Para brasileiros, sustentabilidade é questão de sobrevivência

A força representada pelas mudanças climáticas e pela gestão dos recursos naturais se mostrou mais importante para os executivos brasileiros consultados pela Omni Marketing, em setembro, do que para os do mercado global ouvidos pela McKinsey em março. 
 
 
 
Para a sócia-proprietária da Omni, Regina Pacheco, os empresários brasileiros não associam a questão a ações voltadas diretamente para o lucro, mas a uma questão de sobrevivência no futuro. "Os brasileiros estão preocupados com a perenidade das empresas."

Essa preocupação está de fato no topo da agenda de um número crescente de executivos. É o caso de Marcelo Cardoso, vice-presidente de desenvolvimento organizacional e sustentabilidade da Natura. "Um modelo aberto de demanda e oferta infinitas não funciona mais", diz. "A Natura gostaria de propor um novo modelo de capitalismo." Seria, segundo ele, um modelo mais consciente, baseado numa economia de baixo carbono.

O vice-presidente executivo de organização e recursos humanos da Embraer, Hermann Ponte e Silva, não tem dúvidas de que o meio ambiente entrou definitivamente para a agenda estratégica das empresas. Ele acha que os índices de sustentabilidade das principais bolsas de valores mundiais e as pressões dos fundos de investimentos mudarão as ações das grandes empresas.

Também para André Gerdau Johannpeter, presidente da gigante do aço Gerdau, o tema mudanças climáticas está fortemente ligado à dimensão social da sustentabilidade, uma vez que as economias em desenvolvimento necessitam de energia e mobilidade para garantir patamares de Índice de Desenvolvimento Humano aceitáveis. Ele lembra que o Protocolo de Kyoto separa claramente os países desenvolvidos dos que necessitam crescer e define responsabilidades comuns, porém diferenciadas. "A produção de aço é crucial para o desenvolvimento e a qualidade de vida, pois o aço é material básico na geração de energia, transporte, infraestrutura, além de ser infinitamente reciclável." Para o presidente da Gerdau, os governos não devem estabelecer metas de redução determinadas por outras nações, mas primar pela manutenção da competitividade global. "O Estado deve ser indutor da sustentabilidade, ampliando estímulos, fiscais e de crédito que permitam atingir um desempenho ajustado às necessidades de cada nação."

Para Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL, uma gestão que não considere os imperativos de sustentabilidade nunca será eficiente. Ele lembra que o tema da qualidade surgiu como bandeira nos anos 90 e hoje se incorporou ao modelo de gestão das organizações, e ninguém mais questiona sua necessidade. "Constato o mesmo em relação à sustentabilidade." Segundo ele, a CPFL tem participado do movimento pela sustentabilidade ao assumir compromissos voluntários (como levantamento e declaração de emissões de carbono) ou ao adotar mecanismos de gestão e prestação de contas.
A CPFL tem trabalhado com o governo em temas como a regulamentação da Política Nacional de Mudanças Climáticas e acompanhado os posicionamentos na Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima. Ferreira Jr. diz estar convencido de que regulamentações das emissões de gases de efeito estufa são cruciais para manter o diferencial dos produtos brasileiros frente aos fabricados nos EUA, na Europa ou na China. "Um bom marco regulatório pode estimular a inovação e aumentar a eficiência", diz. 

Fonte: Valor Econômico
Autor: Juan Garrido

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