A participação de todos os profissionais  em cada etapa do ciclo de vida de uma mercadoria é a chave para torná-la  mais segura e sustentável
Parece haver um pressuposto crescente de que é possível fazer  produtos totalmente seguros, sem riscos para a saúde ou o meio ambiente,  que não esgotem os recursos naturais, sem uso de energia líquida, sem  resíduos, sem o aquecimento global e que isentem seus usuários de  responsabilidade. 
Desculpa, mas até onde eu saiba a segunda lei da termodinâmica ainda  persiste, ou em português claro, não existe almoço grátis (do ditado  americano “there’s no free lunch”). Não podemos desfrutar dos benefícios  de alguns produtos sem a degradação do meio ambiente e alguns riscos  para a saúde. Mas podemos ser mais seguros e sustentáveis na forma como  fazemos e utilizamos esses produtos, se adotarmos a gestão de produtos. 
Minha definição de gestão de produtos: ocorre quando todos os  envolvidos em seu ciclo de vida assumem a responsabilidade de reduzir o  risco de efeitos adversos dos impactos ambientais, à saúde e à  segurança, para obter o máximo valor desse produto. 
O uso deste termo por parte de governos e ONGs, como o Product  Stewardship Institute (Instituto de Gestão de Produtos), para transferir  aos fabricantes os custos de reciclagem (ou seja, "responsabilidade  ampliada do produtor"), não é o objetivo desse artigo. Enquanto a  logística reversa de produtos pode ser a solução correta para alguns  fabricantes, o gerenciamento de produtos possui um valor mais amplo, que  se aplica a todos os participantes do ciclo de vida de um bem e  encoraja a consideração desse ciclo por todos. 
Os 10 princípios abaixo são a chave para alcançar a responsabilidade  pelo produto e se aplicam a cada uma das etapas de vida de qualquer  mercadoria: 
1. Responsabilidade compartilhada:  assumir a responsabilidade para garantir que os produtos sejam geridos  de forma segura em todo o seu ciclo de vida, sejam eles fornecidos,  fabricados, distribuídos, utilizados, descartados ou reciclados. O  fabricante de um produto não tem o controle completo sobre todos os  atores ao longo da vida desse item. Não importa quão "infalível" um  produto seja, cada um de nós tem a obrigação de garantir a melhor  gestão. 
2. Pensar no ciclo de vida: trabalhar  para prevenir ou reduzir significativamente os riscos e aumentar a  sustentabilidade em todo o ciclo de vida do produto. Isto pode variar  desde o redesenho do produto até a regulamentação para a retirada do  item do mercado. Um programa de devolução de produtos pode ser um  componente efetivo e eficiente de gestão, em alguns casos, assim como  seria substituir componentes por versões mais seguras. Mas cuidado com  as consequências inesperadas, pois você pode corrigir um problema apenas  para criar outro. 
3. Conhecimento: compreenda os  potenciais riscos ambientais, para saúde e segurança de suas ações – os  perigos inerentes associados aos materiais aplicados e os riscos que  podem causar. Além disso, compreenda os outros impactos do ciclo de  vida. O maior peso para o desenvolvimento do conhecimento dos perigos de  um produto recai sobre o fabricante, pois é ele quem define o que é o  produto. Compreender outros componentes de risco e exposição é mais  difícil. Os desafios de adquirir o tipo correto de informação são  abordados por alguns dos princípios a seguir e são temas de debates  vigorosos em torno da ciência, das informações comerciais de  propriedade, da transparência e das políticas públicas sobre como e  quando algo é "suficientemente seguro". 
4. Comunicação com a cadeia de fornecimento:  compartilhe as informações necessárias com os outros, a fim de  compreender os riscos e gerenciá-los em sua parte da cadeia de  abastecimento. Os produtos fazem parte de sistemas complexos que  envolvem uma série de fornecedores e clientes (incluindo manipuladores  de resíduos). Você precisa ajudar as pessoas atrás e à frente na cadeia,  a fim de minimizar o impacto do ciclo de vida total e promover práticas  mais sustentáveis. 
5. Stakeholders: compreenda as  preocupações do conjunto de participantes que influenciam o sucesso do  produto – funcionários, acionistas, fornecedores, vizinhos, governos,  parceiros e grupos de interesse público. Determine o que você precisa  fazer para garantir a esses interessados que um produto é gerido de  forma segura. Trabalhe em conjunto para encontrar as melhores soluções  para preservar os benefícios e reduzir os riscos. Os stakeholders  determinarão o que é "suficientemente seguro". 
6. Trabalho em equipe: determine  quem sabe o quê, onde, por que e o como de um produto, para assim  encontrar soluções mais sustentáveis. Gestores de produtos não trabalham  sozinhos. Eles devem trabalhar em estreita colaboração e confiar nos  especialistas de cada aspecto do ciclo de vida de um produto. De modo  que os riscos possam ser caracterizados e controlados (marketing de  fabricação, pesquisa, jurídica, saúde e meio ambiente, relações públicas  etc). Equipes de peritos também são necessárias para continuar a  desenvolver padrões confiáveis para avaliar e comunicar informações  sobre os riscos para os clientes. 
7. Consciência: procure novas  informações relativas a riscos e produtos mais seguros. Disponha de  processos que gerenciam e respondam rapidamente às mudanças que podem  afetar a segurança do produto, tais como mudanças em recursos,  processos, ciência, tecnologias, usos, usuários/clientes e as  expectativas de regulamentação. Tente antecipar-se e chegar à frente das  mudanças. 
8. Inovação: um compromisso com a gestão do produto  estimula a inovação para reduzir riscos e melhorar o valor, para assim  atender ao cliente e as necessidades da sociedade com novos processos e  produtos melhores. Sustentabilidade e segurança aliadas ao processo de  concepção do produto é a maneira mais eficaz de uma empresa realizar a  gestão do produto. 
9. Gestão: implemente práticas que se modifiquem  continuamente para o gerenciamento de produtos. Crie um ciclo contínuo  de planejamento, ação, verificação e modificação em curso e todas as  outras ferramentas de gestão que você já usa para aplicar a gestão de  produtos, tal como qualquer outra atividade. Mais importante ainda, a  gestão do produto não é um projeto de uma única empreitada, é uma  maneira de pensar e agir responsavelmente. 
10. Integração: a gestão do produto deve ser parte  integrante da atuação e cultura de uma empresa. Não pode ser um programa  descolado do dia a dia da empresa, realizado por um grupo de  funcionários de uma filial, afastado do organograma. Cada função  contribui para o impacto do ciclo de vida de um produto. Os consumidores  individuais também devem ser guardiões do produto, sempre que  comprarem, usarem e descartarem qualquer mercadoria. Todos nós devemos  nos perguntar: "Isso é a coisa responsável a fazer?" Os princípios da  boa gestão de produtos devem se tornar senso comum. 
Georjean Adams (Presidente da EHS Strategies, Inc) 
 Fonte: Agenda Sustentável (WWW.agendasustentavel.com.br)
 

 
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