Investidores na Moda e Sustentabilidade!

O desenvolvimento do mercado da moda no Brasil chamou a atenção de grandes investidores, principalmente pelo potencial de crescimento das marcas e empresas varejistas de médio porte. 

Nos últimos anos, ocorreu uma série de fusões e aquisições, com a participação ativa de instituições financeiras globais, o que é uma mudança importante na indústria da moda brasileira.

Considerando as características dos principais investidores no setor, as perspectivas são de fortalecimento da gestão das marcas e das empresas varejistas, da gestão de risco e da visão estratégica de longo prazo, assim como o da identificação das oportunidades relacionadas a questões sociais e ambientais.



A maior parte dos investidores do setor da moda recorre à avaliação dos fatores sociais, ambientais e de governança (ESG) para tomar suas decisões financeiras. Por levar em consideração esses fatores, a análise integrada é o método mais consistente e utilizado. 

Segundo a Principles for Responsible Investment (PRI), a análise integrada oferece a estimativa mais precisa sobre os efeitos das questões ESG no retorno de capital. 

Após a avaliação dos riscos e oportunidades do país e do setor, os investidores analisam a estratégia das empresas, os potenciais impactos no desempenho financeiro e a influência das questões ESG sobre o valor das empresas em curto, médio e longo prazo.
o acesso ao capital depende da adoção de práticas de gestão dos riscos sociais e ambientais

Advent e Warburg foram acionistas controladores da Restoque, a maior empresa de moda de alto padrão no Brasil (dona das marcas Le Lis Blanc, John John, Bô.Bô, Rosa Chá e Dudalina). 

Advent é um investidor global especializado em private equity, participa ativamente dos conselhos e colabora com a gestão das empresas. 

Com profundo conhecimento sobre os setores em que investe, orienta-se para o retorno em longo prazo e encoraja as empresas a seguirem abordagens inovadoras para a solução dos problemas. 

Mesmo temas críticos da cadeia da moda, como relações de trabalho e gestão da cadeia de fornecedores, são considerados pela Advent em suas análises de investimento. 

Warburg Pincus é um gestor de investimentos global, cujas análises das questões sociais e ambientais se baseiam em due diligences e processos de monitoramento de portfólio. Além disso, assessora as empresas para que adotem planos de sustentabilidade.

O Grupo Carlyle controla, junto com o Grupo Boticário, a maior empresa de moda íntima do Brasil, a Scalina, dona das marcas Trifil e Scala. 

O Carlyle utiliza o método integrado para analisar o portfólio de investimentos e identificar oportunidades de criação de valor usando estratégias de sustentabilidade. 

Na avaliação das questões ASG, a equipe de sustentabilidade do grupo apoia os gestores das empresas sob a orientação de seu guia de investimento responsável.

Outro importante investidor no setor é a gestora de recursos Dynamo, com 30% de participação na Reserva e 5% na Renner. A Dynamo destaca a importância do investimento e da relação de longo prazo com os fornecedores, visando principalmente a redução do lead time e o aperfeiçoamento da cadeia para se adequar ao modelo fast fashion.

A International Finance Corporation (IFC) é um dos investidores da Dafiti e do Netshoes. Tornou-se referência em sustentabilidade para o sistema financeiro, e seus padrões de desempenho socioambiental são a base dos Princípios do Equador, utilizados para avaliação de riscos sociais e ambientais por oitenta bancos em todo o mundo.

No processo de avaliação das empresas, a IFC leva em consideração o sistema de gestão, as condições de trabalho, o controle da poluição, a saúde e segurança das comunidades e populações indígenas, os reassentamentos e aquisições de terras, a proteção da biodiversidade além da gestão dos recursos naturais, populações indígenas e herança cultural. 

O plano de ação desenvolvido para que a empresa adapte os seus negócios aos padrões de desempenho faz parte das condições e contratos de suas transações financeiras.

O Coronation, gestor de fundos da África do Sul, adquiriu 15% das ações da Hering e 9% das ações da Marisa, numa estratégia de investimento que busca retorno de longo prazo. Nos processos de investimento, o Coronation faz uma estimativa dos impactos sociais e ambientais sobre os resultados do negócio para aplicar uma taxa de desconto na avaliação do fluxo de caixa das empresas.

O First State Investments, um gestor de ativos em nível global, possui 5% das ações da Hering. 

Todo o seu portfólio de investimentos é submetido à análise das questões sociais, ambientais e de governança por uma equipe de investimento responsável, avaliada por um comitê global de investimento responsável, que monitora e direciona as práticas dos negócios. 

Um dos focos do comitê é a identificação de melhores práticas de integração dos direitos humanos nas decisões de investimento. Para isso, utiliza o relatório Banking on Shaky Ground, da Oxfam, como uma de suas principais referências.

A gestora de investimentos T. Rowe Price Associates, que possui 15% das ações da Renner, analisa as questões ESG buscando compreender a sustentabilidade no modelo de negócios da empresa e os fatores que possam causar mudanças de longo prazo, como a regulação, a disponibilidade e custo de recursos naturais, a estrutura de incentivos da empresa, e os riscos na cadeia de fornecedores – especialmente os relacionados às condições de trabalho, à qualidade e diversidade do conselho, à credibilidade das informações divulgadas pelas empresas e ao relacionamento com os stakeholders.

A Aberdeen Asset Management é uma gestora global de ativos, detentora de 14% das ações da Renner. No seu processo de gestão de riscos socioambientais, a Aberdeen define metas para a mitigação de riscos que estão ligadas a remuneração de seus executivos e conselheiros. Também encoraja as empresas nas quais tem investimentos a serem transparentes na divulgação dos objetivos, operações e resultados.

A J.P. Morgan Asset Management possui 7% das ações da Renner e uma participação minoritária na Dafiti. As suas análises ASG verificam se as questões sociais, ambientais e de governança afetam a reputação, as operações e a viabilidade econômica dos clientes, considerando as comunidades e a região onde atuam. 

Preocupada com as condições de trabalho, a J.P. Morgan faz uma análise específica sobre direitos humanos e condições de trabalho, e suas normas proíbem transações com empresas que utilizem trabalho forçado ou infantil. Antes dos investimentos, a J.P. Morgan busca evidências de que as empresas possuem procedimentos de auditoria e políticas sobre conformidade legal nas cadeias de fornecedores.

O número de investidores que adotam políticas de investimento responsável aumentou de modo significativo, fazendo com que os processos de análise de riscos e oportunidades sociais, ambientais e de governança se desenvolvessem continuamente. 

A presença dos investidores globais com métodos integrados de análise ASG no setor da moda mostra que o acesso ao capital depende da adoção de práticas de gestão dos riscos sociais e ambientais, principalmente nas relações com os fornecedores. 

Os casos mais avançados mostram ainda uma nova tendência: a de identificação de oportunidades de gerar valor nas cadeias de produção que tenham maior eficiência e produtividade, com resultados financeiros ampliados, mas que ao mesmo tempo contribuam para melhorar as condições sociais e ambientais.

Esse artigo é parte do relatório de pesquisa “Gestão de Fornecedores no Varejo de Moda”, disponível no site http://uniethos.b2bnetwork.com.br

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