Acabamos de ultrapassar o maior nível de CO2 na atmosfera em milhões de anos

Por HS

                                Guy Gorek / Flickr


O mundo acabou de passar por um novo marco climático. Os cientistas tinham previsto que isso aconteceria este ano – e aconteceu.

O Observatório Mauna Loa, no Havaí, registou a semana passada a sua primeira leitura de dióxido de carbono com mais de 410 partes partes do gás por milhão de moléculas de ar: 410,28 ppm.

Segundo a Scientific American, o dióxido de carbono não atingia níveis tão altos há milhões de anos. 

Os números representam a nova atmosfera com que a humanidade terá de lidar no futuro – uma atmosfera que está a absorver mais calor e a fazer com que o clima mude a um ritmo acelerado.

No que já se tornou uma tradição de primavera, o dióxido de carbono tem vindo a estabelecer todos os anos nesta altura um recorde anual desde que começaram as medições.

Em 1958, quando os registos começaram a ser feitos, em Mauna Loa, os níveis de CO2 eram de 280 ppm. 

Em 2013, tinha ultrapassado pela primeira vez as 400 ppm. Apenas quatro anos depois, a marca de 400 ppm já não é uma novidade – é a norma.

“É muito deprimente que o marco das 400 ppm tenha sido derrubado”, declarou o mês passado ao portal do centro de pesquisa Climate Central Gavin Foster, investigador paleoclimático da Universidade de Southampton.

“Esses marcos são apenas números, mas dão-nos a oportunidade de fazer uma pausa, fazer um balanço e comparações úteis com o registo geológico”, disse Foster.

El Niño e emissões humanas

No início deste ano, cientistas do Met Office, do Reino Unido, emitiram a sua primeira previsão, tendo projectado que o CO2 poderia chegar às 410 ppm em março – e que quase certamente chegaria a esse nível em abril. A sua previsão foi confirmada com o registo diário da passada terça-feira, dia 18.

A animação feita pela NASA, mostra como o dióxido de carbono se move à volta do planeta. 

De acordo com os cientistas, a projecção é que a média mensal de dióxido de carbono na atmosfera chegará a um pico próximo de 407 ppm em maio, estabelecendo um novo recorde do valor de média mensal de CO2 na atmosfera.

As concentrações de dióxido de carbono têm subido vertiginosamente nos últimos dois anos, devido em parte a factores naturais como o El Niño, fazendo com que uma quantidade maior do composto acabe na atmosfera.

Porém, o aumento é principalmente impulsionado pelas quantidades recorde de dióxido de carbono que os seres humanos estão a produzir, em particular com a queima de combustíveis fósseis.

“A taxa de aumento irá diminuir quando as emissões diminuírem”, afirma Pieter Tans, cientista da NOAA, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos, em entrevista à Scientific American.

“Mas o nível de dióxido de carbono ainda continuará a subir, embora mais lentamente. Apenas quando as emissões forem reduzidas a metade do valor actual o nível de dióxido de carbono atmosférico vai parar de aumentar”, conclui Tans.

Mesmo assim, ainda que as concentrações de dióxido de carbono parassem de aumentar, o impacto das mudanças climáticas vai estender-se por séculos futuros.

Nos últimos anos, o planeta aqueceu 1°C, incluindo uma constante de 627 meses consecutivos de calor acima do normal. O nível do mar aumentou 30 centímetros, e os oceanos acidificaram-se. 

Além disso, o calor extremo tornou-se mais comum.

A este ritmo, estamos a encaminhar-nos para que até meados deste século venhamos a ter um clima nunca visto em 50 milhões de anos.



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