O desenho do bairro pode impactar a saúde tanto quanto a genética

By Priscila Pacheco 


Bairros dotados de espaços públicos, mobiliário urbano e 

boas condições de segurança e acessibilidade impactam 
positivamente a saúde de seus moradores. 
(Foto: Otávio Almeida)

A conclusão a que podemos chegar com a análise do estudo The Case for Healthy Places (em português, “O caso dos lugares saudáveis”) cabe em uma frase: 

“O lugar onde uma pessoa mora pode ser um indicativo de saúde até mais confiável do que seu código genético”.


A afirmação, proferida por Melody Goodman, professora da Universidade de Washington, sintetiza a influência que o lugar onde moramos exerce sobre nós. A forma como diferentes bairros são desenhados tem um impacto considerável sobre a saúde física e mental das pessoas. 

As oportunidades e serviços que oferecem, os lugares de que dispõem, a organização do mobiliário urbano, as condições de segurança e acessibilidade – uma intrincada rede de elementos age sobre os organismos humanos, afetando-os positiva ou negativamente.

O estudo foi publicado em dezembro de 2016 pela Project for Public Spaces (PPS), organização sem fins lucrativos dedicada a ajudar as pessoas a criar e manter espaços públicos que contribuam para fortalecer as comunidades onde são inseridos. 

Para embasar as análises, a pesquisa utiliza o conceito de placemaking, uma estratégia holística para a criação de comunidades urbanas saudáveis. Resumidamente, trata-se do processo de planejar espaços públicos de qualidade que contribuem para o bem-estar da comunidade local. 

Se um bairro é planejado de acordo com os preceitos do placemaking – que envolve a participação dos moradores no planejamento do bairro, o reconhecimento de suas necessidades e desejos –, são consideráveis as chances de que seja um ambiente saudável e acolhedor para os moradores. 

Por outro lado, se o processo de planejamento falha em ouvir as pessoas e em oferecer a infraestrutura de que necessitam, os locais tendem a oferecer impacto negativo na saúde.

É nesse sentido que a diferença de desenho observada entre bairros de classe média ou alta e as periferias ou áreas mais pobres ajuda, também, a explicar as disparidades nas condições de saúde dos moradores. 

Pessoas de baixa renda e minorias étnicas e raciais costumam ter acesso limitado a parques e espaços públicos bem conservados nos lugares onde vivem, que são mais propensos a carecer de infraestrutura cicloviária, boas calçadas e condições adequadas de acessibilidade – fatores diretamente associados aos níveis de atividade física e saúde.
Infraestrutura de transporte ativo é chave para pessoas e lugares saudáveis

Hoje, o dia a dia nas cidades favorece problemas de saúde não só mais intensos, mas também diferentes dos observados antigamente. 

De obesidade à depressão e à exposição a um nível maior de poluentes, as causas e consequências de viver em ambientes urbanos sofreram mudanças ao longo das últimas décadas. 

“Tratar os problemas de saúde do século XXI requer soluções que considerem não apenas as causas físicas desses problemas, mas também as sociais, econômicas e ambientais”, afirmou o presidente e fundador da PPS, Fred Kent.

O placemaking pensa o planejamento dos bairros de forma abrangente e integrada, considerando os fatores mencionados por Kent. Dessa forma, ajuda a atenuar desigualdades e a melhorar a saúde das pessoas. 

Com esse objetivo em mente, um dos campos de ação do placemaking envolve a oferta de infraestrutura para pedestres e ciclistas, construção de parques e espaços públicos e melhorias de acessibilidade e segurança viária. 

Esses fatores encorajam o uso da bicicleta e a prática de atividades físicas em geral porque ou oferecem condições adequadas ou são eles próprios destinos que estimulam os trajetos a pé e de bicicleta.

Oferecer destinos onde as pessoas queiram e possam estar, 
com conforto e segurança, também contribui para a saúde 
(Foto: La Citta Vita/Flickr-CC)

Se a conexão entre saúde, prática de atividade física e o fomento aos modos ativos de transporte não é uma revelação inesperada, novos campos de pesquisa abrem-se diante dessa certeza. 

Conforme sugere o estudo, avaliar o impacto da criação de novos espaços públicos na quantidade de tempo que as pessoas caminham ou andam de bicicleta, bem como desenvolver novas ferramentas para medir os impactos econômicos da disponibilidade de infraestrutura para a mobilidade ativa, são duas possibilidades ainda pouco exploradas.

Os modos de transporte ativo, notadamente bicicleta e caminhada, trazem benefícios inquestionáveis tanto para a saúde das pessoas quanto para o ambiente urbano, que se torna mais seguro, acessível, convidativo e humano. 

Como, porém, as cidades podem lançar mão de planos, leis, projetos e investimentos para garantir a priorização desses modos por meio de mudanças práticas e robustas? 

O WRI Brasil Cidades Sustentáveis debate a questão na mesa “Como transformar as cidades através do transporte a pé e de bicicletas”, durante o IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, em Brasília. 


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