A Arquitetura da Sustentabilidade Empresarial

As empresas que objetivam estabelecer posicionamento estratégico através da incorporação dos valores e princípios sustentáveis,devem transmitir de forma efetiva ao seu publico de que esta atitude não se trata apenas de uma ação pontual, mas sim, de uma política corporativa de sustentabilidade...


O artigo a seguir tem como objetivo servir como um argumento adicional à reflexão sobre a questão da Sustentabilidade Empresarial e suas interfaces.
 
A Arquitetura da Sustentabilidade corresponde à arte de projetar e edificar o ambiente habitado pelo ser humano em comunhão com as 4 dimensões que constituem o Desenvolvimento Sustentável.

O resultado desta ação deve criar um ambiente que seja:
1- ecologicamente correto;
2- economicamente viável;
3- socialmente justo; e
4- culturalmente aceito.

Em consonância com tais dimensões o artigo discorrerá sobre como estruturar e implementar no âmbito corporativo uma política corporativa de sustentabilidade.
As empresas que objetivam estabelecer o seu posicionamento estratégico através da incorporação dos valores e princípios sustentáveis,devem transmitir de forma efetiva ao seu publico de que esta atitude não se trata apenas de uma ação pontual, mas sim, de uma política corporativa de sustentabilidade a ser implementada em médio e longo prazo com iniciativas mensuráveis e com metas bem definidas.

Diante deste pressuposto, uma política corporativa de sustentabilidade que seja abrangente e integradora deve ser concebida de acordo com o seguinte modelo:
O passo inicial será o entendimento e avaliação da cultura empresarial existente, sendo examinados missão e valores,observando-se o grau de atenção direcionado aos temas socioambientais. A seguir, a análise do Plano de Negócios (BP) buscando o entendimento em como serão realizadas as metas de sucesso estabelecidas em médio e longo prazo e as correlações pragmáticas com as dimensões do triple botton line (triplo resultado).

O Balanço Anual de resultados será avaliado e entendido onde e como são alocados os passivos e os ativos socioambientais.

Somente após a avaliação detalhada destes macroindicadores torna-se viável a concepção de qualquer política corporativa de sustentabilidade que norteará a visão estratégica da empresa .

Mas isto não é tudo!
Para a concepção deste instrumento é fundamental o comprometimento e engajamento de toda a alta gestão da corporação, seus acionistas os quais passam a adotar os preceitos do TBL compreendendo-os como imprescindíveis à perenidade da operação da empresa.Próximo passo; engajamento das "partes interessadas" ; colaboradores, cadeia de fornecimento e clientes, órgão públicos, ONGs, enfim o extenso universo de entorno à corporação.

Não é tarefa fácil, vale mencionar.
Por fim, internamente, os relatórios gerenciais e operacionais, referentes aos processos produtivos, verificando-se a regularidade e o conteúdo reportado, com indicações de correção de desvios.

A existência de reportes periódicos referentes às iniciativas pode indicar um parte de caminho já percorrido dentro da empresa, facilitando a concepção e implementação de uma política corporativa de sustentabilidade. Estas iniciativas correspondem aos projetos mais operacionais, diretamente ligados aos processos.

A política deve ser concebida em acordo com as dimensões ambiental, social e econômica (TBL), sendo a questão cultural inserida dentro da dimensão social.
As metas para o sucesso da implementação da política na empresa devem ser projetadas respeitando-se o grau de flexibilidade para mudanças (monitorado por indicadores específicos) e sua capacidade para absorção e amadurecimento da nova cultura, agora com o viés da sustentabilidade.

Alguns resultados concretos podem ser monitorados e avaliados em curto prazo, ao fim dos primeiros dois anos. O restante deverá ser identificado e avaliado em médio e longo prazos, a partir do terceiro ano em diante.
Os resultados serão contínuos dado que a característica original da sustentabilidade é seu dinamismo. Será um ciclo virtuoso que periodicamente retornará ao inicio para rever objetivos e metas.

As dimensões do triple botton line são concomitantes e uma diversidade de iniciativas transversais coexistirá de forma simultânea. A seguir comentamos algumas delas:

- Gestão da Energia ou Eficiencia Energética: ações de reavaliação estratégica e redesenho de processos cujo resultado pode indicar adoção de iniciativas para otimização do uso da energia. Uso intensivo de energia significa pode ônus. Portanto, usar de forma racional é primordialmente importante para a empresa e para o planeta.

- Gestão de Resíduos: adoção de iniciativas que apresentam as melhores práticas no trato dos resíduos gerados antes, durante e após os processos. Coleta,  armazenamento, transporte e destinação final adequada  reduzem o custo da operação, além de contribuir para a preservação dos recursos naturais.

- Gestão dos Recursos Hídricos: água é um recurso finito e caro. Algumas ações podem reduzir seu uso e custo. Por exemplo, a implantação de ETEs (estação de tratamento de esgotos); a captação e uso de águas pluviais, a contratação de água para reuso; a adoção de equipamentos mais eficientes e a implantação de métodos que apontem sua produtividade (input X output). Estudos recentes de Analise de Ciclo de Vida (LCA) apontam que a água é utilizada em uma escala muito acima do que se imagina e contabilizado de forma inadequada no computo geral do custo dos produtos.
- Gestão das Emissões dos GEE[1]: regularmente a primeira ação tomada é a realização de um inventário de emissões para identificar o quanto e onde a empresa está emitindo. Depois parte-se para a gestão e se possível, a redução das emissões de GEE.

-Gestão de Stakehoders: a agenda social da sustentabilidade.
Podem ser considerados "atores participantes" (stakeholders) ao entorno do projeto: comunidades, associações de bairro, grupos jurídicos, promotoria pública, associações religiosas, escolas e universidades, colaboradores da empresa, acionistas (stockholders), consumidores, fornecedores, entre outros.
Diversas iniciativas podem ser concebidas e implementadas.
Para o Público Interno;criação e adoção de políticas de remuneração e reconhecimento, planos de carreira, assistência para saúde, suporte para especializaçã0 profissional.
Para o Publico Externo; criação de estratégias e ações para a disseminação dos conceitos e das boas práticas da Sustentabilidade. Por exemplo, capacitando comunidades de entorno, fornecedores ou consumidores em como lidar com temas como consumo consciente, preservação e utilização dos recursos naturais, impactos ambientais, descarte adequado de resíduos e valores de cidadania.

- Governança Corporativa: concepção dos valores e diretrizes da empresa em consonância com os princípios de preservação ambiental, equidade social e lucratividade justa.
Incorporação de estratégias e ações efetivas de transparência empresarial para o publico. Na prática significa adoção de estratégias traduzidas por indicadores  que buscam apresentar de forma direta, transparente e acessível a performance empresarial norteada pelas boas práticas da Sustentabilidade Corporativa.
Alguns índices como o ISE-Indice de Sustentabilidade Empresarial, e o DJSI-Down Jones Sustainability Index agregam empresas que atendem aos pré-requisitos de sustentabilidade exigidos, contribuindo para criar valor real para as empresas.

- Green IT: iniciativas que acontecem a partir do ambiente de IT e são voltadas para redução do consumo de materiais e recursos naturais.
A reavaliação e redesenho de processos assim como o incremento do nível de utilização de alguns equipamentos, como por exemplo os Servidores.
São medidas que quando adotadas e alinhadas com a estratégia global da empresa podem resultar em reduções significativas do custo operacional ou da necessidade de recursos para investimento futuros.
- Plano de Comunicação com o Mercado: é o instrumento de interação e informação entre empresa e seus stakeholders.
Apresenta de forma estruturada, todas as iniciativas planejadas e em andamento assim como os benefícios econômicos e socioambientais obtidos.

Comunica o posicionamento formal da empresa podendo ter a forma de um Relatório de Sustentabilidade, divulgado em períodos específicos e mostrando a regularidade e continuidade da Politica de Sustentabilidade.

O plano de comunicação contribui diretamente para que o Mercado possa perceber o valor criado e incentivar a empresa à continuidade das suas ações.
O sucesso efetivo na adoção de uma política de sustentabilidade, deve construir valor real para o produto, empresa,individuo e comunidades.


A grande recompensa para a empresa será a preferência dada pelo consumidor/mercado que no momento da decisão da compra reconhece e escolhe o seu produto porque identifica nele os indicadores que endereçam ao esforço para obtenção da menor "pegada socioambiental".

E isto deve inexoravelmente estar expresso em seu rótulo (DNA), pois será esta informação básica que fará o link entre os "value drivers" do mercado e as propriedades e esforços sustentáveis do produto ou serviço.

Este conjunto de ações sistemicas rentabilizará os acionistas, criará valor às "cadeias" de entorno permitindo a continuidade e a  perenidade da atividade empresarial , e sobretudo disseminando o valor das ações e conceitos sustentáveis.

[1] GEE; gases que provocam o efeito estufa resultando no Aquecimento Global do planeta

Nenhum comentário: