Eólicas poderiam ajudar a economizar R$ 1 bilhão das térmicas

Elbia Melo, presidente da Abeeólica, afirma que o alívio financeiro não evitaria riscos de racionamento, que exigem investimento na diversificação da matriz de energia do país

Márcio Kroehn
Turbinas de vento, para geração de energia eólica, instaladas na Prainha do Canto Verde, próximo a Fortaleza, Ceará
Capacidade atual da energia eólica no Brasil equivale a 72% da geração de toda a América Latina (Yasuyoshi Chiba/AFP)

Chamada de energia de butique por Dilma Rousseff antes de assumir a Presidência da República, a energia eólica tem aumentado a participação dentro da matriz energética brasileira nos últimos três anos. 

Atualmente com potencial de 2,5 gigawatts (GW), a energia gerada pela força dos ventos deveria ter um papel ainda mais relevante no Brasil. 

O que impede um avanço mais rápido é o atraso médio de 18 meses nas obras das linhas de transmissão no Nordeste – como a que ligaria 184 cataventos da Renova, que estão parados na Bahia desde julho do ano passado e só devem começar a funcionar no final de 2013. 

Se esse e outros parques de geração de energia estivessem em funcionamento, provavelmente o custo do acionamento das termelétricas seria menor – a economia estimada de outubro a abril chegaria a 1 bilhão de reais. No entanto, a eólica seria importante apenas no lado financeiro. A solução para o risco de racionamento não é apostar numa matriz de energia, mas na diversificação. 

“A saída de médio e longo prazo são usinas hidrelétricas com reservatório e as térmicas como reserva. As demais são energias sazonais”, diz Elbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), que conversou com o site de VEJA.

O país esteve próximo do racionamento de energia neste ano?
O que se pode afirmar é que o país passou por dificuldade de fornecimento, considerando os níveis dos reservatórios, que estavam em patamares muito baixos na comparação histórica. A situação merece uma reflexão sobre a matriz de energia.

Os parques eólicos que ainda aguardam a instalação das linhas de transmissão poderiam minimizar esse problema?
A percepção de risco seria a mesma. Esses parques estariam gerando 300 MW a mais e o país está consumindo 15 GW de energia térmica em tempo integral. Por outro lado, as eólicas que já estão instaladas geraram para o sistema uma média de 560 MW de energia em 2012, e contribuíram bastante. 

Mas caso tivéssemos gerando 300 MW a mais haveria uma economia de 150 milhões de reais por mês nos gastos com combustível das térmicas, além de outros benefícios para o meio ambiente pela eólica ser uma energia limpa.

Qual é a saída para evitar a situação de risco de racionamento?
A eólica ajuda a melhorar o sistema de energia, mas não é a saída para o racionamento. A saída de médio e longo prazo é a diversificação da matriz, com usinas hidrelétricas com reservatório e as térmicas como reserva. As demais – eólica e solar, por exemplo – são renováveis, intermitentes e sazonais. Elas não são a solução de segurança. 
A prioridade para a geração é ter a termelétrica como fonte de reserva.

Neste momento, como está a instalação das linhas de transmissão que estão atrasadas?
As linhas de transmissão associadas à energia eólica são dos leilões realizados entre 2009 e 2010. Seja em parques instalados ou em instalação, o atraso médio é de 18 a 24 meses. Ou seja, os parques que deveriam entrar em operação em 2012 e 2013 vão levar esse tempo a mais para começar a transmitir a energia gerada.

Esse problema afastou o interesse de investidores pelas eólicas?
Não houve desconfiança porque a regulação brasileira deixou todos confortáveis. Todos os contratos tiveram direito a receita de geração, pois o atraso não foi por uma decisão deles. O aparato é bom e está sendo cumprido. O problema é que os gargalos de infraestrutura são maiores. É um processo de aprendizado que já teve efeito.

Qual é a probabilidade de haver uma repetição desses atrasos no futuro?
Não vão se repetir no futuro. Há uma nova configuração para os leilões de energia. O plano de expansão das linhas transmissão foi antecipado. Antes, primeiro ocorria o leilão de energia e depois o da transmissão. A partir de agora, primeiro vai ocorrer o leilão da expansão das linhas e depois o leilão dos parques eólicos.


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