A sustentabilidade é o tema do momento. Os olhos do mundo corporativo e da sociedade estão voltados para novas tecnologias e projetos sustentáveis.
O viés da preocupação ambiental permeia cada vez mais as negociações, desde a contratação de fornecedores à locação de ambientes. Mas qual seria o real valor da sustentabilidade em empreendimentos como prédios comerciais?
Inicialmente, a sustentabilidade tem a missão de otimizar o uso de recursos naturais e evitar o desperdício. Num segundo momento, tem o objetivo de conscientizar usuários, desde clientes do empreendimento aos clientes dos clientes, sobre a importância de um melhor tratamento ao meio ambiente. Porém, embora pouco comentado, uma das principais razões da implementação de técnicas sustentáveis em empreendimentos é a geração de valor a toda a cadeia.
Quando falamos em geração de valor, estamos falando em defender uma prática, no caso a redução do desperdício de recursos naturais, porém gerando conforto ao usuário do espaço. Esta geração de conforto, aliás, é requisito indispensável à própria definição do tripé da sustentabilidade: para ser “verde”, um projeto precisa, necessariamente, ser economicamente viável, benéfico ao planeta, com redução da utilização de consumos naturais, e trazer um bem à sociedade, neste caso, conforto e satisfação aos usuários.
Essa definição tem como base o princípio de que, com a inclusão de tecnologias verdes, o prédio comercial funcione de maneira mais eficiente. Esta eficiência responde ao famoso conceito de “fazer mais por menos”, identificado em recentes pesquisas mundiais como a palavra de ordem entre empreendedores dispostos a investir em construção.
O boom imobiliário que o País experimenta deverá perpeturar a “onda verde” no segmento de construção. Isso porque grande parte das multinacionais já tem em sua política de sustentabilidade a intenção de apenas se instalar em empreendimentos sustentáveis, seja na construção ou na operação diária.
Esta demanda de empresas com filosofia verde no segmento de prédios de escritórios forçou a quantidade de pedidos de certificação junto ao Green Building Council Brasil (GBC), órgão certificador LEED no País. Em 2004, apenas um projeto havia entrado com pedido para certificação. Em 2006, o número subiu para oito. Dois anos depois, já eram 102 projetos pleiteando a certificação. Em 2010, cerca de 230 empreendimentos já buscavam o selo. Este ano, até o mês de julho, já são 300 solicitações de vistas à certificação. Deste total, 46% são pedidos de prédios comerciais.
Também, à medida que novos projetos busquem soluções “verdes”, surgirá um número maior de fornecedores especializados neste mercado. O movimento força uma diminuição do valor de produtos e serviços “verdes”, gerando ainda mais valor para a cadeia, ao tornar os projetos cada vez mais viáveis.
Hoje, em empreendimentos que contemplem medidas de otimização de consumo, o incremento de valor na fase de construção é de 5% a 7%, se comparado a um prédio comum. O payback desse investimento volta não só no momento da locação ou venda de salas, quando os espaços estão mais valorizados, mas na economia representada pela redução do consumo de água e de energia elétrica.
Em média, a taxa de redução de energia elétrica em um prédio verde pode chegar a 10% ou 15%, enquanto a economia de água fica na casa dos 10%. A depender do porte e da estrutura do empreendimento, essa economia pode chegar à casa de milhares de reais ao ano. Este custo é repassado ao valor do condomínio, que tende a diminuir, tornando o empreendimento mais atrativo aos locatários.
Existem vários tipos de certificação no mercado brasileiro. O LEED é a mais reconhecida na América Latina; a Aqua (HQE), é uma certificação européia equivalente ao LEED; já o Procel é um selo brasileiro que promove o uso racional dos recursos naturais (água, luz, ventilação etc.) nas edificações. Embora seja menos abrangente, o selo Procel pode significar um primeiro passo rumo a certificações mais complexas e abrangentes, como LEED ou AQUA.
A cada novo empreendimento “verde”, toda a cadeia envolvida na locação e comércio dos espaços é positivada. O empreendedor garante maior receita e fideliza a clientela, enquanto o condômino tem um ambiente que respeita os valores e princípios da corporação. Ao mesmo tempo, os usuários têm um ambiente mais eficiente e confortável, enquanto praticam, no dia a dia, novas medidas para otimização do uso de recursos, estendendo a cadeia à esfera privada de suas vidas. Por todos os benefícios que traz para toda a cadeia, a “onda verde” brasileira deve se manter e se consolidar pelos próximos anos.
Por: Heloisa Bomfim é business developer da área de instituições de shoppings centers da Dalkia Brasil e fala sobre sustentabilidade e projetos verdes