A produção de alimentos é uma demanda crescente no mundo.
Mas como produzir e lucrar cada vez mais sem agredir o meio ambiente, utilizando a água e os recursos naturais de forma racional e sustentável?
Estas e outras questões estão sendo solucionadas por pesquisadores da Embrapa Pantanal, que junto a produtores e parceiros desenvolvem projetos ligados à sustentabilidade da suinocultura no município de São Gabriel do Oeste, a 130 km de Campo Grande/MS.
A criação de uma unidade experimental de estudo, de 2009 a 2014, com apoio da COOASGO (Cooperativa Agropecuária de São Gabriel do Oeste), possibilitou produzir informações e difundir conceitos inovadores de sustentabilidade para a reciclagem de água e nutrientes na suinocultura com a integração lavoura, pecuária e floresta (iLPF).
O modelo da unidade experimental é composto por uma granja de 2000 suínos, sistema de captação de água das chuvas, biodigestor, motobomba para fertirrigação e gerador movidos a biogás, tudo funcionando de forma integrada.
Segundo o Pesquisador da Embrapa Pantanal responsável pelo projeto de pesquisa, Ivan Bergier, o resultado obtido é o de uma produção mais renovável, com ganhos ambientais e socioeconômicos.
Aproveitamento de água das chuvas
A água das chuvas é captada nos telhados dos galpões de criação de suínos e direcionada por meio de canos hidráulicos para uma ou mais lagoas de armazenamento. Essa água estocada pode substituir a água de poços artesianos na dessedentação animal, limpeza racional das granjas e também na irrigação da iLPF.
Por exemplo, um telhado de galpão para 1000 suínos tem uma área de captação de aproximadamente 1200 metros quadrados. Em uma única chuva de 50 mm (50 litros por metro quadrado), esse telhado é capaz de captar em torno de 60 mil litros de água.
Se considerarmos, durante um ano, um baixo volume acumulado de chuvas de 1000 mm, por exemplo, com um único galpão pode se armazenar e usar 1 milhão e 200 mil litros de água de chuva do ano, ao invés de retirar das reservas dos aquíferos.
O investimento no sistema de captação e armazenamento vale como uma poupança de água que pode ser usada em períodos mais secos.
Dejetos viram energia
Já os dejetos dos suínos, que antes eram despejados no meio ambiente, hoje são biodigeridos. O processo de fermentação dentro dos biodigestores produz gás metano que ao ser usado no motogerador e motobomba, substituem o diesel na geração de energia mecânica e elétrica.
O efluente líquido do biodigestor é disperso nas culturas através da fertirrigação que pode substituir em grande medida a adubação mineral de áreas de iLPF.
Essa "intensificação sustentável" pode ampliar os serviços ambientais na propriedade, tais como a regulação hídrica (manutenção dos aquíferos e qualidade de água superficial) e de estoque de carbono nos solos que tende a aumentar ao longo do tempo.
Lucros para o produtor e para a natureza
No processo tudo é convertido para a produção, e o que antes poderia vir a ser um problema ambiental é convertido em lucro para o produtor e inclusão social. A prática vem aumentando ganhos de produtividade agropecuária com baixos custos energéticos e hídricos.
As pesquisas indicam que os resíduos biodigeridos dos suínos funcionam como fertilizantes nobres na iLPF, com ganhos de produtividade e redução de externalidades ambientais, além de despertar a responsabilidade ambiental e interesse por parte dos produtores e governantes de investir em soluções para a gestão adequada de resíduos, já que o município está localizado na borda oeste do Pantanal (nascentes dos rios Taquari e Aquidauana) e sobre o Aquífero Guarani.
Projeto de pesquisa Embrapa/CNPq
As pesquisas tiveram início em 2009, por meio de projeto "Estruturação de rede de monitoramento e base compartilhada de dados de sistemas de produção integrada e intensiva sustentável (suinocultura-agrosilvipastoril) em assentamento de reforma agrária visando balanços favoráveis de água, energia e nutrientes", submetido e aprovado pelo CNPq/REPENSA (Redes Nacionais de Pesquisa em Agrobiodiversidade e Sustentabilidade Agropecuária).
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