Cruzeiros marítimos e sustentabilidade

Enviado por luisnassif

Por Andre Araujo



CRUZEIROS MARÍTIMOS E SUSTENTABILIDADE - Os cruzeiros marítimos, como ramo da navegação de passageiros distinto do transporte de linha, nasceram nos anos 20 e se expandiram nos anos 30 para uma clientela basicamente anglo-americana que curtia o verão no Mediterraneo e ocasionalmente em longos roteiros volta ao mundo ou continentais. 

Um livro hoje clássico LINERS TO THE SUN, em grande formato, de John Maxime-Graham, descreve essa época glamourosa que foi muitas vezes fixada em romances e filmes, aonde os passageiros eram ricos com muito tempo e dinheiro, os cruzeiros desses anos dourados duravam no minimo 20 dias e muitos 30 ou 40 dias, o célebre cruzeiro do luxuoso NORMADIE de Nova York ao Rio de Janeiro, em 1938, durou 35 dias e foi matéria de intensa cobertura nas colunas sociais da época, eu mesmo autorei aqui no blog um post sobre esse cruzeiro. 

Os passageiros tinham que levar muta bagagem, os cruzeiros, como todos os navios de linha (na primeira classe) exigiam traje a rigor para jantar e eram palco de um desfile fashion durante o dia e noite no navio e nos passeios nos pontos de visita.

Tenho uma coleção da revista FORTUNE dos anos 30 com muitos anúncios de cruzeiros da Italian Line, France Line, Loyde Triestino, Hamburg Amerika Line, Cosulich Line, os cruzeiros ja tinham se tornado um negócio de importancia. Já nessa década além do Mediterrâneo os cruzeiros descobriram as Bermudas e a Ilha da Madeira, os navios da Union Castle faziam o tour da África, que também fazia sucesso, a África colonial era bem mais civilizada e segura do que a África de hoje, com cidades limpas e organizadas, os cruzeiros dos Castle ofereciam também safaris.

No após guerra os cruzeiros voltaram para o mercado dos EUA que descobriu o Caribe como roteiro

Nos anos 60 e 70 todas as grandes companhias já estavam no Caribe, com destaque para os noruegueses, a Royal Norwegian, os holandeses, como a Holland América, a Costa italiana e novas americanas como Premier, Celebrity, Dolphin e a que seria a maior de todas depois, a Carnival.

Também ressurgiram os cruzeiros para a Europa, com as linhas suecas, alemãs e gregas se juntando ao mercado.

Foi nos no fim dos anos 60 que começou o ciclo de massificação e popularização do preço das passagens, fator que está na raiz dos problemas de sustentabilidade do setor nos nossos dias.

A competição com preços cada vez mais baixos levou a grandes mudanças na operação dos cruzeiros, quais sejam:

1.Navios com tonelagem cada vez maior.

2.Tripulações originarias de paises de mão de obra barata, especialmente Indonesia, Malasia e Filipinas.

3.Redução geral da qualidade de serviços, comida, espaço das cabines.

4.Introdução dos cassinos nos navios, arrendados para as grandes empresas de jogos de Las Vegas.

5.Redução da oficialidade tradicional dos navios, cada vez menos oficiais de maquinas e de navegação,, substituidos por automação cada vez maior na operação da nave.

As categorias de passageiros desapareceram dentros dos navios e foram substituidas por classes de navios. As linhas se especializaram,o Grupo Carnival comprou a Costa e a Holland America e passou a se concentrar no mercado classe C, os noruegueses ficaram com a classe média ou B e poucas linhas dedicaram ao mercado mais exclusivo, a Cunard e os Silverships, navios pequenos e muito caros.

Os preços de passagens se medem pela escala preço dia por passageiro, começando em 130 dolares e chegando a 1000 dolares por passageiro dia

No começo dos anos 2000 as linhas classe C descobriram o Brasil com a grande vantagem de ter um mercado interno que não exige transporte aereo para chegar aos portos, no mercado americano a passagem aerea do passageiro para chegar aos portos da Florida é paga pela companhia de navegação e uma enorme descoberta: os cruzeiros no Brasil são na baixa estação do Hemisferio Norte, quando a maioria dos navios ficam parados, a alta estação é no verão deles, Julho a Setembro..

Como até então toda a panilha de custo-ano do navio era calculada com o investimento no navio ocioso entre Novembro e Março, o fato de poder usá-lo nesse periodo parte de um custo de investimento ja amortizado pelos cruzeiros de verão no Hemisferio Norte, dai as passagens no Brasil serem tão baratas.

Os preços baixos para atrair clientela gerou a necessidade de baixar custos ao máximo e nesse ninho foi chocado o Comandante Schettino que afundou o Costa Concordia. Um bufão que não tem experiência, estatura e curriculo para comandar um gigantesco navio, trez vezes maior que o Titanic, no momento do desatre não apareceram os oficiais que deveriam organizar a evacuação da nave, não porque fugiram, é porque o navio simplesmente não tinha oficiais em proporção ao tamanho do barco e ao numero de passageiros, um oficial custa caro e quanto menos, menor o custo de operação.

Lembro-me do GIULIO CESARE em 1967, quando viajei de Santos a Lisboa, não se andava dez metros no navio sem cruzar com um oficial de elegante uniforme da Cia.Italia, em 2005, viajei no Costa Vitoria, em uma semana não vi um único oficial no navio, de italiano só o velho maitre do Restaurante Social, os demais tripulantes eram todos filipinos que só falavam tagalogue. 
É outro mundo, um navio com controle de navegação e máquinas completamente computadorizado, aonde qualquer minimo problema nos controles não encontra um humano experiente para assumir a solução, agravado por um comandante com cara de galã de pizzaria, sem nivel pessoal ou profissional para ser barman do navio, é uma especie de desastre anunciado como final de um processo de impossivel continuidade.

O Ministro do Meio Ambiente da Itália, Orlando Clini, declarou após o desastre do Costa Concordia que navios desse tamanho são insustentáveis, são uma ameaça ao meio ambiente e proibiu sua aproximação de varias areas protegidas do litoral da Italia, inlusive Veneza.

A navegação maritima, ao contrário da aérea, não tem normas internacionais rigidas. O transporte aéreo tem duas grandes organizações normatizadoras, a ICAO e a IATA, o maritimo tem a velha União Maritima Internacional, que tem mais de 150 anos mas que nunca teve autoridades para impor regras de aceitação geral. 
No Brasil os cruzeiros maritimos vão levar este ano 1 milhão de passageiros, não têm regras, os navios pulam de porto em porto em cais sem instalações e sem condições, ancoram em frente à Ilhabela e Buzios aonde despejam mais sujeira que receita de turismo, os portos do Nordeste, Ilheus, Salvador e daí para cima não tem a mínima estrutura para esse turismo, é tudo improvisado, um turismo predatório para o Brasil, não gera receita interna, poucos empregos e prejudica enormemente os nosos hotéis resorts.

Esse é um tema que vai começar a ser tratado pela midia e pelo Governo, é a hora do debate.

Um comentário:

Juliander disse...

Parabéns pelo post. Cruzeiros são incríveis mesmo, certamente lembram muito riqueza e conforto em seus interiores. Isso que cativa o público. Abraços.