Henry Milléo/ Gazeta do Povo
Tecnologia chega aos canteiros de obras para aumentar produtividade da indústria da construção, aumentando competitividade e reduzindo custos
Novidades incorporadas nos últimos anos reduzem atraso da construção civil brasileira
“Logo encosta um navio chinês e desembarca um edifício pré-construído.
A gente vai ficar olhando eles erguerem um prédio inteiro em três meses”.
A frase pessimista, pronunciada por um proprietário de construtora que pede para não ser identificado, revela a apreensão sobre o atraso da construção civil brasileira em relação a outros países.
Além de acarretar perda de competitividade e custos maiores, o tradicional sistema de alvenaria, com tijolosobre-tijolo, é demorado, gera mais resíduo, desperdício de material e requer alto contingente de mão de obra.
Mas nem tudo é pessimismo. A evolução caminha, ainda que a passos lentos, e as novidades não param de chegar aos canteiros de obras e às mesas dos engenheiros.
Eduardo Pereira, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa e doutorando em Engenharia e Ciência dos Materiais pela UFPR, lembra que o setor vem aderindo às inovações com mais força nos últimos anos. “O aumento nos lançamentos e volume de canteiros de obras em andamento leva à busca de soluções para reduzir custos e melhorar processos, sem perder produtividade e qualidade”, comenta.
Para ele, o surgimento de novas técnicas, ferramentas e materiais levaram a construção a um “avanço significativo” na última década. “A indústria da construção civil ainda se encontra num patamar de industrialização e tecnologia muito abaixo de outros setores, como o automotivo”, analisa Pereira. “Mas os principais avanços são significativos”, diz.
Construção a seco
“Calculo que estejamos uns dez anos atrasados em relação a China, Estados Unidos e alguns países europeus”, observa Gustavo Selig, presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR).
Nesses países, sistemas industrializados, uso inteligente da madeira e tecnologia acoplada a projetos arquitetônicos levam o setor a outro patamar, especialmente no quesito rapidez de obras.
Incorporador e construtor, Selig cita o uso massivo do drywall como um dos itens que fizeram diferença na construção civil brasileira nos últimos anos. Também conhecido como parede de gesso acartonada, ou sistema de construção a seco, o drywall, montado em paineis, é utilizado preferencialmente em paredes internas, mas já existem modelos específicos de drywall também para paredes externas.
Selig também lista o maior uso de materiais alternativos, como gesso, placas cimentícias e paineis de MDF;
os aquecedores alimentados por luz solar – ainda mais usados em residências do que em grandes empreendimentos,
e os sistemas de iluminação à base de LED, como novidades importantes para o setor.
Entre as vantagens, diz Selig, estão a durabilidade, economia, redução de desperdício e maior velocidade na execução da obra e aplicação dos materiais.
“A princípio pode parecer mais caro, porque a aquisição desses produtos têm valor mais alto do que os convencionais, mas a economia aparece no tempo de uso e na manutenção”, aponta.
Tecnologia
No computador e no canteiro de obras
Henrique Costa Ballão, sócio da construtora Costaguerra, coloca a tecnologia no topo da lista das inovações. Para ele, os softwares de gerenciamento para sistemas de controle de obras são essenciais.
Como bom engenheiro, sempre de olho no canteiro de obras, Ballão cita também o silo Votorantim com sistema “Matrix” como outra novidade importante. “Estamos utilizando na obra do edifício Gran Torino.
Com ele, projetamos a argamassa sobre os blocos de tijolo cerâmico, ao invés de utilizar a tradicional ‘colher de pedreiro’, com mais produtividade”, comenta.
Ainda no setor da obra, Ballão salienta o uso de estacas para fundação monitoradas, com hélice contínua, enquanto nos empreendimentos, os sistemas de automação residencial e as esquadrias anti-ruído são as boas novas que trazem conforto e bem-estar para os futuros moradores do imóvel.
“São inovações que nos trouxeram maior controle e planejamento, fatores decisivos para atingir metas na obra”, afirma.
Reciclagem e novos materiais demandam especialização
Além de preços inicialmente mais altos, algumas inovações demandam especialização. A aplicação do drywall, por exemplo, requer mão de obra formada em cursos técnicos, pois a execução segue padrões estabelecidos pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O uso do gesso também obedece regras: o material entrou recentemente para a categoria de reciclagem obrigatória. O resíduo pode ser 100% aproveitado, gerando um produto mais barato que o gesso virgem. A mudança segue o aumento no uso. Nos anos 90, segundo dados do setor, a quantidade de gesso utilizada no Brasil era de 5 quilos por habitante ao ano. Hoje está em 30 quilos. Além de drywall e elementos como sancas e rebaixamento de tetos, o gesso é usado pela indústria cimenteira.
As sete mais
As inovações dos últimos anos que trouxeram avanços à construção:
- Paredes pré-moldadas, de concreto moldadas in loco e drywall;
- Aditivos em concretos e argamassas que facilitam a aplicação e melhoram suas propriedades, levando ao surgimento de argamassas projetadas, concretos autoadensáveis e a popularização do concreto protendido;
- Aumento no uso de formas de alumínio em substituição às de madeira, com maior reaproveitamento;
- Desenvolvimento de materiais nanoestruturados, com atenção especial para os nanotubos de carbono, que têm sido base de muitas pesquisas e têm perspectiva de uso em futuro próximo;
- Aumento e consolidação do uso de materiais de construção reciclados;
- Tintas ecológicas;
- Popularização do uso de softwares diversos, introdução de técnicas de gestão e planejamento de projetos e obras e tecnologia BIM.
Fonte: Eduardo Pereira, professor da UEPG e doutorando em Ciência dos Materiais.
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