Da Agência Ambiente Energia – Apesar da manutenção do domínio das fontes fósseis, a nova edição do World Energy Outlook – WEO 2010, da Agência Internacional de Energia (AIE) revela um cenário promissor para as fontes renováveis de energia.
Segundo o documento, o uso das energias hidrelétrica, eólica, solar, geotérmica e biomassa triplica em 2035, com sua participação na demanda da energia primária total de 7% para 14%. A participação da energia nuclear também aumenta, saltando de 6% em 2008 para 8% em 2035. Veja abaixo um resumo dos principais pontos do World Energy Outlook.
Energia e mudanças climáticas
No tocante às mudanças climáticas, segundo o documento, a reunião das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas realizada em dezembro de 2009, em Copenhague, representou um marco, ainda que tenha ficado aquém das expectativas. O Acordo de Copenhague – ao qual se associaram todos os principais países emissores – definiu um objetivo não vinculativo de limitar o aumento da temperatura global a dois graus Celsius (2°C) acima dos níveis da época pré-industrial. Estabeleceu igualmente para os países industrializados o objetivo de mobilizarem recursos financeiros destinados a mitigar e adaptar as alterações climáticas nos países em desenvolvimento, de 100 bilhões de dólares por ano até 2020, e exigiu dos países industrializados que fixem objetivos de emissões para o mesmo ano. Todavia, os compromissos anunciados subsequentemente, mesmo se fossem integralmente cumpridos, permitiriam percorrer apenas uma parte do caminho em direção ao objetivo dos 2°C. Cumpre mencionar que o Brasil foi dos poucos países que apresentaram metas concretas e substantivas de redução de emissões.
O WEO 2010, salienta ainda que as perspectivas mundiais da energia até 2035 dependerão de uma forma crítica das ações políticas governamentais e da maneira como essas ações afetarem a tecnologia, o preço dos serviços energéticos e o comportamento dos utilizadores finais. Nesse sentido, o cenário central desta nova edição do Outlook – New Policies Scenario (O cenário Novas Políticas) – toma emconsideração os compromissos políticos e os planos anunciados por vários países no mundo, incluindo as promessas nacionais de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e os programas de abandono progressivo dos subsídios às energias fósseis, mesmo se ainda estiverem por identificar ou anunciar as medidas para concretizar esses compromissos. O documento realiza comparações com um Cenário Políticas Atuais (Current Policies Scenario, anteriormente denominado Cenário de Referência – Reference Scenario), que não inclui nenhuma alteração das políticas atuais, em meados de 2010, o que significa que os recentes compromissos não são concretizados. Além disso, são apresentados os resultados do Cenário 450, que foi primeiro apresentado em detalhe no WEO‑2008, e que estabelece uma via coerente com a meta dos 2°C e a limitação da concentração dos gases com efeito de estufa na atmosfera em torno de 450 partes por milhão de equivalente CO2 (ppm eq. CO2).
No Cenário Novas Políticas, a procura de energia primária aumenta 36% entre 2008 e 2035, passando aproximadamente de 12.300 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep) para 16.700 Mtep, correspondendo a uma média anual de 1,2%, uma taxa que deve ser comparada com a média anual de 2% dos últimos 27 anos. A taxa de crescimento da procura projetada é inferior à do Cenário Políticas Atuais, no qual a procura aumenta 1,4% por ano no período 2008‑2035. No Cenário 450, a procura ainda cresce entre 2008 e 2035, mas somente de 0,7% por ano. Os combustíveis fósseis – petróleo, carvão e gás natural – continuam a ser as fontes de energia dominantes em 2035 nos três cenários, embora a sua percentagem no combinado global de combustível primário varie fortemente. As quotas das fontes de energias renováveis e nucleares são comparativamente mais elevadas no Cenário 450 e mais baixas no Cenário Políticas Atuais. As evoluções possíveis – e logo, as incertezas quanto à utilização futura da energia – são muito maiores para o carvão, a energia nuclear e as fontes de energia renováveis não hidroelétricas.
Fontes não renováveis permanecem dominantes
Ainda segundo o documento WEO 2010, no Cenário Novas Políticas, a procura mundial para cada fonte de combustível aumenta, sendo os combustíveis fósseis responsáveis por mais de metade do aumento da procura de energia primária total.
O petróleo continua a ser o combustível dominante no combinado de energia primária durante o período considerado no Outlook, embora a sua participação, que se manteve a 33% em 2008, caia para 28% à medida que os preços elevados e as ações dos governos a favor da eficiência do combustível acarretam uma redução mais acentuada do petróleo nos setores industrial e da geração de eletricidade e que começam a surgir mais oportunidades para substituir os produtos petrolíferos por outros combustíveis no transporte. A procura de carvão aumenta aproximadamente até 2025 e declina lentamente em seguida, durante o resto do período considerado no Outlook. O aumento da procura de gás natural é muito superior à procura de outros combustíveis fósseis devido às suas características ambientais e práticas mais favoráveis e aos constrangimentos ligados à implementação suficientemente rápida das tecnologias de baixo de teor de carbono.
Segundo o WEO 2010, a participação de energia nuclear aumenta, passando de 6% em 2008 para 8% em 2035. A utilização de energias renováveis modernas – incluindo as energias hidroelétrica, eólica, solar, geotérmica, a biomassa moderna e marítima – triplica durante o período do Outlook, passando a sua participação na demanda da energia primária total de 7% para 14%. O consumo da biomassa tradicional cresce ligeiramente até 2020, baixando em 2035 para um nível um pouco inferior ao atual, à medida que os agregados familiares utilizam cada vez mais combustíveis modernos nos países em desenvolvimento.
Crescimento da demanda concentrado nos emergentes
Os países que não são membros da OCDE representam 93% do aumento previsto na procura mundial de energia primária no Cenário Novas Políticas, o que reflete um aumento mais rápido das taxas de crescimento da atividade econômica, da produção industrial, da população e da urbanização.
A China, onde a procura disparou nos últimos dez anos, será responsável por 36% do crescimento previsto na utilização da energia global, e a sua procura aumenta 75% entre 2008 e 2035. Em 2035, a China representa 22% da demanda mundial, a comparar com a sua participação atual de 17%. A Índia é o segundo maior contribuidor para o aumento da procura mundial até 2035, representando 18% desse aumento: durante o período considerado no Outlook, o seu consumo de energia aumenta mais do dobro. Fora da Ásia, é a região do Médio Oriente que registra a taxa de crescimento mais rápida, com um ritmo de 2% por ano. Após um crescimento modesto até 2020, a procura global de energia nos países da OCDE estagna. Todavia, por volta de 2035, os Estados Unidos da América são ainda o segundo maior consumidor de energia no mundo, atrás da China, e muito à frente da Índia (que ocupa um terceiro lugar distante).
A procura mundial de eletricidade deverá continuar a crescer mais solidamente do que qualquer outra forma final de energia. No Cenário Novas Políticas, prevê-se um crescimento de 2,2% por ano entre 2008 e 2035, sendo mais de 80% desse aumento originado por países não OCDE.
Maior participação de fontes renováveis
O WEO 2010, sublinha que a geração de eletricidade está se transformando à medida que o investimento é direcionado para as tecnologias de baixo teor de carbono – consecutivamente ao aumento dos preços dos combustíveis fósseis e às políticas governamentais de estímulo à segurança energética e à redução das emissões de CO2.
No Cenário Novas Políticas, os combustíveis fósseis – principalmente o carvão e o gás natural – continuam a dominar o mercado; contudo, a sua participação na geração total de energia decresce de 68% em 2008 para 55% em 2035, enquanto as energias nuclear e renováveis se desenvolvem. A transição para as tecnologias com baixa emissão de carbono é particularmente destacada nos países da OCDE. De um modo geral, o carvão continua a ser a principal fonte de geração elétrica em 2035, embora a sua participação na geração de eletricidade baixe de 41% atualmente para 32%. Em termos globais, prevê-se que a transição para as energias nuclear, renováveis e outras tecnologias com baixa emissão de carbono diminuirá em um terço a quantidade de CO2 emitido por unidade de eletricidade gerada entre 2008 e 2035.
A expansão das fontes de energia renováveis terá uma influência decisiva na capacidade em conduzir o planeta para um caminho energético mais seguro, fiável e sustentável. O sector elétrico apresenta o maior potencial para desenvolver o uso das energias renováveis em termos absolutos. No Cenário Novas Políticas, a geração elétrica baseada nas energias renováveis triplica entre 2008 e 2035 e a participação de energias renováveis no total da geração de eletricidade, de 19% em 2008, aumenta praticamente um terço (atingindo o nível do carvão). Este aumento provém principalmente das energias eólica e hidroelétrica, embora esta continue a ser a fonte dominante durante o período considerado no Outlook. A eletricidade produzida a partir da energia solar fotovoltaica aumenta muito rapidamente, embora a sua participação na geração global represente apenas cerca de 2% em 2035. A utilização de biocombustíveis cresce mais de quatro vezes entre 2008 e 2035, satisfazendo assim 8% da procura de combustível para o transporte rodoviário no final do período considerado no Outlook (um aumento de 3% em relação à situação atual).
Biocombustíveis
Segundo o WEO 2010, a utilização de biocombustíveis – combustíveis de transporte derivados da matéria-prima da biomassa – deverá continuar a aumentar rapidamente durante o período analisado, graças à subida de preços do petróleo e aos apoios governamentais. No Cenário Novas Políticas, o uso global de biocombustíveis cresce de aproximadamente 1 milhão de barris/dia atualmente para 4,4 mb/d em 2035. Estima-se que os Estados Unidos, o Brasil e a União Europeia permanecerão os maiores produtores e consumidores mundiais de biocombustíveis. Os biocombustíveis avançados, incluindo os derivados de matérias-primas lignocelulósicas, entrarão provavelmente no mercado por volta de 2020, principalmente nos países da OCDE.
Ainda que em países como o Brasil se observe um aumento de competitividade e redução de custos dos biocombustíveis, o WEO 2010 sugere que o custo de produção atual dos biocombustíveis seja muitas vezes superior ao custo atual do petróleo importado, de tal forma que são geralmente necessários incentivos governamentais para torná-los competitivos face aos combustíveis à base de petróleo. O apoio governamental global atingiu 20 bilhões de dólares em 2009 e foi principalmente concedido pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Energia e desenvolvimento humano
Apesar da utilização crescente da energia no mundo inteiro, muitos lares dos países em desenvolvimento não têm ainda acesso aos serviços modernos de energia. Os números são impressionantes: estima-se em 1,4 bilhões o número de pessoas – mais de 20% da população mundial – que não têm acesso à eletricidade e a 2,7 bilhões – cerca de 40% da população mundial – as que dependem ainda do uso tradicional da biomassa para cozinhar. Pior ainda, as projeções da AIE sugerem que se trata de um problema a longo prazo, pois no Cenário Novas Políticas, 1,2 bilhões de pessoas continuam a não ter acesso à eletricidade em 2030 (a meta fixada para o acesso universal aos serviços modernos de energia), 87% das quais residentes em zonas rurais.
Dar a prioridade ao acesso a serviços modernos de energia pode contribuir para acelerar o desenvolvimento econômico e social. O Objetivo de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas, de erradicar a pobreza extrema e a fome em 2015, não será atingido se o acesso à energia não melhorar substancialmente. Para alcançar esse objetivo, deverá ser facultado a 395 milhões de pessoas suplementares o acesso à eletricidade e a um bilhão de pessoas suplementares o acesso a combustíveis limpos para cozinhar. (fonte: MME, com informações da Agência Internacional de Energia)
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