Prédios comerciais são maioria em obras sustentáveis no País

Em apenas dois anos, 40% dos novos prédios comerciais do Rio deverão ser considerados edifícios verdes

Por Clipping/GBC Brasil
Divulgação/GBC Brasil

Em apenas dois anos, 40% dos novos prédios comerciais do Rio deverão ser considerados edifícios verdes. A estimativa é da consultoria Cushman & Wakefield, que fez o levantamento no segundo trimestre do ano passado, levando em conta lançamentos já previstos para até 2013. 

A maioria dos novos edifícios ficará na região do Centro. Hoje, 2,5% dos prédios comerciais da cidade são classificados como verdes.

"Ser sustentável pode ser o fiel da balança na hora de uma empresa se instalar nesse ou naquele prédio. Por isso, cada vez mais incorporadoras investem em prédios comerciais sustentáveis" explica João Pacheco, diretor de engenharia e sustentabilidade da Cushman & Wakefield.

Prova disso é que crescem os pedidos de certificações de sustentabilidade no País. Só do selo Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), o aumento em 2011 foi de 140% em relação ao ano anterior, o que fez com que o país subisse do quinto para o quarto lugar no ranking dos países com mais edificações em certificação (429, no final do ano passado). 

Organização responsável pelo selo, o Green Building Council (GBC) faz o ranking nos 131 países em que está presente. À frente do Brasil, apenas Estados Unidos, China e Emirados Árabes Unidos.

"O Brasil registra crescimento muito bacana do setor. No último trimestre, recebemos um pedido por dia. E a tendência é que isso aumente à medida que as pessoas vejam os resultados econômicos de se instalarem em construções com características sustentáveis" destaca Marcos Casado, gerente técnico do GBC Brasil.

Segundo Casado, 20% dos edifícios que pedem a certificação não conseguem obtê-la. Ou seja, a vontade de ser, ou parecer, verde ainda é maior que a prática.

"Para receber o selo, é preciso atender a oito pré-requisitos com parâmetros mínimos. Nem todos conseguem atingi-los Mas isso já mostra que existe uma preocupação" diz Casado.

De qualquer forma, a tendência é clara. O selo Aqua, da Fundação Vanzolini, é outro que apresenta crescimento. Líder no número de certificações concedidas no país (50 até o fim de 2011, o dobro de 2010), o Aqua começou em 2008 analisando apenas prédios comerciais. 

Em 2010, lançou o selo para projetos habitacionais. Em 15 meses, foram certificados 13 prédios residenciais e um condomínio com 80 casas, quase todos no estado de São Paulo. Há propostas para outros seis empreendimentos.

"Esperamos fechar 2012 com ao menos 90 empreendimentos certificados no país. As pessoas se sentem orgulhosas quando sabem que moram numa casa sustentável, por exemplo" diz Bruno Casagrande, executivo de negócios da Fundação Vanzolini.

No setor residencial, o ritmo de crescimento ainda é bem lento

A ideia de viver numa casa ou num apartamento sustentável pode até agradar a muita gente. Mas o fato é que encontrar imóveis assim no mercado ainda é difícil. Enquanto as empresas parecem já ter percebido que os custos maiores na construção desses prédios são rapidamente compensados pela economia em sua manutenção (cerca de 30% a 40% na redução do consumo de água e energia, por exemplo), o consumidor final ainda parece reticente quanto a gastar mais na hora da aquisição.

"O cliente do prédio residencial ainda tem uma questão emocional forte com a compra do imóvel no Brasil. No comercial, existe uma preocupação econômica importante, sem falar nos ganhos em imagem para a empresa" explica Marcos Casado, que destaca ainda a grande redução os custos de obras sustentáveis. O investimento das indústrias do setor vem barateando os custos.

Políticas públicas poderiam incentivar setor sustentável
Segundo dados de mercado, um empreendimento sustentável, que já foi 30% mais caro que o comum, hoje custaria mais caro entre 1% e 7%. Em alguns casos, nos Estados Unidos, seria de apenas 0,5%.

Para os especialistas, faltam no Brasil políticas públicas claras para o setor, que poderiam incentivar o surgimento de mais empreendimentos sustentáveis, não só na área residencial, mas também na comercial, industrial, de clínicas etc.

Prova disso é que dos 12 estádios em construção para a Copa de 2014, apenas o de São Paulo não entrou com o pedido para a certificação Leed. O motivo da adesão? Uma linha de financiamento disponibilizada pelo BNDES com taxa de juros reduzida e maior prazo de pagamento para quem garantisse o selo.

Principal financiadora da compra da casa própria no país, a Caixa Econômica estuda meios de também conceder benefícios tanto para quem comprar um imóvel sustentável, quanto para as construtoras que investirem em projetos que obedeçam aos critérios de sua própria certificação, o Selo Azul, criado em 2010.

"Como os nossos empreendimentos são voltados para baixa renda, os custos mais altos ainda inviabilizam esse tipo de investimento por parte das construtoras. Mas desde que criamos o selo recebemos muitas consultas sobre os seus critérios e acredito que boa parte dos novos projetos já deverá atender a esses requisitos" diz Mara Luiza Motta, gerente nacional de meio-ambiente em exercício da Caixa.

Para Cristina Montenegro, um dos membros do Conselho Brasileiro da Construção Sustentável, o que falta no Brasil é uma conjunção de fatores que permitam a consolidação da construção civil sustentável no país. Segundo ela, o setor tem todas as condições para ser dos primeiros a fazer a transição para a economia verde. Só precisa de incentivos:

"Não dá para dizer que não temos tecnologia, profissionais ou consumidores interessados. O que falta é a integração de todos esses fatores, o que só acontecerá quando o setor estiver mais maduro. Temos indústrias investindo em produtos menos poluentes, universidades pesquisando e gente preparada, o que mostra que a construção está no caminho da sustentabilidade".

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