FALTA DE MÃO DE OBRA PREJUDICA A ECONOMIA VERDE

OIT alerta para necessidade de investir em qualificação voltada para economia sustentável e a urgência de bons profissionais

O maior estudo já realizado sobre as necessidades e desafios do mercado de trabalho visando empregos que contribuem para a melhoria da qualidade ambiental alerta que a falta de qualificação já constitui um importante obstáculo à transição para economias verdes. 




O estudo "Competências profissionais para empregos verdes: um olhar sobre a situação mundial", realizado em 21 países, foi divulgado esta semana pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra.

A conclusão da comparação entre países mostra que o desenvolvimento de competências como parte das estratégias para acelerar a transformação verde das economias nacionais continua limitado a atividades isoladas. 

O Brasil, um dos países que foram analisados, constitui um evidência desse problema.

Segundo Paulo Muçouçah, coordenador da área de empregos verdes no escritório da OIT Brasil, a boa notícia é que o país possui uma quantidade surpreendente de cursos técnicos e universitários voltados para questões ambientais. Por outro lado, o país não tem uma política deliberada para atender essa demanda. "São cursos que atendem necessidades específicas do mercado", afirma.

Um exemplo é a demanda por engenheiros, técnicos e instaladores de paineis solares gerada pelo Minha Casa, Minha Vida e outros projetos menores de construção de habitações populares. 

"A demanda deve triplicar nos próximos quatro anos e está sendo necessário desenvolver programas massivos para formar esses profissionais", afirma Marcelo Mesquita, da Associação Nacional de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava). 

Junto com universidades, instituições estaduais e a Rede Procel Solar, a associação está organizando cursos de formação em cada região do país. "É um mercado amplo que exige urgência na formação de profissionais." Necessidades Muçouçah indica as áreas de biocombustíveis, tratamento de resíduos e engenharia de produtos com design sustentável (por exemplo, na indústria automobilística) como aquelas em que a necessidade de mercado estimula a formação intensiva. 

No entanto, ele lembra que as necessidades futuras visando o desenvolvimento sustentável precisam ir mais além. "Não se trata de inventar novos cursos ou mudar a formação tradicional, mas de incorporar habilidades a ocupações que já existiam." Segundo Olga Strietska-Ilina, coordenadora do estudo da OIT, "potencialmente, todo emprego pode ser mais verde. 

Mas exige a integração do desenvolvimento sustentável e a consciência ambiental em todos os níveis de educação e de formação, a partir da educação infantil.

Dessa forma, contribui para modificar a conduta dos consumidores e provocar uma mudança nas forças de mercado para impulsionar a agenda verde".

O estudo diz que a reconversão dos trabalhadores e a atualização das competências profissionais são urgentes para conseguir uma transição harmoniosa e justa rumo a uma economia que leve em conta as mudanças climáticas e manutenção do meio ambiente.

E mostra alguns países que já têm programas nesse rumo, com destaque para a China,que investiu US$ 586 bilhões entre 2009 e 2010 em programas de eficiência energética, veículos que não utilizam combustíveis fósseis, controle de emissões de carbono, transporte ferroviário, e tratamento de água e resíduos sólidos.

"As oportunidades de emprego dependem da política, da legislação e das necessidades de cada país", diz Muçouçah. No caso do Brasil, estamos apenas no início do processo, constata Ângelo Cortelazzo, coordenador do Ensino Superior Tecnológico do Centro Paula Souza, em São Paulo. 

"A sustentabilidade está permeando todas as matrizes curriculares e acaba refletindo na consciência ecológica dos alunos e professores. Mas dependendo da região, a demanda é mais de moda do que real."
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"Não se trata de inventar novos cursos ou mudar a formação tradicional, mas de incorporar habilidades a ocupações que já existem."

Fonte: Jornal Brasil Econômico