Ela aparece com frequência no final dos contos infantis, é tema de diversos livros e está sempre surgindo nas sessões de terapia.
A felicidade é, sem dúvida, um tema antigo na sociedade, mas em tempos de massacre tecnológico e da ditadura do resultado, a palavra e seu significado clama por uma reinvenção.
Na tentativa de trazer novas perspectivas para o tema e relacioná-lo a outro assunto urgente, que é a sustentabilidade, o jornal DIÁRIO DO COMÉRCIO, em parceria com a ArcelorMittal, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e o Banco Mercantil do Brasil realizou, na última semana, a oitava edição do Diálogos DC.
O debate reuniu especialistas no assunto e fechou a série de encontros em 2016 com uma discussão de alto nível.
Realizado no dia 13 de dezembro, na sede do DC, o evento faz parte de uma série de debates norteados pelo documento “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, editado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000.
O último Diálogos DC do ano teve como tema “Felicidade e Sustentabilidade” e foi inspirado no objetivo 8:
“Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos”.
Participaram do encontro o gerente-geral Relações Institucionais e Sustentabilidade da ArcelorMittal, Sindemberg Rodrigues; a consultora e diretora da Ergon Desenvolvimento de Pessoas e Organizações, Edina Bom Sucesso e o presidente da União Internacional Cristã dos Dirigentes de Empresas (Uniapac) na América Latina, Sérgio Cavalieri.
O debate foi mediado pelo fundador e diretor-executivo do Instituto Movimento pela Felicidade, Benedito Nunes.
Capitalismo – A abordagem do capitalismo foi uma das primeiras a aparecer dentro do tema felicidade e sustentabilidade. Rodrigues chamou a atenção para o acúmulo de riquezas característico desse sistema e mostrou como ele está fadado à infelicidade.
Para ele, a consequência desse processo será um capitalismo que deixa de ser antropofágico para se tornar autofágico, isto é, mais do que consumir pessoas, ele está consumindo a si mesmo, tendo em vista que suas bases já não são mais socialmente aceitáveis.
“Estamos correndo para quê? Para acumular mais lucro? Para continuar nessa lógica de viver o enriquecimento de poucos, matando muitos?”, questionou.
O gerente ainda acrescentou ao debate o advento da tecnologia, que acelerou ainda mais o ritmo das coisas e provocou o que Rodrigues chamou de “vazio existencial que rasga o peito da sociedade do século XXI”.
“Esse ritmo do capitalismo informacional está trazendo angústia para as pessoas.
Imagine se Michelangelo ou Beethoven tivessem que parar sua arte toda hora para conferir as atualizações do celular?
Felicidade precisa de paz e ninguém consegue ser máquina”, completou.
Cavalieri também questionou a cultura do capitalismo que está “contaminada” com visões distorcidas de sucesso, lucro, poder e dinheiro. Para ele, essa ideia só empurra as pessoas para o individualismo e para um “salve-se quem puder”, que gera cada vez mais infelicidade.
Ele destacou que a Uniapac tem realizado um trabalho na contramão dessa lógica, formando empresários mais conscientes, que priorizem a pessoa no lugar do lucro.
Cavalieri acredita que esse foco nos valores humanos e na dignidade humana está diretamente ligado à felicidade.
O presidente da Uniapac citou o Papa Francisco, que adverte contra a “financeirização da economia”, em que a lógica do lucro domina as relações entre as pessoas.
Cavalieri lembrou um ensinamento importante do Papa: ‘Não adianta desenvolvimento econômico se ele não traz desenvolvimento integral da pessoa’.
Até mesmo a política de participação nos lucros e resultados (PLR) foi colocada em xeque por Cavalieri, já que o benefício tem levado executivos a passarem por cima de tudo e todos a fim de embolsarem algum dinheiro no fim do ano.
“Uma vez escutei um professor indiano falando sobre a exigência de relatórios trimestrais das empresas listadas na bolsa de valores. Ele afirmou que, no futuro, essa prática será tão absurda como a escravidão.
Pensar em resultado a cada trimestre é pensar em um imediatismo focado em finanças e esquecer tudo que envolve a empresa, como pessoas, moral e ética”, disse.
Reflexão – Edina Bom Sucesso seguiu a mesma linha dos demais debatedores, destacando como a lógica do acúmulo vai na contramão da sustentabilidade e da felicidade.
Ela disse que fez um “combinado” com o marido de que em sua casa não pode mais entrar coisas que são apenas coisas, ou seja, que não têm utilidade ou propósito.
Ela também compartilhou com o público uma técnica que utiliza para despertar as pessoas sobre essa falsa felicidade proposta pelo capitalismo.
Segundo a consultora, quando alguém lhe diz que só será feliz quando tiver um apartamento com quatro quartos em uma área nobre, ela pergunta “para quê?” e, normalmente, dá um grande susto na pessoa que não estava esperando por esse tipo de resposta.
“Vamos acumulando coisas e nem há tempo para utilizar tudo. Cada vez mais a gente sabe que o bem-estar subjetivo não decorre do que a gente faz sozinho, mas da gentileza, da gratidão, da justiça dos relacionamentos, da liderança como virtude”, disse.
Thaíne Belissa
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