Boas práticas podem cortar emissões globais em 5 GtCO2 por ano

 Autor: Fernanda B. Müller   -   Fonte: Instituto CarbonoBrasil

Estudo avalia que políticas com o objetivo de melhorar e incentivar o setor de energias renováveis apresentam as maiores oportunidades para a mitigação das emissões de gases do efeito estufa


Mais de 5 gigatoneladas de dióxido de carbono (GtCO2) poderiam deixar de ser liberadas para atmosfera se todos os países adotassem políticas de boas práticas em apenas quatro áreas temáticas, afirma um novo estudo sobre instrumentos para melhorar a ambição das ações voltadas às mudanças climáticas antes de 2020.

Segundo os autores, esses quatro setores seriam energias renováveis, veículos leves, produção de combustíveis fósseis com foco na geração de metano e equipamentos elétricos. Já entre as boas práticas estão medidas como tarifas feed-in, investimentos em infraestrutura e padrões de qualidade.

O relatório foi elaborado pelo Ecofys, Instituto Öko e Instituto ISI Fraunhofer a pedido do Ministério do Meio Ambiente alemão e visa contribuir com as negociações para um novo acordo climático internacional.

A adoção de boas práticas no setor de apoio às energias renováveis oferece as melhores oportunidades de corte nas emissões, com um potencial estimado em 3,6 GtCO2 por ano até 2020, ressalta a publicação. 

Essas medidas estão cada vez mais populares em muitos países, não apenas pelo seu potencial de ‘descarbonização’, mas também devido aos múltiplos co-benefícios, como a eletrificação rural, melhoria na segurança energética, entre outros. 

O estudo constatou que as políticas mais ambiciosas no setor de renováveis em países industrializados podem levar a um corte anual de entre 2-3% na intensidade das emissões nacionais na produção de eletricidade. 

O potencial nos países menos desenvolvidos também é grande, sendo que o Marrocos conseguiu cortes anuais de 4% nos últimos anos.



As análises mostraram que os instrumentos de mercado mais populares no setor de renováveis em países industrializados são as tarifas feed-in (alimentação da rede) e contratos de compra. 

Já nas nações em desenvolvimento, investimentos feitos pelo setor público continuam sendo a principal forma de incremento na geração de fontes renováveis devido à ausência de ambientes atrativos para o setor privado. Essa continua sendo uma barreira elementar para o desenvolvimento do setor nesses países, afirma a publicação. 

No geral, entre as principais barreiras encontradas para o avanço das boas práticas no uso de energias renováveis estão a má qualidade e insuficiência de infraestrutura das redes de transmissão e questões regulatórias ao redor do mundo.

Automóveis

Impulsionados pelos compromissos de cortar emissões, mas também pelo aumento da demanda dos consumidores, os instrumentos políticos voltados para veículos leves também apresentam um bom potencial de redução na liberação do CO2, podendo alcançar 0,6 Gt anualmente, aponta o relatório. 

Além de reverter a tendência de crescimento nas emissões deste segmento, estes instrumentos significam também cortes no custo dos combustíveis, melhoria na qualidade do ar e diminuição da dependência de combustíveis importados. 

As boas práticas avaliadas pelo estudo preveem melhorias na eficiência dos combustíveis entre 4-7% anualmente entre 2015 e 2020, com a meta da União Europeia sendo a mais ambiciosa – 26,3 km/litro para veículos leves até 2020. 

As análises mostram que as práticas mais comuns são a determinação de padrões com mecanismos flexíveis para o seu cumprimento.

Outros setores

O relatório também avaliou o caso da Rússia, focando na geração de metano proveniente da produção de combustíveis fósseis. O país adotou uma política de corte na queima (flaring) relacionada à produção de petróleo e gás. 

As análises mostram que, se a política for atendida, em 2020 as emissões podem cair em mais de 80% em relação ao nível de 2010. 

Se os cinco principais países que mais realizam essa queima adotarem políticas similares, estima-se que cerca de 100 milhões de toneladas de CO2 equivalente podem deixar de ser emitidas em 2020.

Outro caso avaliado foi o das melhorias na eficiência de equipamentos elétricos, segmento bem explorado por muitos países através da adoção de padrões. Políticas de boas práticas na UE, Japão e Coreia do Sul apresentaram preferências por padrões e etiquetagem, com incentivos fiscais sendo aplicados como medidas de apoio.

Na UE, onde dados suficientes são encontrados, o relatório constatou que as medidas de boas práticas resultaram em ganhos de eficiência em cerca de 1,5% ao ano desde 2000. 

Porém, devido ao aumento no uso de equipamentos, a tendência das emissões ainda é de crescimento a uma taxa de 1% ao ano.


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