O “Movimento Nova Política” contrapõe-se, denuncia e rejeita a “velha política”. Um imenso equívoco, por, ao menos, três razões.
Primeiro, nem tudo que é novo é melhor que o velho, pois novo não é sinônimo de bom. Novos fenômenos políticos podem ser tanto ótimos quanto péssimos. No século passado, quando surgiram os piores – o fascismo e o nazismo –, eles estavam entre os mais novos.
Segundo, nem tudo o que é velho merece ser rejeitado. Seria ignorar as inúmeras conquistas democráticas dos últimos 300 anos. As que permitem lutar pelos grandes ideais da sociedade moderna, catalogados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Claro, a eles precisa ser incorporado o da sustentabilidade. Mas não é motivo para que sejam atirados nessa espécie de vala comum que os entusiastas da nova política chamam de velha política.
Terceiro, o novo sai de dentro do velho, e o velho continua sempre presente no novo. Mesmo atitudes muito bem refletidas partilham padrões essenciais das reações dos outros primatas, para nem falar de elefantes, cachorros ou roedores.
Bastam essas três considerações para que se perceba quanto é ingênuo brandir o novo contra o velho. Em vez disso, é preciso procurar saber o que leva uma sociedade a escolher, ou a não escolher, o que há de melhor, tanto no novo como no velho. Isso obriga um movimento que queira ajudar o avanço socioambiental a se definir em termos menos toscos do que essa pretensiosa encarnação do novo contra o velho. Também permitiria que ele se distanciasse de messianismos. De corte metafísico, por um “Novo Mundo”, ou do materialismo vulgar, por um “Novo Homem”.
É ainda mais infantil a tendência do movimento em opor “sonháticos” a “pragmáticos”. Pois é imprescindível ser realista para que se possa cultivar e praticar uma boa utopia, no mais rigoroso sentido filosófico desse termo: o conjunto de ambições que alicerça as esperanças por uma sociedade preferível à qual se vive.
O mais engraçado é que os “sonháticos” levantam sérias suspeitas sobre a própria postura quando dizem que os adeptos do “Movimento Nova Política” podem escolher entre três opções: aderir a qualquer dos atuais partidos, empenhar-se na fundação de um novo partido, ou radicalizar sua postura extrapartidária. Poderia haver mais óbvio pragmatismo?
Não será fácil romper com essas ingenuidades e incoerências. Pois o desafio é definir com clareza o que se pretende, tanto no que se refere a um projeto de sociedade quanto sobre a conflituosa agenda da vida política de 2012, em termos mais imediatos e práticos.
Seria ilusão tentar apontar, aqui e agora, quais seriam as respostas a tamanho desafio. Mas certamente é possível indicar referências que poderiam ajudar os adeptos do “Movimento Nova Política” a descerem da estratosfera para formular uma plataforma com um mínimo de consistência.
O documento Causa Comum, lançado em 2010 por cinco importantes entidades britânicas, sob a coordenação do WWF- UK, está agora disponível em português na página www.zeeli.pro.br. Sua leitura mostrará, entre outras coisas, a importância de entender melhor a empatia como característica fundamental das pessoas, em oposição ao egoísmo, o outro polo da principal contradição de nossa espécie.
A partir daí, será preciso aprofundar esse entendimento pela leitura de um belíssimo livro lançado em 2010 pela Companhia das Letras: A Era da Empatia, de Frans de Waal. E torcer para que surja logo a tradução da última obra de Jeremy Rifkin: The Empathic Civilization (New York: Penguin, 2009).
A segunda principal fonte de ideias para a formulação de uma razoável plataforma está no imenso material bibliográfico já produzido para a Rio+20. Principalmente as abordagens de três instâncias das Nações Unidas: o Pnuma, o Pnud e o Ecosoc. A partir de março, elas serão examinadas em disciplina do programa de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP, que também poderá ser acompanhada on- line pela mesma página web.
Por último, mas não menos importante, é preciso pensar na cor simbólica desse movimento pela sustentabilidade que nasce sob a ilusão da “nova política”. Uma cor que seja acrescentada às dos três grandes ideais da modernidade, simbolizados pelo azul da liberdade, pelo branco da igualdade (ou equidade) e pelo vermelho da fraternidade (ou solidariedade).
Primeiro, nem tudo que é novo é melhor que o velho, pois novo não é sinônimo de bom. Novos fenômenos políticos podem ser tanto ótimos quanto péssimos. No século passado, quando surgiram os piores – o fascismo e o nazismo –, eles estavam entre os mais novos.
Segundo, nem tudo o que é velho merece ser rejeitado. Seria ignorar as inúmeras conquistas democráticas dos últimos 300 anos. As que permitem lutar pelos grandes ideais da sociedade moderna, catalogados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Claro, a eles precisa ser incorporado o da sustentabilidade. Mas não é motivo para que sejam atirados nessa espécie de vala comum que os entusiastas da nova política chamam de velha política.
Terceiro, o novo sai de dentro do velho, e o velho continua sempre presente no novo. Mesmo atitudes muito bem refletidas partilham padrões essenciais das reações dos outros primatas, para nem falar de elefantes, cachorros ou roedores.
Bastam essas três considerações para que se perceba quanto é ingênuo brandir o novo contra o velho. Em vez disso, é preciso procurar saber o que leva uma sociedade a escolher, ou a não escolher, o que há de melhor, tanto no novo como no velho. Isso obriga um movimento que queira ajudar o avanço socioambiental a se definir em termos menos toscos do que essa pretensiosa encarnação do novo contra o velho. Também permitiria que ele se distanciasse de messianismos. De corte metafísico, por um “Novo Mundo”, ou do materialismo vulgar, por um “Novo Homem”.
É ainda mais infantil a tendência do movimento em opor “sonháticos” a “pragmáticos”. Pois é imprescindível ser realista para que se possa cultivar e praticar uma boa utopia, no mais rigoroso sentido filosófico desse termo: o conjunto de ambições que alicerça as esperanças por uma sociedade preferível à qual se vive.
O mais engraçado é que os “sonháticos” levantam sérias suspeitas sobre a própria postura quando dizem que os adeptos do “Movimento Nova Política” podem escolher entre três opções: aderir a qualquer dos atuais partidos, empenhar-se na fundação de um novo partido, ou radicalizar sua postura extrapartidária. Poderia haver mais óbvio pragmatismo?
Não será fácil romper com essas ingenuidades e incoerências. Pois o desafio é definir com clareza o que se pretende, tanto no que se refere a um projeto de sociedade quanto sobre a conflituosa agenda da vida política de 2012, em termos mais imediatos e práticos.
Seria ilusão tentar apontar, aqui e agora, quais seriam as respostas a tamanho desafio. Mas certamente é possível indicar referências que poderiam ajudar os adeptos do “Movimento Nova Política” a descerem da estratosfera para formular uma plataforma com um mínimo de consistência.
O documento Causa Comum, lançado em 2010 por cinco importantes entidades britânicas, sob a coordenação do WWF- UK, está agora disponível em português na página www.zeeli.pro.br. Sua leitura mostrará, entre outras coisas, a importância de entender melhor a empatia como característica fundamental das pessoas, em oposição ao egoísmo, o outro polo da principal contradição de nossa espécie.
A partir daí, será preciso aprofundar esse entendimento pela leitura de um belíssimo livro lançado em 2010 pela Companhia das Letras: A Era da Empatia, de Frans de Waal. E torcer para que surja logo a tradução da última obra de Jeremy Rifkin: The Empathic Civilization (New York: Penguin, 2009).
A segunda principal fonte de ideias para a formulação de uma razoável plataforma está no imenso material bibliográfico já produzido para a Rio+20. Principalmente as abordagens de três instâncias das Nações Unidas: o Pnuma, o Pnud e o Ecosoc. A partir de março, elas serão examinadas em disciplina do programa de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP, que também poderá ser acompanhada on- line pela mesma página web.
Por último, mas não menos importante, é preciso pensar na cor simbólica desse movimento pela sustentabilidade que nasce sob a ilusão da “nova política”. Uma cor que seja acrescentada às dos três grandes ideais da modernidade, simbolizados pelo azul da liberdade, pelo branco da igualdade (ou equidade) e pelo vermelho da fraternidade (ou solidariedade).
Mas sem insistir no equívoco dos alemães que escolheram o verde. Pois os oceanos são tão ou mais importantes que a cobertura vegetal dos continentes para a conservação da biosfera. E azul com verde dá turquesa.
*Professor dos programas de Pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e do Instituto de Pesquisas Ecológicas. www.zeeli.pro.br
*Professor dos programas de Pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e do Instituto de Pesquisas Ecológicas. www.zeeli.pro.br
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