Pesquisadores cariocas criaram materiais a partir de fibras de sisal e coco, enquanto paulistas utilizaram resíduos industriais
Aline Rocha
Concreto desenvolvido pela USP
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de São Paulo (USP) apresentaram projetos para a produção de concretos sustentáveis, fabricados a partir de resíduos industriais ou fibras naturais.
De acordo com a Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da UFRJ, a indústria cimenteira do Brasil produz cerca de 70 milhões de toneladas de concreto ao ano, número que pode chegar a 100 milhões nos próximos anos e contribuir para o aumento da emissão de CO2 na atmosfera.
Pensando nestes números, os pesquisadores do Laboratório de Estruturas e Materiais (Labest) da Coppe iniciaram uma pesquisa baseada na produção agrícola e na floresta tropical do país para descobrir materiais naturais e renováveis que podem reduzir a emissão de CO2 na produção de concreto.
De acordo com o Coppe, foram realizados testes com fibras de sisal e coco, materiais que se mostraram tão eficientes quanto às fibras sintéticas de polipropileno, nylon e amianto no reforço do concreto.
O sisal, por exemplo, fornece maior ductilidade e reparte melhor as fissuras do material.
Os pesquisadores também desenvolveram uma tecnologia para usar a cinza do bagaço de cana, resíduo da produção de açúcar e álcool, como substituto parcial do cimento. Além disso, o Coppe ainda realiza pesquisas semelhantes com plantas amazônicas como o arumã, a juta, a piaçaba e o curauá.
Já na USP, o concreto ecológico foi produzido pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) em parceria com a Escola de Engenharia da Universidade em São Carlos (EESC), no interior de São Paulo. No novo material, já patenteado em julho, são utilizados resíduos industriais.
O "concreto não estrutural", como foi chamado pelos pesquisadores, resulta da combinação de areia de fundição aglomerada com argila e escória de aciaria ou de alto-forno, resíduos despejados por companhias siderúrgicas e de fundição.
De acordo com o IAU, o novo concreto alcançou uma resistência de 56 MPa - a resistência convencional do material varia de 25 a 30 MPa.
Os pesquisadores alertam que por ser não estrutural, o concreto sustentável não pode ser usado em pilares e vigas. Porém, é possível fabricar bloquetes, guias, grelhas, sarjetas, contrapisos, blocos para alvenaria de vedação e outras peças de uso não estrutural.
Segundo o IAU, há também outro benefício na produção do novo concreto.
O processo conhecido como solidificação/estabilização (tecnologia S/S) realiza a encapsulação dos resíduos sólidos que compõem o concreto não estrutural, fazendo com estes sofram um processo de desintoxicação ou restrição de sua capacidade de solubilização, o que os torna menos tóxicos ao meio ambiente.
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