Por Bettina Barros | De São Paulo
Fonte: Valor Econômico
Gabriela Burian, gerente de sustentabilidade da Monsanto, diz que companhias têm dificuldade para montar os times
Profissionais em alta, os especialistas em sustentabilidade podem dizer que não só são cada vez mais cobiçados no mercado brasileiro.
Eles também já ganham salários compatíveis com seus pares na empresa e deixaram de ser vistos como aquela turminha de "ecochatos" que chega para atrapalhar a festa.
Uma pesquisa inédita encomendada pela recém-constituída Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps) mostra que o conceito - que preza o cuidado com o ambiente e a sociedade, além do progresso econômico - tem sido incorporado nas políticas empresariais do país, que passaram a destacar profissionais exclusivos para o tema e, em alguns casos, até diretorias.
Não por acaso, a citação "a sustentabilidade está no nosso DNA" entrou como um mantra no discurso de um número significativo de empresas e seus balanços socioambientais.
Apesar da amostragem pequena, com somente 23 empresas, e a falta de levantamentos anteriores como base de comparação, a pesquisa indica que a área tem ganhado peso.
Realizada pela Deloitte, ela mostra que 65% das companhias de diferentes segmentos da indústria possuem hoje estagiários dedicados exclusivamente para questões de sustentabilidade, sendo em média dois estagiários por empresa, e todas possuem uma área específica ligada ao tema.
Além disso, 26% das companhias analisadas afirmaram que pretendem ampliar o quadro de funcionários nesse setor ao longo de 2012 e 74% manterão a quantidade atual de colaboradores - o que, nesse caso, é visto como algo positivo.
"Ouvimos de muitos profissionais que a área de sustentabilidade precisa ser enxuta mesmo, pois o conceito deve ser disseminado na organização e não ficar confinado a esse departamento", explica Fábio Mandarano, gerente de capital humano da Deloitte e responsável pela pesquisa.
Segundo Mandarano, foram mapeados somente os profissionais que atuam a maior parte do tempo (mais de 70%) em atividades diretamente relacionadas aos assuntos de sustentabilidade como responsabilidade social e ambiental, cidadania corporativa, responsabilidade corporativa e investimento social privado ou similar. "Descartamos os profissionais que têm a sustentabilidade apenas como mais uma de suas atribuições", diz.
Questionadas sobre a abrangência dessas práticas, 52% das empresas afirmaram estar em uma fase "madura" de desenvolvimento.
Isso significa ter uma estratégia de sustentabilidade pensada para a empresa como um todo, com uma visão de longo prazo, políticas integradas e processos bem definidos. Já 17% das participantes disseram estar no estágio denominado como "líder" - onde a cultura de sustentabilidade é intrínseca, as metas são claras e as metodologias e ações são inovadoras.
As 31% restantes revelaram estar no nível "em desenvolvimento" de sustentabilidade, no qual a política para a empresa tem uma visão de curto prazo (um a dois anos) e as diretrizes e as responsabilidades são comunicadas informalmente.
A formação de um departamento específico ou a incorporação desse tipo de profissional ao quadro de funcionários ainda gera dúvidas nas empresas. No entanto, Gabriela Burian, gerente de sustentabilidade da Monsanto no Brasil, diz que a expansão desse setor é sentida no dia a dia de trabalho.
"Toda semana me liga alguém querendo saber da nossa experiência na estruturação da sustentabilidade", diz a executiva, uma engenheira agrônoma de formação que fez carreira na multinacional americana até ser destacada para o posto atual.
"As empresas estão montando os seus times mas não sabem muito bem como fazer", explica ela, referindo-se ao fato de a sustentabilidade ser um assunto relativamente novo no mundo empresarial.
As dúvidas - inclusive de headhunters - vão desde que tipo de profissionais podem atuar em sustentabilidade ao salário que recebem. "Como só existem cursos de especialização na área, eles têm formações diferentes, geralmente no setor financeiro, administrativo, vendas e jurídico", diz Gabriela.
"Até prefiro esse perfil, pois são profissionais que aprendem o conceito de sustentabilidade e que também entendem de internalização de custos e fluxos de mercado, por exemplo. Quem só lidou com sustentabilidade costuma fazer negócios com muita emoção".
De acordo com Mandarano, da Deloitte, a remuneração nesses departamentos ainda é definida caso a caso, levando em conta fatores como o tamanho da empresa, a importância que ela dá ao assunto e o quilate do profissional recrutado para a função.
Por esse motivo, a pesquisa mostra que os salários variam em uma escala ampla que vai dos R$ 2 mil até R$ 25 mil. "De todo modo, eles ganham o mesmo que os seus pares em outros departamentos da empresa e os mesmos benefícios", diz.
Fonte: Valor Econômico
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