Sustentabilidade com a mão na massa

Nenhuma empresa levou tão ao extremo a ideia de educar para a sustentabilidade quanto o Banco Real, hoje Grupo Santander Brasil. O melhor exemplo dessa disposição é o Sustentabilidade na Prática: Caminhos e Desafios – um curso de imersão de dois dias dirigido a empresas de diferentes portes interessadas em inserir o tema em sua cultura e gestão.
Nas palavras de Fábio Barbosa, presidente do grupo, a iniciativa tem o objetivo de partilhar as práticas e o conhecimento adquirido pelo Banco em 10 anos de sustentabilidade. “Queremos encurtar o caminho na direção de um mundo mais sustentável”, diz ele em vídeo que abre o programa.
Iniciado em 2007, o curso já capacitou 2.500 pessoas de 1.400 organizações. No último dia 6 de maio, participei a convite da 27a turma, na capital de São Paulo, movido por um misto de interesse jornalístico e afinidade profissional com a “causa.” Fui pensando em colher impressões para este artigo, mas também em testemunhar o que (conteúdos) e como (metodologia) se ensina e, principalmente, o perfil e os anseios de quem está disposto a aprender.
Logo de cara, uma primeira boa surpresa: contrariando a minha expectativa de que ocuparia uma cadeira em sala de, no máximo, 30 alunos bem comportados, deparei-me com cerca de 230 executivos de 138 empresas. Havia mais gente ali do que na maioria dos eventos de sustentabilidade aos quais costumo ir por dever de ofício.
Gente de todas as idades, formações, cargos e contracheques. Rostos desconhecidos misturados aos de executivos tarimbados, como Luiz Ernesto Gemignani, ex-presidente da Promon. A diversidade do grupo seria uma pista de que as empresas estão mesmo querendo construir juntas um modelo de negócio mais sustentável?
Se a intenção era imergir, imergi. Escolhi uma mesa de trabalho na qual juntei-me a representantes de quatro empresas que não frequentam as capas da revista Exame: a Casa Carrifer (corte e dobra de aço); a Quinterra Terraplenagem; a Eletromecânica Dinâmica (limpadores de párabrisa) e a By Kami (de tapetes). Aproveitando a deixa inicial oferecida por Sandro Marques, superintendente da área de desenvolvimento sustentável e um dos condutores do programa, engatei uma pergunta óbvia para tentar entender o que fizera aqueles quatro executivos trocarem sua labuta diária por um curso de sustentabilidade. “Aprender sobre tema cada vez mais estratégico”, responderam em uníssono.
Três deles alegaram, no entanto, estar ali por causa da importância do tema como exigência nos processos de certificação ISO 14001 e também em cláusulas contratuais de prestação de serviço. Um quarto, o mais jovem do grupo, afirmou buscar “ferramentas” para potencializar a “vocação sustentável” de sua empresa.
Na dinâmica seguinte, Maria Luiza Pinto, diretora-executiva de desenvolvimento sustentável do Grupo Santander Brasil, provocou os participantes sobre qual seria o principal desafio de sustentabilidade em suas empresas.
No meu grupo e, depois, nas intervenções feitas ao microfone por outros participantes, ouvi uma mesma resposta, com pequenas variações: envolver os funcionários e colaboradores, mudar maneiras de pensar e fazer. “Há múltiplos jeitos de fazer sustentabilidade numa empresa. O que adotamos não é o único nem o melhor. Ao apresentá-lo desejamos apenas que vocês encontrem o mais adequado para o negócio de suas organizações”, afirmou Maria Luiza.
No primeiro dia, o programa começa com uma exposição do percurso adotado pelo Banco, desde o diagnóstico e a definição de “essências”, como, por exemplo, a inserção do conceito no core business e o uso de janelas de oportunidade, até os diferentes modelos de governança (comitês e conselhos, grupos multidisciplinares, áreas funcionais, diretoria de desenvolvimento sustentável e consultoria interna) e os aprendizados obtidos ao longo do processo.
Aborda também os indicadores de gestão selecionados (Econômico, Funcionários, Governo e Sociedade, Meio Ambiente e Fornecedores), os desafios de mercado, produto e posicionamento, processos, política e tecnologia.
No segundo dia, ressalta os esforços de engajamento de stakeholders, o tema da diversidade, as muitas iniciativas possíveis de educação e os dilemas da comunicação da e para a sustentabilidade.
Conceitualmente bem urdido e sob o apoio de metodologia que privilegia a interação, o curso se estrutura na experiência do Banco Real, mas não se esgota nela. Ao longo dos dois dias, os participantes são estimulados a exercitar os conteúdos – com o suporte de uma apostila, um caderno chamado Diário da Jornada e painéis de especialistas – escrevendo suas próprias “rotas” e registrando, por escrito, reflexões que depois serão úteis no retorno à empresa. “Essas rotas são como um mapa para orientar a mudança na empresa. Com elas me sinto mais seguro e preparado”, confessou-me ao final do curso um entusiasmado Arthur Rodrigues Verechi, analista de Marketing da By Kami.
Veja a íntegra do artigo em www.ideiasustentavel.com.br
Ricardo Voltolini é publisher da revista Ideia Socioambiental e diretor da consultoria Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade.
ricardo@ideiasustentavel.com.br
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