Sustentabilidade: menos lágrimas, mais neurônios


Parar de usar elevador e usar escadas também faz bem para a saúde. Lavar roupa a mão e carregar pianos nas horas vagas também. Mas não é por isso que vou acreditar que as pessoas vão começar a fazer isso


Fábio Zugman

Como fiquei feliz com o resultado do meu artigo sobre olhar a sustentabilidade de um modo mais sério e prático, resolvi continuar.

O jornalista João Carlos Santana da Rádio CBN recentemente chamou a atenção para o fato de que por dia, 9 ciclistas são internados em hospitais públicos de São Paulo por causa de acidentes de trânsito, com pelo menos uma morte.

Vamos contrastar isso com o movimento cada vez maior que insiste que a solução para nossas cidades é incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte. Para ser justo, não é um movimento só brasileiro. O famoso padrão LEED de construção para edifícios, por exemplo, que é um selo de origem norte-americana que certifica que uma construção passa por vários pré-requisitos “sustentáveis”, premia a construção de infra-estrutura como bicicletários e chuveiros para ciclistas em prédios comerciais. 



Algo que faz sentido em diversas localizações mas dificilmente se justifica em prédios juntos à marginal. (não vou citar nomes, mas sim, existem prédios com bicicletário na Marginal paulista, um ato tanto de consciência sustentável e de suicídio assistido aos que se aventurarem a pedalar por lá).

E é basicamente isso o que me deixa chocado ao ver esses “movimentos”. Uma pesquisa na Internet me contou que o uso maior de bicicletas ia “exercer menos pressão sobre a matriz energética”, “diminuir os problemas de trânsito”, “resolver problemas de mobilidade” entre outras maravilhas. Também não é difícil achar relatos sobre as maravilhas para a saúde.

Como alguém já disse, parar de usar elevador e usar escadas também faz bem para a saúde. Lavar roupa a mão e carregar pianos nas horas vagas também. Mas não é por isso que vou acreditar que as pessoas vão começar a fazer isso (aliás, não consegui disfarçar minha expressão facial quando conheci uma das representantes de um desses movimentos pelo uso de bicicleta como meio de transporte na cidade de São Paulo. 



Duvido que ela usasse uma bicicleta como transporte para andar pela cidade, apesar dela aparentar ser capaz de engolir uma inteira no café da manhã).

Além de não querer andar por aí de bicicleta, basta olhar pela janela em um bom dia de trânsito para me fazer pensar: Sim, gosto do mundo, mas prefiro continuar vivo. As ruas, mesmo com ciclovias, são estreitas, e sempre há trechos pequenos demais entre um erro e um carro de algumas toneladas.

A grande questão aqui não são as bicicletas. Será que a melhor solução, em pleno século 21, é colocar o pessoal para pedalar na rua?

Uma notícia recente da Businessweek diz que não. Segunda a matéria, a prefeitura de Tel Aviv em Israel está trabalhando para tornar realidade um projeto de transporte criado com tecnologia da NASA.

A ideia é simples: Uma espécie de teleférico super moderno. São cápsulas de transporte para duas pessoas, em um trilho elevado que funciona por magnetismo. Você entra em um veículo desses, aponta em uma tela em que estação que chegar, e trilhos magnéticos te levam até lá. 



Em silêncio, com uma vista panorâmica, substituindo táxis, ônibus e outros transportes muito mais poluentes. Como o sistema é magnético, não há manutenção de freios e rodas, o que mantém o custo de operação bastante baixo. As estimativas é que ele custe um pouco mais que um ônibus e menos que um taxi.


Foto: Skytran

Pelas estimativas, algo assim sairá em torno de 50 milhões de dólares para a primeira linha, de pouco mais de 6 quilômetros. Parece caro? Pense nas horas engarrafadas que se perde nas cidades brasileiras hoje em dia, nas internações e mortes por acidente, no combustível e impacto ambiental. 

Não sou urbanista, mas mesmo em uma cidade como São Paulo, aposto que 3 ou 4 dessas linhas fariam maravilhas.

Na verdade pouco me importa se a iniciativa de Tel Aviv ou essa tecnologia específica vai dar certo. O que chama a atenção é que eles estão tentando. Voltando ao Brasil, qual foi a última vez que você viu um político ou instituição brasileira tentar algo REALMENTE inovador? 



E isso que eu passei a maior parte da minha vida em Curitiba, uma cidade que se orgulha de suas inovações - Propostas pelo governo de Jaime Lerner há mais de 20 anos atrás.

Então, por favor, parem de bater em teclas velhas e desgastadas. Andar de bicicleta é ótimo para quem gosta. Assim como surfar e saltar de paraquedas tem seus admiradores. Não é, no entanto, solução para todos. Problemas modernos exigem pensamento modernos, iniciativas ambiciosas e análises com foco no futuro.

De novo, menos lágrimas, mais neurônios.


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