Obras ‘verdes’ vão gerar US$ 500 bilhões nos EUA, mas especialistas veem projetos com ressalvas
POR JOÃO RICARDO GONÇALVES
Rio - Projetos de “construções verdes”, geralmente definidos como os que consomem menos energia e causam menos impacto onde são erguidos, ainda são novidade, mas já estão gerando muito dinheiro.
Eles devem injetar, entre 2009 e 2013, US$ 554 bilhões (cerca de R$ 988 bilhões) na economia combalida dos Estados Unidos, segundo o Conselho de Prédios Verdes dos EUA. Especialistas, entretanto, pedem cautela quando se pensa em recorrer à chamada “arquitetura sustentável”.
Quem pensa em tornar uma obra mais sustentável, entretanto, deve levar em conta vários fatores da construção, e não simplesmente adicionar ingredientes aleatórios no projeto, como quem joga enfeites sobre uma árvore de Natal. O risco é tornar o prédio ou casa ainda mais caro, e não necessariamente mais ‘verde’.
Professor da Universidade de Brasília, o arquiteto Federico Flósculo acredita que grande parte do discurso ecológico em construções é “cosmético” e que ainda não há produção em escala de materiais sustentáveis que justifiquem seu uso no Brasil. “Não há política que favoreça este tipo de produção”, diz Flósculo.
Já o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio, Marcelo Bezerra, acredita que é possível, sim, usar produtos sustentáveis sem necessariamente encarecer uma obra. Ele observa que erguer uma construção considerada sustentável pelos padrões internacionais, porém, não garante menor consumo de energia e de outros recursos. “O prédio mais sustentável não vai atingir suas metas se os usuários não colaborarem”, explica.
Segundo Bezerra, antes da obra, é recomendável que se leve em consideração alguns fatores, quando se pensa em sustentabilidade: o local; como vai se usar a água e o esgoto; o tipo e de onde vem o material; e principalmente, em caso de escritórios, a qualidade do ar.
“É possível, buscando-se a ventilação cruzada, economizar ar condicionado e captar a água da chuva para se economizar água. Quando se pensa em painéis fotovoltaicos (para captar energia solar), é preciso avaliar a necessidade. No momento, para algumas obras, podem ser caros, mas, no futuro, o custo pode cair”, afirma.
Captação de energia solar e controle de gastos
Na última década houve a proliferação de prédios rotulados como “energeticamente positivos”, ou seja, que produzem mais energia do que gastam. O primeiro edifício comercial a conseguir o feito foi o Elithis Tower, em Dijon, na França (veja info ao lado). Ele usa como estratégias painéis para captar energia solar, o controle absoluto do que cada setor gasta e a conscientização dos funcionários. Os escritórios não têm interruptores nem ar condicionado. Nem por isso são mais quentes, já que a circulação do ar é melhor aproveitada.
Na Alemanha, já existe um bairro inteiro que produz mais energia do que consome. Freiburg, no vilarejo de Sonnenschiff, é capaz de produzir quatro vezes mais do que gasta, graças a painéis fotovoltaicos de captação de luz solar, entre outras estratégias. Os moradores também usam técnicas de captação de água da chuva.
Experiência do Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha, em parceria com profissionais de 20 países, a Fab Lab House, na Espanha, produz três vezes mais energia do que consome. Ela conta com captação de energia eólica e solar.
Na Dinamarca, o projeto mais conhecido é a Active House, que utiliza janelas maiores do que as usadas nas casas comuns e contam com isolamento de calor, além de captação de energia solar e sensores que abrem frestas para regular a temperatura.
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