décadas.

Então, até onde uma organização precisa ir para ser uma empresa efetivamente verde? Longe, muito longe. Aqui não estou falando de limites geográficos, mas, sim, de influência, uma influência positiva, consciente, constante e multilateral. 

Que ultrapasse o espaço físico da empresa e atinja os lares dos associados, dos seus vizinhos, da comunidade, dos fornecedores e parceiros. E é assim que conseguimos transformar o dinheiro que circula em toda a nossa cadeia produtiva em “dinheiro verde”. 

De nada adianta apenas o CEO querer implantar a sustentabilidade na empresa. Os demais líderes precisam aderir à causa para que a mudança de fato aconteça.

E é no costume de todo o dia e nas coisas mais básicas que se floresce a cultura, se estabelece uma rotina e nascem ideias. 

Aliás, foi de uma dessas ideias simples, vinda de um parceiro, que surgiu uma solução para a destinação das bolhas (cúpulas) dos telefones públicos. Como são feitas de fibra de vidro, o material não podia ser reciclado se sofresse qualquer dano, assim, com os anos, milhares de cúpulas sem uso se acumulavam em um galpão da empresa. 

Até que se imaginou colocar a bolha com a abertura para cima no chão e transformá-la em cocho para boi. Com a ideia, todas as cúpulas de orelhões foram doadas para fazendeiros e pecuaristas, dando um destino melhor para um passivo do setor de telecomunicações aparentemente sem solução.

Antecipar-se à mudança de valores em curso na sociedade e oferecer produtos e serviços com atributos socioambientais – além de um bom desempenho – transformam desafios em oportunidades de negócio. 

Quando cito o exemplo das bolhas é para refletirmos que seria muito difícil a empresa ter encontrado essa alternativa dentro do escritório. 

As organizações pecam ao ter uma visão parcial ou acreditar que os vultuosos investimentos em P&D e inovação são os caminhos do futuro. É preciso estar aberto. 

Segundo John Elkington (criador do conceito do Tripple Bottom Line ou 3 P’s), “estamos melhorando, mas sem conseguir realmente quebrar a ‘barreira da sustentabilidade’. 

Antes de fazer barulho externo e realizar campanhas falando sobre sustentabilidade, é preciso inserir o tema na estratégia e trabalhá-lo internamente.

É disso que falo: quebrar barreiras. 

Muitas vezes, as respostas estarão dentro dos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, das áreas de inovação e novos produtos, mas, às vezes, elas se escondem nos lugares mais improváveis, como nos cochos para boi.

Cristiana Heluy de Castro – Bacharel em Direito 

Diretora de Comunicação, Marca e Sustentabilidade da Algar Telecom

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