Frances Jones, da Agência FAPESP
O físico José Goldemberg, que já foi ministro da Educação, secretário do Meio Ambiente da Presidência da República e reitor da Universidade de São Paulo (USP), obteve em janeiro mais um reconhecimento internacional.
Ele foi o vencedor do Prêmio Zayed de Energia do Futuro (Zayed Future Energy Prize) na categoria Life achievement, concedido a profissionais de destaque na área de energia renovável.
Das mãos do xeique Mohammed bin Zayed Al Nahyan, príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Goldemberg recebeu o prêmio no valor de US$ 500 mil em uma cerimônia na capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU).
“Fiquei admirado por ter recebido o prêmio, porque não só é um reconhecimento do trabalho científico que tenho feito, mas também de que a bioenergia é um ingrediente importante para um futuro sustentável”, disse Goldemberg à Agência FAPESP.
Este é o quinto ano em que o prêmio é concedido pela fundação criada pelo filho e sucessor do xeique Zayed bin Sultan Al Nahyan, fundador dos EAU, falecido em 2004.
Nos outros anos, segundo Goldemberg, o prêmio laureava em geral trabalhos em energia fotovoltaica e eólica e sobre conservação de energia.
“É a primeira vez que eles premiam alguém cujo trabalho principal não foi nessa área, mas em bioenergia, o que chama atenção, porque se trata de um prêmio concedido no Oriente Médio”, disse. Os Emirados Árabes têm uma das dez maiores reservas de petróleo no mundo.
O júri deste ano foi composto por personalidades como o presidente da Islândia, Ólafur Ragnar Grímsson, a ex-reitora do Massachusetts Institute of Techology (MIT) Susan Hofkfield e o ator e ativista norte-americano Leonardo DiCaprio. Foram avaliados o impacto, a inovação, a visão a longo prazo e a liderança nas áreas de energia renovável e sustentabilidade ao longo da carreira dos indicados.
Além da premiação conquistada por Goldemberg, voltada para indivíduos, o prêmio tem categorias voltadas a pequenas e médias empresas, escolas de ensino médio, organizações não governamentais e grandes empresas, vencida este ano pela Siemens. No total, a Masdar, a Companhia de Energia do Futuro de Abu Dhabi, distribuiu US$ 4 milhões em prêmios.
Masdar também é o nome do bairro de Abu Dhabi inteiramente movido a energia solar, situado a cerca de 10 quilômetros do centro da cidade. “É tudo high tech, alta tecnologia”, contou Goldemberg, que visitou o local. “É caro também. Mas essas coisas no começo são caras e depois o preço vai caindo.”
Sustentabilidade
De acordo com Goldemberg, o prêmio é um estímulo para a procura de um futuro mais sustentável. “Eles querem prestigiar empresas ou pessoas que estejam trabalhando para a sustentabilidade, porque essa é que era a visão do velho xeique [Zayed bin Sultan Al Nahyan].”
Em 2007, a revista Time escolheu Goldemberg como um dos “heróis do meio ambiente”. Em 2008, ele recebeu o Planeta Azul, da Asahi Glass Foundation, do Japão, um dos mais importantes em ecologia, entre outros motivos por sua importante participação na realização da Rio 92.
“Tenho uma carreira longa. Entrei na área de energia já com 40, 50 anos de idade. O que me impressionou é que o conforto que uma parte importante da humanidade tem hoje é baseado no uso de combustíveis fósseis”, afirmou Goldemberg, que iniciou a carreira como físico nuclear. “Toda a civilização que temos – a civilização do século 20 – é baseada em combustíveis fósseis. E essa situação não pode durar.”
“É preciso procurar soluções sustentáveis. E soluções sustentáveis são energias que vêm do Sol, por exemplo”, disse.
Na área de bionergia, no fim dos anos 1970, Goldemberg publicou na revista Science um artigo no qual calculou a quantidade de energia consumida por três plantas – mandioca, sorgo-doce e cana de açúcar – para produzir o etanol, mostrando a eficiência da cana na comparação.
“Ajudei a identificar as características positivas da bioenergia. O pessoal produzia açúcar e etanol há 30 anos, mas não tinha se dado conta de que etanol é no fundo energia solar transformada em um líquido. Meu trabalho publicado na Science mostrou isso: etanol é no fundo energia solar convertida em líquido”, disse.
Mais informações sobre o prêmio:
(Agência FAPESP)
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