Os setores tradicionais da economia já avançaram muito na reciclagem de metais como o alumínio, o cobre e o ferro.
Mas se o setor de alta tecnologia quiser capitanear o movimento rumo a uma economia limpa, então está passando da hora de começar a se ocupar com a reciclagem dos chamados "metais de alta tecnologia", metais especiais como o lítio, o neodímio e o gálio.
O alerta é de um relatório que está sendo preparado pelo Programa de Meio Ambiente da ONU, e que deverá ser completado até o final do ano.
Metais de alta tecnologia
Esses metais de alta tecnologia são necessários para a fabricação de componentes-chave para turbinas eólicas, células solares, baterias para veículos híbridos, células a combustível e sistemas de iluminação de alta eficiência, baseada em LEDs.
Além da reciclagem ser um dos pilares de uma economia sustentável, esses metais são raros, com poucas minas que, como sempre acontece em mineração, estão localizadas em pontos geográficos definidos, sem qualquer distribuição equitativa entre os países.
No entanto, apesar da preocupação presente no discurso dos executivos do setor de alta tecnologia, sobre a escassez dos metais especiais e dos seus altos preços, apenas cerca de 1% desses metais essenciais à alta tecnologia são reciclados hoje.
Os restantes 99% são simplesmente jogados no lixo no final da vida útil dos equipamentos.
Reciclagem dos metais especiais
Segundo os resultados preliminares do relatório, a menos que essas taxas de reciclagem subam drasticamente, os metais especiais e os elementos retirados das terras raras se tornarão "essencialmente indisponíveis para o uso da tecnologia moderna."
O relatório também ressalta os ganhos energéticos e a diminuição do impacto ambiental que poderiam ser obtidos se o setor de alta tecnologia alcançasse a taxa de reciclagem dos metais tradicionais.
Isso ocorre porque os metais reciclados gastam entre duas e dez vezes menos energia do que a fundição dos mesmos metais a partir dos minérios brutos.
"Melhorar as taxas de reciclagem não apenas oferece um caminho para melhorar a oferta e manter os preços dos metais mais baixos, mas também pode gerar novos tipos de emprego e garantir a longevidade das minas e das reservas minerais encontradas na natureza", afirmou Achim Steiner, subsecretário da ONU para assuntos do meio ambiente.
Metais acima do solo
Para analisar o impacto da extração e do consumo dos metais, os pesquisadores utilizam o conceito de metais "acima do solo" - os metais que já foram extraídos das minas e estão em uso pela sociedade.
Veja algumas das conclusões preliminares do relatório sobre a nossa "sociedade metálica":
- A quantidade de aço por pessoa nos Estados Unidos está hoje entre 11 e 12 toneladas. Na China é de 1,5 tonelada.
- Os estoques mundiais de metais têm crescido de tal forma que hoje há cobre "acima do solo" equivalente a 50 kg por pessoa.
- Desde 1932, a quantidade de cobre por pessoa nos Estados Unidos cresceu de 73 kg para perto de 240 kg hoje. Se este padrão de consumo de metais for seguido por todos os países, a quantidade de cobre e outros metais seria de 3 a 9 vezes os níveis atuais.
- A vida útil do cobre em edifícios é de 25 a 40 anos, enquanto nos PCs e nos telefones celulares o tempo de vida útil do metal é inferior a cinco anos.
- A demanda global por metais como cobre e alumínio duplicou nos últimos 20 anos.
- A falta de infraestrutura adequada para a reciclagem dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos na maior parte do mundo está causando perdas contínuas de cobre e outros metais valiosos, como ouro, prata e paládio.
- Para vários metais de alta tecnologia, como o índio e o ródio, mais de 80 por cento de toda a quantidade extraída dos recursos naturais saiu das minas apenas nas últimas três décadas.
Índio
O relatório cita o índio como exemplo dos cerca de 40 metais de alta tecnologia estudados, incluindo aqueles contidos nas terras raras.
O estudo destaca que esses metais são cruciais para as tecnologias sustentáveis do futuro, como energias eólica e solar e baterias avançadas para veículos híbridos.
- O índio é usado em semicondutores, em diodos emissores de luz (LEDs), sistemas avançados de imagens médicas e células solares.
- O índio é um metal encontrado em baixas concentrações na natureza e é minerado como um subproduto dos minérios de zinco.
- Prevê-se um forte crescimento da demanda bruta do índio, de cerca de 1.200 toneladas em 2010 para cerca de 2.600 toneladas em 2020.
- Acredita-se que as taxas de reciclagem atuais de índio sejam inferiores a um por cento, com um dado similar para os outros metais especiais. É o caso do telúrio e do selênio, usados em células solares de alta eficiência, do neodímio e do disprósio para ímãs de turbinas eólicas, do lantânio das baterias para veículos híbridos e do gálio, usado nos LEDs.
Paládio
O relatório cita o paládio como exemplo dos oito metais preciosos estudados, incluindo o ouro e a prata.
O paládio é utilizado em catalisadores de carros, catalisadores industriais e em áreas tão diversas quanto odontologia e fabricação de joias.
Atualmente as taxas de reciclagem do paládio chegam a até 90 por cento nas aplicações industriais, com taxas mais moderadas na indústria automobilística, onde ficam em torno de 50 a 55 por cento.
Entretanto, nas aplicações eletrônicas, as taxas de reciclagem do paládio estão apenas entre cinco e dez por cento, em parte porque menos de 10 por cento dos telefones celulares são reciclados adequadamente.
Reciclagem dos metais
O relatório também destaca que é possível melhorar a situação dos metais tradicionais:
- A produção mundial de aço utiliza 1,3 bilhões de toneladas de ferro por ano, que geram emissões de 2,2 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa. O aço "secundário", originário de reciclagem, causa 75 por cento menos emissões de gases de efeito estufa.
- As emissões geradas pelo alumínio reciclado são aproximadamente 12 vezes menores do que na produção de alumínio primário.
- Atualmente, apenas poucos metais, como ferro e platina, têm taxas de reciclagem no fim da vida útil de 50 por cento ou mais.
- Para cada 100 milhões de toneladas de aço primário substituídas por aço secundário, ou reciclado, faz-se uma economia de cerca de 150 milhões de toneladas de CO2.
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