Adidas produz camisas a partir de plástico retirado dos oceanos




A Adidas e a Parley for the Oceans revelam os primeiros produtos de futebol criados de resíduos plásticos retirados dos oceanos. 

As camisas foram usadas por Bayern de Munique contra TSG 1899 Hoffenheim no dia 5 de novembro, enquanto Real Madrid joga contra Real Sporting de Gijón no dia 26 do mesmo mês.

A adidas e a Parley for the Oceans revelam os primeiros produtos de futebol criados de resíduos plásticos retirados dos oceanos. 

As camisas foram usadas por Bayern de Munique contra TSG 1899 Hoffenheim no dia 5 de novembro, enquanto Real Madrid joga contra Real Sporting de Gijón no dia 26 do mesmo mês.

Feitas a partir de detritos de plástico marinho e com impressões ambientalmente amigáveis e a base de água, a camisa do Real Madrid é inteira branca e a do Bayern inteira vermelha, com os logos dos clubes, as três listras da adidas e as marcas dos patrocinadores na mesma cor das camisas.

O Ocean Plastic usado foi criado a partir dos resíduos de poluição marinha interceptados pelas ações de limpeza feitas pela Parley nas áreas costeiras das Maldivas. 

Para refletir a história exclusiva da camisa e o compromisso com os oceanos, os dois clubes e patrocinadores concordaram em não ter os logos visíveis para tornar as camisas o mais sustentável possível.

O design único também contém inserções de malhas dentro das mangas para melhorar a ventilação, uma fita atrás do pescoço com a mensagem “For the Oceans” (“Para os oceanos”, em livre tradução) e um rótulo da parceria entre as instituições com um chip NFC, que oferece mais informações para os consumidores.

“É um prazer participar dessa jornada e ter a oportunidade de usar o conjunto adidas x Parley em campo pela primeira vez. 

Como todas as nossas ações derivam dos oceanos, é muito importante que a gente faça o que pode para salvá-los. 

Usar o conjunto feito a partir de resíduos reciclados é uma oportunidade fantástica para conscientizar sobre a necessidade de proteger e preservar nossos oceanos. Eu sei que isso é o começo de algo muito especial”, comenta o meio-campista do Bayern de Munique, Xabi Alonso.

“Por ter crescido no Rio de Janeiro, sempre estive próximo do oceano e tenho muitas memórias boas de brincar na praia quando criança. É incrível fazer parte desse projeto e saber que o clube que eu amo está fazendo a diferença para ajudar a manter os oceanos limpos”, afirma Marcelo, zagueiro do Real Madrid.

As camisas adidas x Parley Bayern de Munique e Real Madrid estarão disponíveis no Brasil ainda pelo site: www.adidas.com.br/futebol

Foto: Divulgação adidas

“Sustentabilidade não é marketing, mas visão”, diz Walter Longo

Presidente do Grupo Abril falou sobre a importância da sustentabilidade para as empresas durante abertura do EXAME Fórum Sustentabilidade




Walter Longo, presidente do Grupo Abril: 

"Se antes a preocupação com o meio ambiente era uma questão de consciência, agora é quase de decência”

São Paulo – Durante a abertura da 8ª edição do EXAME Fórum Sustentabilidade, realizado no dia segunda-feira (28/11), em São Paulo, o presidente do Grupo Abril, Walter Longo, explicou que políticas voltadas para sustentabilidade não são apenas uma obrigação, mas uma necessidade para as empresas brasileiras.

Segundo ele, se antes a preocupação com o meio ambiente era uma questão de consciência, agora é “quase de decência”. 

“Para nós, sustentabilidade não é questão de marketing, mas de visão. É uma crença, atitude, nova forma de encarar o mundo e encarar nosso papel nesse mundo”, afirmou Longo.

Para ele, por mais que o impacto dessas ações não seja sentido hoje, ele terá efeito para o futuro do país e do mundo. 

“O que fizermos hoje vai ser sentido amanhã, mas o que deixarmos de fazer hoje vai ser sentido para sempre”, disse.

Além do respeito ao meio ambiente, a sustentabilidade também é um bom negócio, enfatizou Longo. 

“Empresas sustentáveis vão ser mais respeitadas pelos consumidores”, afirmou.

Ele alertou ainda que apostar na sustentabilidade não significa prejudicar os negócios. 

Para isso, no entanto, é preciso investir em “equilíbrio e muita criatividade”, disse. 

“Sustentabilidade é melhorar o ambiente sem prejudicar negócios. 

É preciso equilíbrio e muita criatividade. 

É reciclar ideias, rever conceitos, estar aberto para o novo e estar disposto a quebrar paradigmas”, explicou.

De acordo com Longo, as empresas premiadas nesta edição do Fórum colocaram a sustentabilidade como algo determinante para o futuro dos negócios, somando exponencialmente os talentos e os recursos em prol de um mundo melhor.

Felicidade e Sustentabilidade pautam última edição do Diálogos DC em 2016





Ela aparece com frequência no final dos contos infantis, é tema de diversos livros e está sempre surgindo nas sessões de terapia. 

A felicidade é, sem dúvida, um tema antigo na sociedade, mas em tempos de massacre tecnológico e da ditadura do resultado, a palavra e seu significado clama por uma reinvenção.

Na tentativa de trazer novas perspectivas para o tema e relacioná-lo a outro assunto urgente, que é a sustentabilidade, o jornal DIÁRIO DO COMÉRCIO, em parceria com a ArcelorMittal, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e o Banco Mercantil do Brasil realizou, na última semana, a oitava edição do Diálogos DC. 

O debate reuniu especialistas no assunto e fechou a série de encontros em 2016 com uma discussão de alto nível.

Realizado no dia 13 de dezembro, na sede do DC, o evento faz parte de uma série de debates norteados pelo documento “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, editado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000. 

O último Diálogos DC do ano teve como tema “Felicidade e Sustentabilidade” e foi inspirado no objetivo 8

“Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos”.


Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 8 – Emprego digno e Crescimento Econômico
Participaram do encontro o gerente-geral Relações Institucionais e Sustentabilidade da ArcelorMittal, Sindemberg Rodrigues; a consultora e diretora da Ergon Desenvolvimento de Pessoas e Organizações, Edina Bom Sucesso e o presidente da União Internacional Cristã dos Dirigentes de Empresas (Uniapac) na América Latina, Sérgio Cavalieri. 

O debate foi mediado pelo fundador e diretor-executivo do Instituto Movimento pela Felicidade, Benedito Nunes.

Capitalismo – A abordagem do capitalismo foi uma das primeiras a aparecer dentro do tema felicidade e sustentabilidade. Rodrigues chamou a atenção para o acúmulo de riquezas característico desse sistema e mostrou como ele está fadado à infelicidade. 

Para ele, a consequência desse processo será um capitalismo que deixa de ser antropofágico para se tornar autofágico, isto é, mais do que consumir pessoas, ele está consumindo a si mesmo, tendo em vista que suas bases já não são mais socialmente aceitáveis. 

“Estamos correndo para quê? Para acumular mais lucro? Para continuar nessa lógica de viver o enriquecimento de poucos, matando muitos?”, questionou.

O gerente ainda acrescentou ao debate o advento da tecnologia, que acelerou ainda mais o ritmo das coisas e provocou o que Rodrigues chamou de “vazio existencial que rasga o peito da sociedade do século XXI”. 

“Esse ritmo do capitalismo informacional está trazendo angústia para as pessoas. 

Imagine se Michelangelo ou Beethoven tivessem que parar sua arte toda hora para conferir as atualizações do celular? 

Felicidade precisa de paz e ninguém consegue ser máquina”, completou.

Cavalieri também questionou a cultura do capitalismo que está “contaminada” com visões distorcidas de sucesso, lucro, poder e dinheiro. Para ele, essa ideia só empurra as pessoas para o individualismo e para um “salve-se quem puder”, que gera cada vez mais infelicidade. 

Ele destacou que a Uniapac tem realizado um trabalho na contramão dessa lógica, formando empresários mais conscientes, que priorizem a pessoa no lugar do lucro. 

Cavalieri acredita que esse foco nos valores humanos e na dignidade humana está diretamente ligado à felicidade.

O presidente da Uniapac citou o Papa Francisco, que adverte contra a “financeirização da economia”, em que a lógica do lucro domina as relações entre as pessoas. 

Cavalieri lembrou um ensinamento importante do Papa: ‘Não adianta desenvolvimento econômico se ele não traz desenvolvimento integral da pessoa’. 

Até mesmo a política de participação nos lucros e resultados (PLR) foi colocada em xeque por Cavalieri, já que o benefício tem levado executivos a passarem por cima de tudo e todos a fim de embolsarem algum dinheiro no fim do ano.

“Uma vez escutei um professor indiano falando sobre a exigência de relatórios trimestrais das empresas listadas na bolsa de valores. Ele afirmou que, no futuro, essa prática será tão absurda como a escravidão. 

Pensar em resultado a cada trimestre é pensar em um imediatismo focado em finanças e esquecer tudo que envolve a empresa, como pessoas, moral e ética”, disse.

Reflexão – Edina Bom Sucesso seguiu a mesma linha dos demais debatedores, destacando como a lógica do acúmulo vai na contramão da sustentabilidade e da felicidade. 

Ela disse que fez um “combinado” com o marido de que em sua casa não pode mais entrar coisas que são apenas coisas, ou seja, que não têm utilidade ou propósito.

Ela também compartilhou com o público uma técnica que utiliza para despertar as pessoas sobre essa falsa felicidade proposta pelo capitalismo. 

Segundo a consultora, quando alguém lhe diz que só será feliz quando tiver um apartamento com quatro quartos em uma área nobre, ela pergunta “para quê?” e, normalmente, dá um grande susto na pessoa que não estava esperando por esse tipo de resposta.

“Vamos acumulando coisas e nem há tempo para utilizar tudo. Cada vez mais a gente sabe que o bem-estar subjetivo não decorre do que a gente faz sozinho, mas da gentileza, da gratidão, da justiça dos relacionamentos, da liderança como virtude”, disse.

Thaíne Belissa

Quando o Abacate gera valor!


Fundada em 2012, a startup Biofase, do México,desenvolveu uma tecnologia inovadora para produzirbioplásticos com o caroço da fruta que abunda no país| por Guillermo MartínezFundada em 2012, a startup Biofase, do México,desenvolveu uma tecnologia inovadora para produzirbioplásticos com o caroço da fruta que abunda no país| por Guillermo Martínez
... a história da empresa Biofase é inspiradora: começou como experimento universitário no México e é responsável pela produção de bioplásticos, ou plásticos biodegradáveis, com o caroço do abacate.
... o exemplo mostra como uma empresa lucrativa pode surgir de questionamentos socioambientais: o fundador da Biofase se incomodava com o tempo que o plástico leva para se decompor e com o impacto disso sobre o meio ambiente.
De sacolas de supermercado a sofisticadas peças de computador, móveis e até mesmo carros, o plástico é hoje um dos materiais mais utilizados pela sociedade.
Segundo dados do Plastics Europe Market Research Group, a produção mundial de plásticos está na casa dos 300 milhões de toneladas e cerca de 30% dos itens fabricados com esse material são usados apenas uma vez.
A indústria e os governos de todo o mundo têm feito esforços para reduzir o consumo de plásticos, porque eles são muito nocivos ao meio ambiente. De acordo com o tipo, eles podem demorar de cem a mil anos para se decompor.
Consciente do impacto direto do plástico sobre a sustentabilidade do planeta, Scott Munguía passou a buscar uma alternativa. Durante o curso de engenharia química no Instituto Tecnológico de Monterrey, México, chegou a suas mãos o artigo de uma publicação científica em que se debatia o uso do milho para a produção de bioplásticos. 
O texto mostrava que 80% desses materiais são fabricados com grãos de milho.
Após a leitura, Munguía ficou se perguntando se era conveniente destinar os plantios de milho para esse fim, uma vez que diversas regiões do mundo enfrentam um grave problema de escassez de alimentos. 
Começou a nascer aí seu empreendimento.
Em 2011, embora ainda permanecesse na universidade, Munguía se dedicou a estudar algumas sementes que poderiam se tornar alternativa ao polímero do milho. 
Sua pesquisa deu frutos, literalmente: o abacate, um dos alimentos mais populares do México e parte de sua cultura.
Além disso, o país é o maior produtor de abacate do mundo e registra um consumo anual per capita de 6,8 quilos, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Um ano depois de sua descoberta, Munguía fundou a Biofase, empresa que desenvolveu uma tecnologia única e amplamente reconhecida internacionalmente para fabricar bioplásticos com o caroço do abacate, que, como se sabe, é a semente dessa fruta.

Produção abundante 

No México, as empresas agroindustriais que produzem azeite, guacamole e molho salsa descartam mensalmente 30,7 mil toneladas de caroços de abacate. Essa é, precisamente, a matéria-prima que a Biofase compra para abastecer sua linha de produção.
Munguía estima que são desperdiçadas cerca de 300 mil toneladas de caroços de abacate e que a utilização desse volume para fabricação de bioplásticos poderia atender a aproximadamente 30% da demanda mundial desse produto.
De acordo com dados da Associação Europeia de Bioplásticos, o mercado global de bioplásticos possui um valor de US$ 4 bilhões e, diferentemente do que acontece com o setor de plásticos tradicionais, cujo ritmo de crescimento é cada vez menor, nos últimos anos vem experimentando uma ampliação de dois ou três dígitos. 
Prova disso é a própria Biofase: entre 2013 e 2014, a empresa cresceu 700%.

Modelo de negócio 

Resultado de uma incubadora que funcionava na universidade onde Munguía estudou, o modelo de negócio da Biofase se baseava, inicialmente, na venda de resina a fabricantes, para que estes a transformassem no produto final: pratos, garrafas, sacolas e outros artigos.
Dessa maneira, a empresa conseguiu estabelecer alianças com companhias como Biodeck e Packgreen. 
Além disso, começou a exportar resina para a Guatemala, por meio do Logicomer, distribuidor com sede naquele país que também comercializa o produto em toda a América Central.
Esse modelo, no entanto, evoluiu. Em junho de 2014, Munguía e seu irmão, Jason, transformaram o negócio ao ingressar na fabricação de talheres biodegradáveis, à qual passaram a destinar 10% da capacidade produtiva. 
Essa linha de produtos já é comercializada em supermercados de vários estados mexicanos e está presente nos restaurantes do Instituto Tecnológico de Monterrey e na cadeia de hotéis Fiesta Americana.
Atualmente, a empresa conta com três unidades de negócio:
Resinas. Uma família de resinas que podem ser processadas por todos os métodos convencionais de modelagem de plásticos e que substituem as aplicações de polipropileno, poliestireno e polietileno. 
Segundo Munguía, são ideais para empresas transformadoras de plástico que se propõem desenvolver novos negócios voltados para a sustentabilidade ambiental.
Talheres biodegradáveis. Linha de produtos originais da Biofase, elaborados com tecnologia patenteada. 
Por serem biodegradáveis, não causam danos aos ecossistemas.
Produtos e projetos especializados. Unidade concebida como a maneira mais fácil e inovadora de ingressar na indústria de bioplásticos. A Biofase projeta e fabrica peças ou objetos de acordo com as necessidades de seus clientes. 
Também integra todo o modelo produtivo para transformar qualquer ideia em produto biodegradável de alto valor agregado.

Reconhecimento

Em menos de quatro anos de existência, a Biofase já conquistou fama tanto em seu país de origem como internacionalmente. 
“Começamos como uma startup mexicana e hoje somos considerados uma das cinco empresas de bioplásticos mais inovadoras em todo o mundo”, afirma Munguía, orgulhoso.
Destacam-se o prêmio para inovadores com menos de 35 anos da MIT Technology Review, o de inovação tecnológica do Cleantech Challenge, o Santander de inovação empresarial e o de estudante empreendedor, organizado pela Entrepreneur Organization e pela Bolsa Mexicana de Valores.

Os números

  • 20 mil pesos mexicanos foi o investimento que deu origem à Biofase.
  • 17 milhões de pesos mexicanos custou a nova fábrica, com início de operações no final do ano passado.
  • 700% foi o crescimento registrado pela Biofase entre 2013 e 2014.
  • 100 a 1.000 anos é o tempo que o plástico tradicional demora para se decompor.
  • US$ 4 bilhões é o valor do mercado mundial de bioplásticos.

De olho no futuro

Com sua tecnologia já patenteada nos Estados Unidos e no México, a Biofase tem condições atualmente de produzir 50 toneladas de bioplásticos todos os meses. 
A meta da empresa, porém, é mais ambiciosa: acaba de ser colocada em operação sua primeira fábrica própria, em Morelia, capital do estado de Michoacán, com capacidade instalada de 700 quilos por hora.
Alcançando esse patamar, a Biofase será a maior empresa do tipo na América Latina e já planeja atacar o mercado norte-americano com força. Também está em seu radar o mercado europeu.

Linha do tempo

2011
  •  Começam as pesquisas que levarão à tecnologia da Biofase.
  • Obtém-se pela primeira vez o biopolímero com o caroço do abacate. 
2012
  • A Biofase é constituída como empresa mexicana.
  • Registra a patente de sua tecnologia e inicia as operações.
  • Ganha oito prêmios no México e três internacionais (na Espanha, nos Estados Unidos e na Suécia).
2013
  • A tecnologia da Biofase é reconhecida entre as cinco mais importantes do setor de bioplásticos em todo o mundo.
  • A empresa abre ponto de venda em Guadalajara e Morelia, e as vendas chegam a todo o México
2014
  • A Biofase negocia alianças para a distribuição de seus produtos na América Central e nos Estados Unidos.
  • Começa a construção da maior fábrica de bioplásticos do México
2015
  • Entra em operação a maior fábrica de bioplásticos da América Latina.
Você aplica quando...
... monta um negócio para resolver um problema complexo atual.
... busca aproveitar o que sua região tem de excedentes de matéria-prima, a ponto de haver descarte, como o abacate no México.
... tem elevadas aspirações para o futuro de seu negócio, em vez de só focar o curto prazo; a Biofase, por exemplo, pensa grande e longe

Um conselho

Scott Munguía garante que sempre recomenda aos empreendedores que subcontratem seus processos antes de investir em plantas piloto ou adquirir infraestrutura própria. Para ele, com essa estratégia, é possível fazer economias significativas e assumir menos riscos.
“Na Biofase, a primeira coisa que fizemos foi patentear nossa tecnologia. Somente quando tivemos um produto bem definido e estabelecido encaramos o desafio da capitalização. Desse modo, não nos vimos obrigados a ceder uma grande quantidade de ações para desenvolver o produto”, explica.

O desenvolvimento sustentável segundo o economista Jeffrey Sachs

Por Gabriel Wedy


Tive a honra de ser aluno do economista Jeffrey Sachs durante um semestre, na sua interessante cadeira de Desenvolvimento Sustentável, na School of International and Public Affairs, da Columbia University, em 2015. 

Sachs, além de professor da instituição, é diretor do Earth Institute e diretor da UN Sustainable Development Solutions Network. 

É conselheiro especial da Secretaria-Geral da ONU, desde a gestão Kofi-Annan. Para além do profundo conhecimento acadêmico, exerceu naquele ano papel decisivo na construção dos 17 objetivos e das 169 metas aprovados pela ONU, em Nova Iorque, que culminou na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

São estes os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável inseridos na referida agenda:

1) acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares;

2) acabar com a fome, alcançar segurança alimentar e melhorar a nutrição;

3) assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos;

4) garantir educação inclusiva, equitativa e de qualidade;

5) alcançar a igualdade de gênero e tutelar todas as mulheres e meninas;

6) garantir disponibilidade e manejo sustentável da água;

7) garantir acesso à energia barata, confiável e sustentável;

8) promover o crescimento econômico sustentável;

9) construir infraestrutura resiliente e promover a industrialização inclusiva;

10) reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles;

11) tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros e resilientes;

12) assegurar padrões de consumo e produção sustentáveis;

13) tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima;

14) conservar e promover o uso sustentável dos oceanos;

15) proteger, recuperar e promover o uso sustentável das florestas;

16) promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável;

17) fortalecer os mecanismos de implementação e revitalizar a parcela global.

De acordo com Sachs, no seu célebre e recente livro, The Age of Sustainable Development, o desenvolvimento sustentável é, para além de uma ideia, uma referência nos dias atuais. 

É uma maneira de entender o mundo e um método de resolver os problemas globais. Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável devem propiciar “um crescimento econômico socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável”[1]

Para se alcançar esses objetivos econômicos, sociais e ambientais, deve estar presente a boa governança[2].

A perspectiva normativa do desenvolvimento sustentável ao certo contribui especificamente para a preservação do meio ambiente. 

Como afirmado por Sachs, “se nós rompermos os sistemas físicos de água e a biodiversidade”, se “destruirmos os oceanos e as grandes florestas tropicais, nós vamos perder imensamente. 

Se nós continuarmos no caminho que certamente está mudando o clima da terra, nós enfrentaremos graves perigos”[3]

Abordagem normativa do desenvolvimento significa que a boa sociedade não é apenas a economicamente próspera (com alta renda per capita), mas também inclusiva, ambientalmente sustentável e bem governada[4]

Boa governança, por sua vez, deve aplicar-se não apenas aos estados, mas às empresas privadas[5].

Governos corruptos que usam a arrecadação em benefício de uma pequena classe de infiltrados ligados à cúpula governamental podem criar expressiva desigualdade[6] e crises ambientais. 

Observa-se claramente isso no Brasil, nos escândalos do petrolão e do mensalão, exemplos nefastos de patrimonialismo e de corrupção moral da classe política orquestrada com setores influentes da sociedade que, em perversa química, colaboraram imensamente para o aumento da desigualdade social, a disparada da dívida pública e a perda da confiança no governo. Outras vezes a má governança, ligada à regulação insuficiente, causa catástrofes ambientais, como no caso de Mariana.

Sachs atribui relevância fundamental aos limites planetários definidos por Rockström[7]

Tratam-se dos limites de exploração que o planeta pode suportar. As nove fronteiras planetárias são assim sistematizadas:

1) relação humana com as mudanças climáticas: essa é a mais importante fronteira planetária e refere-se às ações humanas que causam a aceleração nas emissões dos gases de efeito estufa na atmosfera, causando o aquecimento global;

2) acidificação dos oceanos: os oceanos tornam-se mais ácidos com o aumento do gás carbônico na atmosfera. O fenômeno ameaça várias espécies de vida marinha, incluindo corais, lagostas, moluscos, entre outras;

3) depleação da camada de ozônio: a depleação da camada de ozônio causada por clorofluorcarbonetos (CFCs), encontrados em sistemas de refrigeração e aerossóis, é uma grande ameaça à saúde humana. 

A camada de ozônio protege a Terra dos raios ultravioletas, e o buraco nela causado, em virtude da ação humana, comprovadamente causa câncer de pele e outras doenças. 

A regulação dessas emissões tem diminuído nos últimos anos, mas os CFCs precisam ser eliminados por completo e substituídos por substâncias químicas inteiramente seguras;

4) poluição causada por nitrogênio e fósforo: poluição causada pelo uso de fertilizantes químicos à base de nitrogênio e fósforo utilizados na produção agrícola. 

Cerca de 4 bilhões de pessoas no mundo hoje se alimentam com a produção gerada com base nesses poluentes. 

O maior problema é que o fósforo e o nitrogênio não ficam apenas nas lavouras; são levados pelo ar para outras localidades e contaminam nascentes e rios, que com pesadas concentrações de ambos os levam a estuários que desembocam no mar e contaminam os oceanos, causando danos irreparáveis à vida marítima;

5) uso excessivo e desperdício de água potável: cerca de 70% da água potável no mundo é usada para agricultura, 20% é utilizada pela indústria e 10% resta para o uso doméstico. 

Fontes de água estão sendo exauridas globalmente. De todos os limites planetários, a escassez de água é a que vai enfrentar a maior crise nas próximas décadas;

6) uso da terra: a humanidade usa uma quantidade imensa de terra para cultivar alimentos, para o pastoreio de rebanhos, para a produção de madeira, de outros produtos da floresta e para a expansão das cidades. 

A humanidade tem convertido a terra, originalmente de florestas, em lavouras e pastagens por milhares de anos. 

Essa prática tem aumentado a emissão de CO2 (o carbono retido nas árvores derrubadas retorna à atmosfera), agravando o aquecimento global. Em decorrência da degradação da terra pelo uso, ecossistemas são rompidos e espécies são extintas;

7) biodiversidade ou diversidade biológica: a evolução da vida na Terra criou entre dez milhões e cem milhões de espécies distintas, das quais a maioria ainda não foi catalogada. 

A biodiversidade não apenas contribui com a vida no planeta, mas também coopera de modo fundamental para as funções do ecossistema, a produtividade das colheitas e a saúde e sobrevivência da humanidade. 

A biodiversidade está ameaçada pela ação humana;

8) carregamento de aerossol: quando são queimados carvão, biomassa, óleo diesel e outras fontes de poluição, pequenas partículas chamadas aerossóis são espalhadas no ar. 

Cria-se uma imensa poluição no ar, que causa danos aos pulmões, vitimando muitas vidas de seres humanos e não humanos todos os anos e causando um significativo impacto sobre o clima;

9) poluição química: o último dos limites planetários, extremamente amplo, é a poluição química. Indústrias petroquímicas, de produção de aço e mineração, usam grande quantidade de terra e água nos seus processos produtivos e também adicionam poluentes no ambiente, muitos dos quais são acumulativos e mortais para seres humanos e outras espécies[8].

Está demonstrado que, quando os seres humanos ultrapassam esses limites, a pressão sobre o meio ambiente torna-se maior do que podem suportar os sistemas naturais, resultando em uma grande mudança nos ecossistemas da Terra[9]. Ultrapassar tais limites coloca em risco todos os seres vivos. 

As pessoas mais afetadas são as que habitam os países mais pobres. Nações pobres possuem menos infraestrutura para enfrentar os impactos ambientais causadores igualmente de imensos prejuízos econômicos. 

No aspecto interno dos países, por sua vez, são os pobres quem mais sofrem com a violação desses nove limites. Fundamental é que o processo de desenvolvimento permaneça observando esses nove limites ou as fronteiras planetárias para que se evitem danos aos seres humanos, ao meio ambiente e à economia[10].

Observam-se, no Brasil, políticas públicas — econômicas, ambientais e sociais — altamente pautadas na sua construção e, em especial, na sua execução, por políticos profissionais despreparados tecnicamente, não raras vezes contaminados pela corrupção, em detrimento de técnicos preparados e honestos, que seriam fundamentais na concretização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. 

É o que se chama do nefasto e tradicional loteamento do governo brasileiro pela vastíssima fauna de partidos cujos membros não se pautam pela fidelidade partidária e, tampouco, pelo comprometimento político com um programa de governo sério, altruísta, ambientalmente responsável e bem elaborado.

A participação plural dos mais diversos setores da sociedade é essencial para o múltiplo e complexo desafio da implementação do desenvolvimento sustentável e para a luta contra mazelas econômicas, sociais e, especialmente, ambientais. 

Conclui-se que a obra The Age of Sustainable Development é uma das mais completas até o momento sobre o tema e demonstra a salutar e nítida influência de Sachs na construção dos 17 objetivos e das 169 metas do desenvolvimento sustentável adotados pela ONU no ano de 2015 na Agenda 2030. 

Todavia, a sugerida implementação paulatina de tais objetivos por Sachs pode não responder às necessidades imediatas das nações para os graves problemas que afetam a humanidade no aspecto humano, ambiental, econômico e de governança, em especial nos países em desenvolvimento, como o Brasil. 

Ou melhor, a implementação desses objetivos esbarra na falta de um mecanismo coercitivo de distribuição de recursos financeiros, das nações ricas para as pobres, para o financiamento do desenvolvimento sustentável. 

A própria estrutura concentradora de renda dentro das nações em desenvolvimento não permite tal distribuição, que poderia se dar como fruto da tributação das rendas e das heranças milionárias acumuladas pelas atuais gerações e, igualmente, pela tributação do carbono. 

Recursos acumulados, investidos e reinvestidos especulativamente no mercado de ações e na indústria dos combustíveis fósseis precisam ser investidos em políticas públicas verdes e na geração de energia e de empregos sustentáveis.

Outro problema está nas estruturas marcadas pela governança caótica, marcada pela corrupção e pela completa ineficiência operacional que afetam grande parcela de governos dos países em desenvolvimento, os quais, mesmo recebendo assistência técnica, recursos provenientes de doações, investimentos internacionais ou da própria arrecadação interna, não têm a capacidade de alocá-los para políticas públicas promotoras do desenvolvimento sustentável.

O Direito Internacional não oferece mecanismos jurídicos efetivos para a implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, e tampouco existe uma corte internacional com poder de coerção para implementá-los. 

É notória, outrossim, a falta de uma corte ambiental internacional para apreciar demandas relativas ao pilar ambiental da sustentabilidade.

Seja como for, ainda assim, a solução formulada por Sachs no sentido da construção, divulgação e implementação dos objetivos e das metas do desenvolvimento sustentável é de relevância singular, revolucionária, ao menos como norte, para a atuação de governos e da iniciativa privada em todo o mundo visando melhorias nos padrões de tutela ambiental, de inclusão social, de boa governança e de um desenvolvimento econômico movido por energias renováveis.


[1] SACHS, Jeffrey. The age of sustainable development. New York: Columbia University Press, 2015. p. 3.
[2] Idem.p. 3.
[3] Ibidem. p. 12.
[4] Ibidem. p. 12.
[5] Ibidem. p. 42.
[6] Ibidem. p. 59.
[7] ROCKSTRÖM, Johan et al. Sustainable Development and Planetary Boundaries. Background Paper for the High – Level Panel of Eminent Persons on the Post – 2015 Development Agenda. New York: Sustainable Development Solutions Network, 2013.
[8] Obra citada. p. 185-193.
[9] Obra citada. p. 193.
[10] Ver: FOLADORI, Guillermo. Los limites del desarrollo sustentable. Montevideo: Ediciones de la banda oriental - Revista Trabajo e Capital, 1999.