Sustentabilidade cinco anos depois

Passados cinco anos da entrada em operação do primeiro empreendimento certificado LEED Gold, o engenheiro Luiz Henrique Ceotto comenta a evolução da construção sustentável no país
Redação AECweb / e-Construmarket



Rochaverá Corporate Towers, São Paulo (SP)
“Um edifício sustentável é aquele projetado para durar muito. Na Tishman, temos uma máxima: não sei quais sistemas serão desenvolvidos para serem usados nos nossos prédios daqui a 50 anos, mas sei que vou poder usá-los, porque foram feitos para durar 200 anos”. A afirmação é de Luiz Henrique Ceotto, diretor de Design & Construction da Tishman Speyer, que há exatos cinco anos inaugurava a primeira das quatro torres do Rochaverá Corporate Towers, na Marginal Pinheiros (SP), referência em construção sustentável no país, certificado com o LEED Gold.
Segundo ele, o empreendimento cumpriu aquilo para o qual foi projetado, ou seja, as simulações funcionaram e ele está consumindo o esperado em energia e água.

“Hoje, os novos prédios em projeto ou em execução concebidos pela Tishman têm uma eficiência maior do que o Rochaverá, porque tudo evoluiu nesse período.

Apesar de inaugurado há cinco anos, o projeto tem oito anos, portanto, os atuais são bem mais modernos resultando numa economia de energia 10% superior à obtida pelo primeiro.

O Rochaverá economiza em torno de 22% de energia em relação aos prédios convencionais brasileiros. Se comparamos com o nosso padrão que é o da norma norte-americana ASHRAE, a economia é de 2%. Nos novos projetos chegamos a 13% da norma – o equivalente a 32% em relação aos convencionais.

A economia de água continua por volta de 30% e estamos introduzindo em alguns empreendimentos 100% de tratamento de efluentes”, relata.
  

Responsável pela administração da operação dos empreendimentos que concebe, a Tishman constata que há um novo problema a ser enfrentado: o baixo profissionalismo das empresas brasileiras de assistência técnica e manutenção de sistemas mais sofisticados. 
Ceotto alerta que temos que tomar cuidado ao sofisticar demais porque o mercado brasileiro está aquém das nossas necessidades. 
E explica que a dificuldade abrange praticamente todos os sistemas. Em particular, o de tratamento de água, pois as empresas não conseguem manter com facilidade os parâmetros estabelecidos para usar a água, por exemplo, na torre de resfriamento de ar-condicionado.
“Enquanto nos Estados Unidos e Europa esses serviços estão consolidados e são de alta qualidade, aqui as empresas carecem de técnicos, há muita rotatividade de mão de obra justificada pela remuneração ruim e, com isso, perdemos o treinamento que damos nessas empresas. 
Por isso, temos que introduzir esses sistemas mais sofisticados, mas com parcimônia, pois a tendência é o mercado não acompanhar como desejaríamos. Eu daria nota 7, mas não aceito menos que 9. A falta de mão de obra qualificada é gigantesca”, desabafa o diretor.
GERAÇÃO DE DEMANDA

Ventura – triple A – Rio de Janeiro (RJ)
Ao construir, simultaneamente, a primeira torre do Rochaverá e o Ventura –triple A no Rio de Janeiro, também LEED Gold – inaugurou no Brasil a adoção de tecnologias inéditas naquele momento, como os elevadores inteligentes. “Hoje, todos os prédios, certificados ou não, têm sistemas similares. 

Forçamos os fabricantes a trazerem essa tecnologia para o Brasil e junto vieram os projetos e os mecânicos. Agora, esses elevadores custam praticamente a mesma coisa do que custavam os convencionais na época. 
Dessa forma, forçamos a geração de uma demanda”, ressalta, frisando que essa é a vantagem do edifício certificado, vitrine que puxa todo o mercado que se beneficia. É um modelo que as outras empresas podem perseguir.

“Muitos criticam a certificação, acham bobagem, argumentando que a cidade se renova a 1% ao ano e que um ínfimo disso é constituído por prédios certificados. Afirmam ainda que a economia que esses edifícios fazem não representa nada para a cidade. 
Não é isso! Prédio certificado é ícone, que orienta toda indústria para o seu desenvolvimento, dá visibilidade à indústria e barateia os custos”, sentencia Ceotto.
OBJETO DO DESEJO

O diretor da Tishman não tem dúvidas sobre a valorização de edifícios certificados no mercado imobiliário. O sobrepreço, segundo ele, vai de 5% a 10% o metro quadrado de locação. 

“As pessoas já entendem que é um prédio que funciona muito melhor e tem um condomínio menor, portanto, o custo das facilities somado ao do aluguel acaba sendo igual ou menor do que o do prédio convencional”, diz. 

Dependendo do número e do nível de serviços oferecidos pelo edifício, o condomínio pode variar entre R$ 20 e R$ 30 o metro quadrado. 


“Quem no mercado fala em condomínio de R$ 14 o metro quadrado esquece de dizer que o ar-condicionado não está incluído, afinal, é o item que mais consome energia”, alerta.

Para Luiz Henrique Ceotto os incorporadores, de maneira geral, ainda não percebem o alcance de um prédio sustentável e há muita desinformação no mercado – “todo mundo é ‘verde’ e fica difícil para o cliente separar o joio do trigo, aliás, tem mais joio do que trigo”. 
Por isso, aconselha: a melhor maneira de o interessado ter certeza é a certificação, especialmente o LEED. “O cliente precisa reconhecer a credibilidade de quem certifica. É o caso do Green Building Council”, sugere.
O salto evolutivo da construção sustentável no Brasil nos últimos sete anos está, segundo Ceotto, no fato de as pessoas desejarem mais e o mercado falar menos e fazer um pouco mais. 
O consumidor de imóveis – locatário ou comprador, tanto nos segmentos residencial quanto comercial – está demandando por produtos mais sustentáveis, porém como algo obrigatório das empresas que os produzem e não está disposto a pagar mais por isso. “Multinacionais demandam bastante”, complementa.
Tendência atual nas grandes cidades e com possibilidade de certificação LEED específica, os retrofits são mais viáveis economicamente no Rio de Janeiro. “Os edifícios paulistanos que tinham valor histórico foram destruídos, enquanto os do Rio foram mais preservados. 
O que existe aqui foi construído nas décadas de 1970/80, a pior época da construção civil em São Paulo: são edifícios mal projetados, com pouca capacidade de carga, falta de vaga, lobby tímido, com pé direito baixo de até 2,40 m que não permitem sequer a instalação de ar-condicionado central. É muito difícil viabilizar o investimento. 
Não vale a pena. É diferente do que fizemos no Sul América, no Rio, belo edifício de 100 anos com pé direito alto. 
Ficou pronto, foi alugado e o fundo imobiliário está um sucesso”, conta o diretor, ressalvando que “é claro que, em São Paulo, há exceções, mas é difícil agregar valor aos prédios paulistanos dessa época e obter retorno financeiro do investimento. 
Eu sei que ambientalmente é péssimo, mas a tendência é derrubar e fazer outro”.

Fonte: Redação AECweb / e-Construmarket
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Luiz Henrique Ceotto, diretor de Design & Construction da Tishman Speyer.

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