Um selo verde de aprovação

Por que normas internacionais de certificação de qualidade beneficiarão turistas, empresas privadas e o meio ambiente

Roger Hamilton

 
Turistas em alojamento ecológico na Amazônia brasileira dispõem de instalações simples mas confortáveis.
 
Turistas aventureiros gostam de surpresas agradáveis, como a de vislumbrar um pássaro arredio ou presenciar um pôr-do-sol espetacular. Mas não quando a surpresa é um banheiro com defeito.

No mundo do turismo sustentável, como se pode garantir a um turista alimentação saudável, alojamentos limpos e serviços de qualidade? Como pode um viajante responsável saber se um hotel ou serviço de guias respeita de fato o meio ambiente ou trata adequadamente as comunidades locais?

A resposta é a certificação em turismo sustentável, segundo os participantes de um recente seminário do BID. Para o turista, um selo verde de aprovação significa que uma empresa está mais propensa a proceder de acordo com aquilo que proclama. Para a empresa, a certificação pode ser um poderoso instrumento de propaganda.

Mas na América Latina e no Caribe a certificação no campo do turismo de pequena escala e baixo impacto ainda é incipiente. A criação de um sistema de certificação integrado e de uso generalizado, afirmam os especialistas, ajudaria tanto os turistas como as empresas. Além disso, estimular o turismo sustentável também reforça os argumentos em favor da preservação de áreas naturais e, ao mesmo tempo, ajuda a reduzir a pobreza rural.

“O ecoturismo é o meio ideal para promover tanto a proteção ambiental como o desenvolvimento econômico e social na região”, disse Donald Terry, diretor geral do Fundo de Investimento Multilateral (FIM), membro do Grupo do BID que organizou o seminário.

Em ecoturismo e outras modalidades de turismo sustentável, obter lucros e fazer o bem caminham de mãos dadas. “Não precisamos convencer as pequenas e médias empresas que faz parte de seu trabalho solucionar problemas ambientais”, disse Terry. “Mas podemos mostrar a elas que ao se tornar mais eficientes do ponto de vista ecológico e melhorar seus padrões ambientais podem capturar novos mercados.”

Criação da rede. Há muito a certificação é uma característica do mercado do turismo de massas, mediante a qual hotéis, restaurantes e outros serviços conquistam o direito de exibir estrelas ou algum outro selo de qualidade. Essas cotações são usadas e reconhecidas no mundo inteiro e têm contribuído para o crescimento do turismo como o maior setor econômico do mundo. O turismo é de importância decisiva para as economias de muitos países da América Latina e Caribe.

Um sistema de certificação em turismo sustentável iria além das avaliações dos serviços aos turistas para incluir também os serviços de saúde e segurança e práticas favoráveis ao meio ambiente, bem como sensibilidade aos ecossistemas naturais e às comunidades locais.

Um passo adiante rumo a um sistema de certificação de aceitação internacional foi dado em setembro último na Bahia, Brasil, com o primeiro encontro da Rede de Certificação em Turismo Sustentável das Américas. No encontro, que contou com apoio do Fumin, representantes de governos, organizações privadas e outros interessados discutiram como conduzir atividades conjuntas de marketing, implementar “melhores práticas” com base em padrões aceitos e facilitar a participação de empreendimentos de turismo de pequena escala no processo de certificação.

O Fumin também fez uma doação de US$3 milhões para um programa destinado a criar padrões básicos de certificação e credenciamento internacionais em turismo sustentável na região. O programa treinará cerca de 1.800 pequenas e médias empresas em Belize, Costa Rica, Guatemala, Equador e Brasil.

O objetivo do programa do Fumin é criar uma alternativa sustentável à derrubada de árvores, à agricultura baseada em queimadas e outras atividades destrutivas, segundo Tensie Whelan, diretor executivo da Rainforest Alliance, organização não-governamental com sede na Costa Rica, que está executando o programa em cooperação com organizações de outros países participantes.

“Praticado de modo sustentável, o turismo pode gerar empregos em algumas das áreas mais pobres e de maior biodiversidade do mundo”, disse Whelan.

Costa Rica assume a dianteira. Uma das pioneiras mundiais no ecoturismo, a Costa Rica também ostenta o mais famoso programa de certificação da América Latina. Conhecida como Certificado para a Sustentabilidade Turística (CST), a iniciativa está ganhando aceitação em outros países, segundo a relatora do seminário Martha Honey, diretora-executiva da Sociedade Internacional de Ecoturismo e co-autora de Protecting Paradise: Certification Programs for Sustainable Tourism and Ecotourism (“Protegendo o Paraíso: Programas de Certificação para o Turismo Sustentável e o Ecoturismo”). Para participar do programa, as empresas devem responder a 154 perguntas em diferentes áreas.

O CST é exemplo de uma certificação “baseada no desempenho”, disse Honey. A outra abordagem, chamada de certificação “baseada no processo”, permite que cada empresa estabeleça seus próprios objetivos, sendo a certificação concedida pelo estabelecimento de um método para alcançar objetivos e não necessariamente pela consecução de tais objetivos. Com muita ênfase na metodologia e de execução dispendiosa, a certificação baseada no processo é mais adequada a grandes hotéis, disse Honey.

Paradoxalmente, os turistas gostam da idéia de certificação, mas ainda não a reivindicam, disse Honey. “Muitos turistas nem sequer percebem quando estão freqüentando uma empresa certificada”, disse ela. O desafio, continuou, será trabalhar para aumentar o apoio da indústria para a certificação, ajudar pequenas e médias empresas e empresas comunitárias a obter certificação, tornar o processo auto-sustentável e proporcionar um órgão de credenciamento.

O BID, uma das maiores fontes de financiamento ao turismo na região, está fornecendo apoio cada vez maior ao turismo sustentável. Os projetos abrangem desde pequenas empresas comunitárias, como parte de programas de desenvolvimento rural, até operações complexas de grande escala, como uma iniciativa para estimular o ecoturismo nos nove estados compreendidos na Amazônia Brasileira (veja link à direita para saber mais sobre o projeto do Brasil).

O Fumin, um fundo independente administrado pelo BID, promove o desenvolvimento do setor privado na América Latina e no Caribe por meio de subsídios e investimentos. Seu apoio ao turismo inclui um programa para o desenvolvimento de qualificações, normas e sistema de certificação que está sendo executado pelo Instituto de Hospitalidade na Bahia, Brasil. Um programa do FIM que promove alianças entre empresas de turismo de pequena escala na Guatemala será objeto de matéria de uma próxima edição do BIDAmérica.
 
Fonte:http://www.iadb.org

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