Da Ego à Ecossustentabilidade – O caminho da percepção

Por Giuliano Moretti
Publicado originalmente na Revista Geração Sustentável – Ano 6 – Edição 29 – Jul/Ago 2012 – pg. 38 – www.geracaosustentavel.com.br

Download PDF aqui.


Os movimentos rumo à sustentabilidade ambiental estão a todo vapor. Fala-se em Gestão Ambiental, Consumo Sustentável e Conservação do Meio Ambiente com uma naturalidade nunca antes vista, elencando-se uma miríade de práticas, métodos e indicadores que prometem resultados formidáveis em termos de inovação preservacionista. 


Planos, objetivos e metas parecem fazer parte do jargão estratégico das empresas e consultores, como uma panaceia para a crise dos ativos socioambientais que proveem a base da existência. Leis, normas, novas formas de se produzir com a mitigação sistemática dos impactos, maior eficiência e melhores alternativas energéticas, logística reversa e a contínua redução de rejeitos. 

Tudo isso em nome da emergência socioambiental que ameaça o ecossistema global.

Muito bem, parece um caminho necessário e sem volta que já vem trazendo importantes resultados. Entretanto, persiste a dúvida: até onde é possível “sustentabilizar” considerando o modelo econômico que vende uma felicidade estruturada no consumo egotista per se?

Em primeiro lugar, qualquer pessoa com uma percepção minimamente aguçada intui que o crescimento do consumo, chamado sustentável ou não, tem limites. 

Questão de balanço energético e material. Se não renovável e em altíssima escala, a energia, base fundamental de tudo, faltará. Até aí, tudo bem: tecnologias estão sendo pesquisadas e paulatinamente implementadas para resolver isso. Se as soluções serão realizadas a tempo, é outra história.

Mas então, onde está o maior problema? Nos fluxos materiais. Com ou sem logística reversa, maior ou menor eficiência produtiva, o crescimento e a complexidade dos fluxos materiais advindos da produção e da aceleração do consumo continuarão sendo os vilões dessa odisseia. 

Fluxos que vão de encontro à sustentabilidade por uma única razão: existem leis fundamentais da física, da química e da biologia, que estabelecem holisticamente as condições da vida como a conhecemos. E essas leis não se ajustam aos sabores da produção e do consumo super-velozes e em alta escala. 

A matemática já é velha conhecida: como a matéria não vêm do espaço, ao contrário da energia renovável, só se dispõe dos recursos que o Planeta oferece. Se a taxa de consumo material for maior que as taxas naturais de reinserção e de redistribuição dos recursos (considerando uma base in natura), a sustentabilidade se torna um sofisma.

Pessoas continuam sendo condicionadas para o consumo como requisito determinante para a satisfação última, para a realização plena que, obviamente, nunca chega. Do contrário, perversos mecanismos as aterrorizam com a possível marginalização social. Este é o pão estragado que alimenta todos. E o vazio continua, dia após dia.

Há solução? Seria pretensão demais afirmar categoricamente que há. O que se pode fazer é refletir acerca do comportamento individual, superficial e resultante da falácia de que a felicidade depende, sobretudo, do consumo. Urgente é superar este estreito entendimento que nutre temporariamente o ego, mas esvazia a alma e as relações coletivas.

É necessário tanto? Eu realmente preciso disso? Quanto é suficiente? Alguma coisa, afora a sabedoria e a paz que vem do silêncio mais profundo de mim, já proporcionou felicidade plena e perene a mim e aos outros?” 

Imprescindível é tentar responder a essas e outras perguntas, como um exercício diário de meditação. Provavelmente, poucas “coisas” contribuíram para a Felicidade Definitiva. 

A percepção de que o acúmulo demasiado é um veneno para si e para a organicidade do Todo, isto é, para a sustentabilidade tão sonhada, pode ser um primeiro passo para a simplificação dos fluxos materiais. 

Transformar profissionais e consumidores para que transcendam o caos frenético da produtividade, do consumismo e do crescimento que regem a ilusão coletiva, talvez estimule o despertar dos valores intangíveis que nascem da essência de cada ser humano.



Nenhum comentário: