Por José Joaquim Ferreira do Amaral* - A sustentabilidade empresarial  deve se basear em três aspectos básicos: o ambiental, o econômico e o  social. A primeira variável diz respeito ao uso racional dos recursos naturais  e maximização dos impactos ambientais positivos no ciclo de vida dos  produtos, desde a extração da matéria-prima até a sua disposição final. 
Mais ainda, a empresa tem de preocupar-se também com os impactos  ambientais positivos e negativos de sua atividade produtiva. O aspecto  econômico trata da sustentabilidade dos negócios das empresas, que devem  buscar o lucro e a remuneração do capital. Já o terceiro ponto leva em  consideração as políticas de responsabilidade social.
Esse tripé é o que deve orientar os gestores das empresas, promovendo  a interação com o meio ambiente, a fim de garantir o acesso das futuras  gerações aos recursos naturais; com o mercado, para preservar a  competitividade e continuidade da empresa; e com seus colaboradores,  levando em conta a responsabilidade social. Temos de lembrar, no  entanto, que, antes de mais nada, é necessário  montar um sistema de  gestão, com objetivos claramente estabelecidos. No momento em se  incorpora a sustentabilidade dentro da visão e missão da empresa,  automaticamente, essas três vertentes devem ser contempladas.
Atualmente, os modelos de gestão à disposição das empresas, que  englobam esses três aspectos, são encontrados nas normas ISO 9001  (Gestão da Qualidade), ISO 14001 (Gestão do Meio Ambiente), OHSAS, ISO  16001 e ISO 26001 (Gestão da Responsabilidade Social).
Porém, apesar desses modelos de gestão serem bastante complexos e  abrangentes, aderir às normas, por si só, não garante a sustentabilidade  empresarial. Para que esses sistemas trabalhem de maneira integrada e  eficiente é necessário uma diretriz única, que é a governança  corporativa.
A governança corporativa é a capacidade das empresas de garantir uma  gestão eficiente, estabelecendo padrões organizacionais para enfrentar  os desafios internos e externos, com vistas a um bom desempenho  financeiro, ambiental e social. Em resumo, significa consolidar as boas  práticas de board, formando um conselho de administração competente, com  controles externos eficazes (auditoria externa de terceira parte), que  cooperem com o CEO a fim de obter uma gestão a mais isenta, transparente  e eficiente possível.
Isso significa prevenir a adoção de práticas que podem levar as  empresas a conduzir sua linha de atuação baseadas em políticas  equivocadas. Exemplos  comuns são o da pequena empresa onde o  proprietário confunda a pessoa jurídica com a pessoa física juntando as  finanças num caixa único. Outro caso comum é o da empresas familiares  que, em processos de sucessão, desagregam-se em grupos de acionistas que  lutam pelo seu controle. Quando conduzidos por critérios não aderentes à  governança corporativa, esses embates entre  grupos acabam quebrando a  empresa.
A governança corporativa é um conceito complexo, mas prepara as  empresas para tratar de maneira integrada as restrições advindas do meio  ambiente empresarial, das legislações vigentes em um país, das regras  de comércio internacional, mercado financeiro, entre outras variáveis. E  isso é necessário, pois, cada vez mais, os governos criam  regulamentações sobre produtos, relações de consumo, comércio  internacional, relações com o mercado e meio ambiente. Isso sem falar  nas crises econômicas, especulação financeira, mudanças nos cenários  internacionais, competição com os países emergentes, fatores que podem  abalar até as empresas mais sólidas.
Todas essas restrições contribuem para tornar mais difícil a tarefa  de gerir as corporações com sustentabilidade, no sentido amplo do termo.  O uso de modelos de gestão consagrados e normalizados ajudam o  administrador a focar sua atenção nesses pontos críticos, que estão fora  do controle da empresa. Com isso, ele consegue ter bases mais sólidas  para enfrentar as crises e adversidades, pois conta com uma estruturada  bem organizada e capaz de dar respostas eficientes às situações  adversas.
Daí a importância da governança corporativa, estruturada nas boas  práticas de gestão que geralmente evitam atitudes pouco recomendadas  como a confusão entre pessoa física e pessoa jurídica, o nepotismo,  conflito de interesses, entre outras. E incentiva a consideração aos  acionistas e aos stakeholders, a ética na condução dos negócios e o  respeito ao meio ambiente e às pessoas.
* José Joaquim Ferreira do Amaral é vice-presidente da Fundação  Vanzolini (www.vanzolini.org.br), formada por professores do  Departamento de Engenharia de Produção POLI/USP)
 

 
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