Fonte: Valor Econômico
São Paulo - Formado em filosofia e cantor de ópera em Ohio (EUA), Scot Horst deu uma guinada na carreira ao construir sua própria casa, nos anos 1980. Encantado com a experiência, criou em 1994 a consultoria Horst, Inc voltada ao design sustentável.
Cinco anos depois foi cofundador da consultoria para construções sustentáveis 7group, que presidiu em paralelo à direção do Instituto Internacional Athena, focado em análise de ciclo de vida dos edifícios.
Numa nova virada, deixou ambas em 2009, para assumir a vice-presidência do Green Building Council dos EUA (US-GBC), com o desafio da expansão internacional da certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), a mais difundida no mundo.
Fã da música popular brasileira, Horst esteve no Brasil para apresentar o Leed v4, próxima versão da certificação. A seguir, principais trechos da entrevista ao Valor.
Valor: Até que ponto o custo constitui uma barreira para quem quer aderir a uma certificação de sustentabilidade?
Scot Horst: Na construção de um edifício comercial de U$ 20 milhões, só 1% irá para medidas que garantem a certificação. Além de ser menos do que se imagina, é um investimento que retorna, por exemplo, pela economia de energia, se comparado a soluções tradicionais.
Mas nem todos precisam da certificação para ter casas e locais de trabalho sustentáveis.
Hoje, a internet é uma aliada na pesquisa e existem organizações não governamentais, como o próprio GBC, com informações e sugestões de práticas sustentáveis.
Valor: Então, qual a motivação para se investir na certificação?
Horst: Pode-se investir para ter uma postura cidadã, por uma questão de valores. Outro motivo são ganhos econômicos, pela adição de valor na venda do imóvel ou redução de custos na sua operação.
De modo geral, no caso do Leed, o movimento começa pelas companhias internacionais que certificam seus edifícios nos países onde estão estabelecidas. A partir disso, inicia-se a adesão local.
Valor: Pode dar um exemplo?
Horst: Três anos atrás tínhamos centenas de edifícios certificados na China, mas só de corporações internacionais. Agora, há cerca de dois mil edifícios de companhias chinesas certificados.
Isso é o que realmente gosto, criar um benchmark de edifícios sustentáveis. Mas lá ainda predomina a certificação de novas construções, ao contrário da Europa e EUA, onde cresce a busca pelo retrofit certificado, reformas que tornam os edifícios existentes mais eficientes.
Valor: Por que essa procura?
Horst: O uso dos computadores facilitou a criação de projetos, recortando e colando propostas anteriores, raramente adequadas para o novo espaço. Mas é mais fácil construir de forma inteligente do que ter de investir depois para tornar mais verdes edificações existentes.
Há outro perigo: a indústria da construção, fragmentada entre engenharia, arquitetura, construção e acabamento, que também pode ser prejudicial. As melhores soluções vêm de propostas integradas.
Valor: Como funciona o retrofit ambiental?
Horst: Normalmente começamos por propor uma análise de questões como o consumo de energia, de água, produção do lixo, por meio de um sistema de pontuação.
Por exemplo, no caso da energia, temos de conhecer como e quanto se consome, para sugerir soluções que podem incluir a reforma das janelas para ter mais luz, conscientização ambiental e a modernização das instalações. Feita a análise, em vez de impor soluções, nós damos ideias e você escolherá quanto e onde investir. A certificação depende da pontuação obtida.
Valor: Como propor uma certificação igual, em países e regiões que vivem realidades diferentes?
Horst: Temos um grupo de trabalho com representantes de 21 países para atender situações locais. O desafio é entender a região, para adaptar as exigências do Leed. Por exemplo, tenho visto que, no Brasil, é mais comum deixar janelas abertas que nos EUA, onde elas ficam permanentemente fechadas. São situações diferentes quanto à circulação do ar, que demandam respostas diferenciadas.
Outro desafio refere-se às certificações locais, que muitas vezes envolvem aspectos comuns e importantes.
No Brasil, o PBE Edifica é muito interessante, servindo como pré-requisito para o Leed. Estamos aprofundando esses temas no Leed v4, a nova versão da certificação, que já recebeu mais de 20 mil comentários públicos.
Entre as novidades, estamos trabalhando na simplificação no sistema de classificação, nas prioridades regionais, e no tema da análise do ciclo de vida. O lançamento será em junho de 2013.
Valor: Por que temos ainda tão poucos edifícios sustentáveis certificados no mundo, se comparado aos números da construção civil como um todo?
Horst: Acredito que mudanças culturais começam muito lentamente. Mesmo com a premência do aquecimento global, a urgência afasta. Temos de pensar que prédios permanecem por muito tempo, que o que fazemos hoje tem um impacto no longo prazo.
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