Diante do fato de que o potencial hídrico do Brasil está concentrado na região Norte do País, a energia termonucler se apresenta como uma opção de matriz energética tentadora, pelo seu potencial de geração de energia elétrica. O própio governo federal, ao decidir ampliar o programa nuclear brasileiro um ano e meio atrás, sinalizou este caminho.
No entanto, é possível suprir a demanda de energia elétrica utilizando outras matrizes energéticas, como a térmica de biomassa, a eólica e a exploração sustentável de pequenas centrais hidrelétricas, sem ter que investir pesado em uma tecnologia que gera lixo radioativo, criar recursos humanos capacitados para isso ou dominar a cadeia de produção do urânio. É o que defende o coordenador do Laboratório de Energia e Gás (LEN), da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o engenheiro Ednildo Andrade Torres, que proferiu uma conferência sobre este assunto, durante a Reunião Regional da SBPC em Mossoró (RN).
Promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o evento está sendo realizado nas instalações da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) e da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). O objetivo é discutir, por meio de conferências e mesas-redondas, o desenvolvimento sustentável do semiárido. A Reunião foi encerrada na tarde desta sexta-feira, 16.
Na sua avaliação, matrizes alternativas à termonuclear podem atender a demanda de energia, no ritmo de crescimento esperado pelo País; desde que se invista também em um programa de eficiência energética. Segundo Torres, 80% de toda energia elétrica produzida hoje no Brasil é de fonte hidroelétrica, sendo que apenas 20% são de outras matrizes, como a nuclear, biocombustíveis, eólica, gás natural etc. “O problema é que questões ambientais e antropológicas dificultam a construção de novas usinas hidroelétricas, especialmente na região Norte”, firma.
No entanto, ainda é possível explorar os recursos hidrícos de outras regiões de forma sustentável, especialmente com pequenas centrais hidroelétricas. “Vários estados têm condições de abrigar usinas do gênero, a exemplo da Bahia e do Pará”, afirma. Com relação à biomassa e à eólica, praticamente todo o País pode produzir energia a partir dessas matrizes. “São energias limpas e em franca expansão, ao contrário da nuclear, que é obsoleta e apresenta riscos de contaminação radioativa; e da térmica a diesel e a óleo combustível, que têm a desvantagem de emitir gases de efeito estufa.
Na sua avaliação, o que faltam, na verdade, são políticas públicas que viabilizem e direcionem os investimentos para fontes de energia menos poluentes e mais seguras. Mas, diz o pesquisador, mesmo que o governo decidisse priorizar outras matrizes os investimentos precisariam vir acompanhados de um programa de eficiência energética. “Atualmente, perde-se cerca de 30% de toda a energia produzida do País com sistemas e equipamentos ineficientes, tecnologias obsoletas, uso indevido e roubo”, afirma ele, acrescentando que um novo marco regulatório também seria essencial nesse processo. “Residências de classe média e alta poderiam ter um sistema fotovoltaico, integrado à rede elétrica, que poderia ser usado para aquecimento de água”, exemplifica.
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