Por que Nantes é a capital europeia verde de 2013

POR EDG.CCOUTO


Todos os anos, no mês de dezembro, a Comissão Europeia escolhe uma cidade da União Europeia para ser a capital verde do ano seguinte. Em 2012, foi a cidade espanhola Vitoria-Gasteiz. 

Para representar a região em 2013, a escolhida foi Nantes, na região oeste da França, historicamente conhecida pela vocação econômica para a navegação e a construção de embarcações e por ser a terra natal do escritor Julio Verne.

A eleição das cidades não é feita aleatoriamente. Acontece depois de um longo processo de análise dos projetos apresentados pelas candidatas, que devem contemplar um bocado de critérios: 

resposta às mudanças climáticas, 
transporte público, 
quantidade de áreas verdes, 
uso da terra, 
cuidado com a biodiversidade, 
qualidade do ar, poluição sonora, 
redução do consumo de água e da geração de lixo, 
tratamento de água e de esgoto, 
gestão pública afinada com a sustentabilidade e disseminação das boas práticas.

Nantes foi escolhida especialmente por seus planos para as áreas de mudanças climáticas, transporte, água e biodiversidade. Segundo Kaid Benfield, ambientalista e colunista do site Sustainable Cities Collective, a aposta em transformar a cidade usando ideias e tecnologias sustentáveis tem sido a saída para movimentar a economia local, já que o negócio da construção de navegações praticamente não existe mais em Nantes.

Veja, abaixo, os planos da cidade para os próximos anos:

- Ficou determinada a meta de diminuir as emissões de gases de efeito estufa da cidade (atualmente com 600 mil habitantes) em 30% até 2030, em relação aos níveis de 1990. Um grupo de quinze profissionais está montando a estratégia para conseguir cumprir o combinado.

- Nantes foi a primeira cidade da França a reintroduzir os bondes elétricos, que substituem ônibus movidos a diesel. Até 2015, os administradores querem chegar a 100% do transporte público adaptado para pessoas com deficiência física.

- Desde 2001, a cidade conseguiu reduzir o uso de automóveis por uma única pessoa, ao mesmo tempo em que a bicicleta, a caminhada e a carona solidária ganharam espaço entre os meios de locomoção.

- A prefeitura de Nantes pretende transformar 350 hectares terra na região de Ile de Nantes, hoje tomados por galpões industriais abandonados, em um bairro verde para 20 mil habitantes. A ideia é erguer um bairro com diversos usos e classes sociais. 

Estão previstos espaços culturais, um distrito artístico, áreas para demonstração de tecnologias verdes inovadoras, novos bondes e ônibus, tudo combinado para estimular os moradores não só ao convívio, mas às caminhadas. 

Outra curiosidade será a estratégia para garantir a diversidade cultural: 25% das novas residências terão preços subsidiados, e outros 25% serão vendidas a preços se não subsidiados, moderados. O restante será vendido pelo preço de mercado.

- Ile de Nantes também contará com instalações para compostagem (técnica que transforma resíduos orgânicos em adubo para plantas), um sistema de gerenciamento de água moderno, uma estação solar de geração de energia elétrica, além de ciclovias.

- O projeto apresentado à Comissão Europeia tem ainda uma característica pouco comum: a intensa participação da população na elaboração do plano para a cidade. Cada residência recebeu um questionário com perguntas relacionadas aos sonhos, preocupações, visões e dúvidas dos cidadãos. Um total de 12 mil pessoas responderam. Houve a possibilidade também de discutir o rumo da cidade em eventos e no site criado para receber posts dos cidadãos.

- Projeto Estuário – Desde 2007, a cidade tem convidado dezenas de artistas (38, até 2012) para criarem instalações ao longo dos 60 quilômetros que ligam as cidades de Nantes e Saint-Nazaré, no estuário de Loire. 

A ideia é criar uma identidade para a região, formada por 12 municípios, e que cada obra chame a atenção para diferentes traços locais, seja um local com grande beleza natural, um símbolo cultural regional ou a relevância do próprio estuário.

Nos Estados Unidos e na Europa, muitos prefeitos já descobriram que tornar sua cidade um “brinco” de sustentabilidade pode trazer muitas vantagens econômicas (além das políticas): 
geração de empregos, de negócios relacionados ao turismo, de investimentos de empresas interessadas em desenvolver ou testar tecnologias verdes (há cada vez mais delas), 
redução dos gastos com saúde pública graças à diminuição da poluição do ar e ao estímulo para que os cidadãos façam exercícios físicos, 
além de vantagens ainda sem valor econômico, como satisfação e bem-estar. 

Algum prefeito aqui se candidata a fazer o mesmo?

*Quem quiser mais informações sobre a cidade, vai encontrar no site de turismo de Nantes e no do projeto Estuário.

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