Música, meio ambiente e a força feminina: com "Moana", a Disney acerta de novo

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A “pré-estreia” brasileira, digamos assim, aconteceu na Comic Con Experience em São Paulo, com direito à presença de Clemens e Musker em pessoa: depois da exibição do filme, os dois, que pela primeira vez dirigem um longa em animação digital 3D, apresentaram um painel de mais de uma hora sobre o processo de produção – com detalhes nada menos que fascinantes para quem é fã de Disney ou sonha em trabalhar na área. 

Os diretores contaram que Moana começou a ganhar forma ainda em 2011, depois de uma viagem de três semanas às ilhas do Pacífico Sul, passando pelas Ilhas Fiji, Samoa, Taiti e Nova Zelândia – a ideia, segundo eles, era criar uma história que tivesse sim referências mais tradicionais à cultura do lugar (o que algumas pessoas têm criticado como “perpetuação de estereótipos”), mas que fizesse com que um morador da região que assistisse ao filme se sentisse representado, e não desrespeitado. 

“Falamos com a população, com pescadores, com navegantes, e aprendemos em primeira mão aspectos de seus costumes, seu passado como navegantes, sua estreita relação com o oceano, sua conexão com os ancestrais, a importância da família”, enumerou Musker, citando um exemplo: 

“As pessoas da ilha se preocupam muito com o meio ambiente, são mais sensíveis a estes temas porque enfrentam isso em seu dia a dia, por seu modo de vida. Para eles é crucial o respeito à natureza e em particular ao oceano.”

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A trama é relativamente simples: Moana, filha do chefe da ilha de Moto Nui, recebe, ainda criança, um chamado do mar – ela é escolhida pelo oceano para levar à ilha de Te Fiti, uma divindade feminina, uma pedra que representa o coração da ilha (e da deusa, simultaneamente), e assim restaurar a vida e a natureza na região, que vinha aos poucos sendo dominada por uma “escuridão” que matava os peixes e ressecava as plantas (referência clara à poluição).

Assim, aos 16 anos, Moana parte em busca de Maui, o semi-deus que roubou o coração de Te Fiti, para salvar seu povo e sua ilha.

Sim, a fantasia aqui vai mais ainda mais longe que na maioria das produções da Disney: tem deusa-mãe que vira ilha, tem semi-deus, tem caranguejo gigante falante, tem demônio de fogo, tem anzol mágico, tem até coco vivo e do mal (é sério) – mas tudo isso faz muito sentido quando se pensa que quase nada foi criado do zero na cabeça dos roteiristas: tudo tem fundamento na mitologia dos povos da região.

Além de ambientalista, Moana tem sido definido pela crítica internacional como “feminista” – a começar pela própria protagonista, descrita pelos diretores como “uma heroína em um filme de aventura”: 

“Moana é uma jovem que realiza uma viagem para salvar seu povo, e que para isso tem amos dele faz parte de sua lenda: a magia de suas tatuagens, sua capacidade para adotar formas de diferentes animais.

É um personagem ideal e muito rico para uma animação.”que passar por cima de seus medos e superar obstáculos. Nunca pensamos em incluir uma história de amor, porque não achamos necessário.” 

Moana – que vai herdar a liderança de seu povo após a morte de seu pai – tem corpo e cabelos mais realistas para uma menina de 16 anos, e, em certo ponto do filme, se nega a ser chamada de “princesa”. 

Te Fiti, que move o início da trama, é uma deusa mulher; e quem revela a Moana a história de seus antepassados e seu provável destino é outra mulher, sua sábia avó. 

Mas, embora de fato dê relevância aos personagens femininos e representatividade às mulheres, o que tem inegável importância, Moanao faz aparentemente sem levantar bandeiras, de forma tão natural que parece tentar dar exemplo a outras produções – como se dissesse que o público quer mesmo boas histórias e bons personagens, seja lá qual for o gênero desses personagens. 

E Clemens e Musker já haviam demonstrado essa vocação com Tiana, a independente e determinada protagonista de A Princesa e o Sapo.
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Outro aspecto impossível de ignorar: a música. Clemens e Musker contaram que se impressionaram com a musicalidade do povo retratado no filme: 

“Há música por todo lado lá, como aqui no Brasil”, contou Clemens. “Então percebemos que a música teria uma parte muito importante na história.” 

As principais canções do filme foram escritas por Lin-Manuel Miranda, responsável pelo fenômeno da Broadway Hamilton; e músicos locais se juntaram aos artistas contratados pela Disney, gravando inclusive faixas cantadas na língua taitiana. 

E, como uma boa fã de Disney (e das músicas dos filmes do estúdio), eu digo: o resultado é de arrepiar. As músicas de Moana, com seus corais e seus tambores, ganharam um ar épico, parecido com o da trilha sonora de O Rei Leão. Tulou Tagaloa, a música da introdução, é belíssima (mesmo para quem não entende palavra do que está sendo dito); enquanto a delicada An Innocent Warrior embala um dos momentos mais bonitos do filme. 

Where You Are é divertida, ficando um pouco atrás de You’re Welcome, a música mais empolgante (e irresistivelmente grudenta) do filme, cantada por Dwayne Johnson, o The Rock. 

We Know The Way é dessas de fazer lágrimas virem aos olhos (okay, confesso que chorei litros) – e How Far I’ll Go, interpretada pela estreante Auli’i Cravalho, a música tema, tem tudo para virar a nova Let It Go nas vozes e na imaginação das crianças (não se preocupe: ela é bem mais legal que Let It Go).






Se você ama Disney, vá ver Moana.

Se você ama ouvir trilhas sonoras das músicas da Disney, vá ver Moana. 

Se você quer um filme com boas e fortes personagens femininas, vá ver Moana.

Se você gosta de filmes com uma pegada mais consciente e mais ambientalista, vá ver Moana. 

Se você só quer mesmo um filme legal, divertido e emocionante ao mesmo tempo (prepare o lencinho se você é chorona como eu), vá ver Moana. 

Ah: e preste atenção nos easter eggs – os diretores disseram, durante a CCXP, que Olaf, de Frozen, e Max, o cachorro do príncipe Eric de A Pequena Sereia, aparecem no filme, além de outros dois personagens da Disney, que eles não revelaram quais são. 

Caso encontre, faça o favor de me contar: como só fui avisada depois de ver o filme, eu não tive a chance de procurar. Mas também, com os olhos cheios de lágrimas, ficaria mesmo meio difícil.


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