Sustentabilidade nas PMEs

Além de um breve histórico sobre sustentabilidade e consciência ambiental o artigo mostra características de Certificação Ambiental e as vantagens da implantação nas organizações, como redução de custos de desperdício e melhoria de imagem no mercado junto aos Stakeholders.

Por Fabio


Introdução

Falar de sustentabilidade nos leva à memória de passeatas contra desmatamentos, proteção de parques, contra a caça a animais e outros ícones da militância ecológica. Mas o conceito de sustentabilidade empresarial é mais amplo e nos remete a uma preocupação com a imagem de consciência e ética empresarial, redução de custos oriundos de passivos ambientais, multas ou recuperação de áreas degradadas por acidentes ou mau uso dos recursos naturais por empresas, e eliminação de barreiras comerciais com bases técnicas ambientais.

O novo consumidor tem maior consciência ambiental, tem acesso imediato a informações e senso crítico mais apurado, além de facilidade de comunicação em rede e divulgação de aspectos negativos com maior abrangência.

O maior desafio das empresas atualmente é conciliar melhoria contínua de qualidade ambiental à redução de custos e ampliação do retorno financeiro aos acionistas e proprietários.

As empresas que conseguem equacionar essas variáveis estão à frente da concorrência na preferência de consumidores, oferecendo maior solidez e segurança a investidores além de estarem adiantadas em relação à concorrência na antecipação de futuras regulamentações ambientais que certamente irão ocorrer em futuro próximo.

Cronologia de alguns fatos importantes

Na Europa do pós guerra, após o crescimento e fortalecimento da economia, viu-se a ampliação de sua indústria de forma vertiginosa e o início das preocupações ambientais com a criação da primeira Associação de Proteção ao Meio Ambiente.

Na Inglaterra em 1952, com o acidente no qual morreram aproximadamente 1600 pessoas devido à poluição do ar e inversão térmica em Londres, e em 1956 foi criada a lei do Ar Puro na Inglaterra e os primeiros artigos sobre ambientalismo nos EUA.

Em 1962 houve a publicação do livro "Primavera Silenciosa" onde discute o uso de substâncias químicas e uso de agrotóxicos e em 1968 a criação do Clube de Roma, onde um grupo de empresários elaboraram um relatório sobre limites do crescimento e formas de desenvolvimento onde foram levantadas diversas questões ambientais.

Em 1972 ocorre a Conferência Mundial de Estocolmo, onde diversas nações mostraram preocupação com os limites do crescimento e também houve o lançamento do PNUMA.- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e no Brasil, em 1981, foi elaborada a lei 6.938 prevendo crimes ambientais e a resolução CONAMA sobre licenciamento ambiental.

Em 1987 foi elaborado um relatório da comissão de Brundtland, onde a ONU divulga o conceito de desenvolvimento sustentável.

Em 1990 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD passa a utilizar a metodologia do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para avaliação e o Protocolo de Kyoto sobre o aquecimento ambiental.

Em 1992 temos a Rio ECO 92 (177 países) onde foi elaborada a Agenda 21, documento produzido contendo o Planejamento Ambiental para este século.

Em 1993 foram criadas as normas de certificação ambiental (família ISO 14000) pelo comitê ISO, referente a questões ambientais.

Em 2002 foi criado o conceito de MDL – Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e a produção de Créditos de Carbono e compensações de carbono emitido como mecanismo contábil de redução de passivo ambiental.

Em 2002 ocorreu a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10) na Cidade de Johanesburgo, na África do Sul.

E no Brasil, foi publicado o GEO Brasil, diagnóstico ambiental discutindo sobre a produção de alimentos, a industrialização, desenvolvimento sustentável, uso de terras, uso dos recursos naturais, acidentes ambientais, produção de resíduos e emissões atmosféricas.

Vantagens de Implantação

O que se vê, quando Moretti, Sautter e Azevedo (2010) ao utilizarem estas citações a seguir [citações de Morrow e Rondinelli (2002), Fryxell e Szeto (2001) e Zeng. (2005)], que segundo Fryxell e Szeto (2001) afirmando que "as razões em virtude das quais as empresas deveriam buscar a certificação, são: melhorias nas conformidades regulatórias, melhoria no desempenho ambiental, atendimento das expectativas dos clientes, redução de custos, melhor atendimento às partes interessadas externas e a melhoria na reputação corporativa", é que já se percebe que o controle do desempenho ambiental acarretará redução de custos e maior atendimento ao cliente, suprindo suas expectativas.

Ampliação do mercado, com aceitação internacional após certificação novamente redução de custos por intermédio de redução do desperdício e melhor aproveitamento de recursos, além de melhoria da imagem perante os clientes, percebe-se por Zeng. (2005), da mesma forma, "enumera algumas motivações pela certificação ISO 14001, tais como: a entrada no mercado internacional, a padronização de procedimentos de gestão ambiental para operações internas, a economia de recursos e redução de desperdícios para o gerenciamento corporativo, a melhoria na imagem corporativa para efeitos de mercado e o aumento na consciência ambiental de fornecedores".

Mas outras citações ainda mostram que o maior controle e redução de resíduos, por intermédio da implantação de um Sistema de Gerenciamento Ambiental atua com parâmetros de conformidade medidos e monitorados conforme dizem Melnyk; Sroufe; Calantone (2002).explicam que "o propósito dos sistemas de gestão ambiental pode ser sintetizado como uma possibilidade de desenvolver, implementar, organizar, coordenar e monitorar as atividades organizacionais relacionadas ao meio ambiente visando conformidade e redução de resíduos".

A motivação para a implantação de um SGA – Sistema de Gerenciamento Ambiental consiste na redução de custos e aumento de vantagens competitivas, inclusive à nível internacional, como dizem Morrow & Rondinelli, (2002) "Também se destacam outras possíveis motivações, tais como: economia de recursos pela melhoria da eficiência e redução de custos com a energia, materiais, multas e penalidades, aumento da confiança do investidor na organização e vantagens competitivas internacionais, avaliação do comprometimento com a melhoria do desempenho ambiental e redução de riscos das companhias, por agências regulatórias do governo, companhias de seguro e instituições financeiras, aumento da eficiência das operações, aumento da consciência dos impactos ambientais entre funcionários e o estabelecimento de uma forte imagem de responsabilidade social corporativa".

Novamente explica Chang, Wong, (2006) diz – "Além de contribuir com a responsabilidade social e com o cumprimento da legislação, estes sistemas possibilitam identificar oportunidades de redução do uso de materiais e energia e melhorar a eficiência dos processos", mostrando que o controle acarretará redução de custos e vantagem competitiva em relação à concorrência.

Ademais, Clark (1999) segundo Morrow e Rondinelli (2002), afirma que "muitas organizações multinacionais estão adotando um sistema de gestão ambiental para satisfazer as pressões dos clientes e para assegurar que a cadeia de fornecedores esteja operando de maneira social e ambientalmente responsável. Também, em função do grande interesse entre as partes envolvidas internas e externas, as organizações estão adotando os sistemas de gestão ambiental".

O que se vê, então, é que as pressões de mercado, por meio de maior valorização da empresa junto a investidores, atendimento à legislação ambiental, melhores condições de trabalho, às exigências de clientes e mesmo a busca por maior vantagem competitiva em relação à concorrência promovem melhorias visíveis e podem ser auferidas nas organizações.

O novo consumidor verde, de maior consciência ecológica, mais informado, com nível de escolaridade maior, mais idade, com capacidade de fazer propaganda negativa e de influência em seu meio social, exige das organizações que se adaptem, e de forma rápida, para que possam atender estas novas expectativas.

Os benefícios no Marketing, no atendimento a este novo perfil de consumidor, que busca novos produtos, que tem novos valores, representa oportunidades de nova abordagem comercial, com apelo ambiental, e melhoria da imagem da organização junto aos clientes e fornecedores.

Novos processos de fabricação, a produção de novos produtos, com a constante busca da redução de danos ambientais, utilização de novos materiais, ecologicamente corretos, uso de tecnologias end-of-pipe – de remediação, e tecnologias limpas – clean tecnologies, acabam por reduzir custos, a eliminação de desperdícios nos processos produtivos, proporcionando maior retorno sobre o investimento com o adicional de maior projeção da empresa junto ao mercado, melhoria de imagem junto aos consumidores e conquista de maior fatia de mercado.

Conceito de Empresa Verde


Laville, Elisabeth (2009) conceitua em seu livro "É preciso criar uma empresa que esteja em harmonia com o mundo que a cerca, uma empresa para a qual o desenvolvimento sustentável seja uma segunda natureza, e na qual cada ato contribua efetivamente com a criação de um mundo um pouco melhor, não por altruísmo, mas por natureza. Essa perspectiva é, ao mesmo tempo, impressionante, pelo caminho que nos resta percorrer, e entusiasmante, porque se trata, sem dúvida alguma, do mais formidável desafio proposto à humanidade neste início de século. Um desafio que nos pede, em primeiro lugar, que imaginemos o mundo em que queremos viver no futuro; e que confiemos no ser humano para avançar rumo ao melhor, ao invés do pior."

Processos de fabricação e adoção da filosofia sustentável, onde até as condições humanas são revisadas de forma à sua melhoria, exigem que a mudança da cultura dos dirigentes e colaboradores em sua implantação seja acompanhada de grande perseverança e persistência, mas os resultados posteriores posicionam as organizações frente à concorrência, geram economia de recursos e materiais e auferem maior lucratividade, fornecendo um novo patamar organizacional.

Importância de Certificação

Uma empresa pode implantar um sistema de gerenciamento ambiental – SGA por conta própria, apenas atendendo os requisitos próprios, e padrões da lei, de forma a prevenir poluição, proteção de recursos naturais e gerenciar seus resíduos.

Por adotar padrões particulares, este sistema careceria de possibilidade de ser auditado de forma eficiente por terceiros, perdendo credibilidade. Um sistema baseado em normas ISO 14000 - a ISO 14001 é uma Norma de gestão ambiental que busca assegurar o compromisso das organizações em reduzir os negativos efeitos ambientais, têm por objetivo prover as organizações de elementos de um sistema de gestão ambiental (SGA) eficaz que possam ser integrados a outros requisitos de gestão, e auxiliá-las a alcançar seus objetivos ambientais e econômicos (ABNT, 2004) - permite ser auditado, reconhecido por outros, além de ter credibilidade junto à fornecedores, clientes, e outros parceiros comerciais, visto o sistema já ter sido testado e aprovado no mundo todo.

Selo ABNT Ambiental e Certificação ISO 14001.

Uma forma inicial de pequenas e médias empresas obterem certificação e rotulagem de empresa sustentável é o Selo ABNT Ambiental - "É a certificação de produtos/serviços com qualidade ambiental que atesta, através de uma marca colocada no produto ou na embalagem, que determinado produto/serviço (adequado ao uso) apresenta menor impacto ambiental em relação a outros produtos "comparáveis" disponíveis no mercado."

Este selo promove alguns benefícios para a empresa, visibilidade da marca como empresa que produz de forma ecologicamente correta, com a diminuição do impacto ambiental, que se preocupa com as próximas gerações, que preserva o meio ambiente, além de possibilitar a redução de desperdícios, por meio da reciclagem e aumento de recita com a venda da produto da reciclagem, além de diferenciação positiva perante a concorrência.

A certificação pela ISO 14001 é uma validação reconhecida das conformidades de uma organização de seu SGA – Sistema de Gerenciamento Ambiental - em relação aos padrões da ISO 14001, por uma empresa certificadora independente. É uma norma internacionalmente aceita que define os requisitos para estabelecer e operar um Sistema de Gestão Ambiental.

Implantação de um Sistema de Gestão Ambiental


A implantação de um SGA – Sistema de Gestão Ambiental deve ser baseado no sistema PDCA, também conhecido por Ciclo de Deming, que consiste nas palavras, em inglês: Plan, Do, Check e Action.

Desenvolvido por Shewant e divulgado por Deming, consiste na análise e medição dos processos de forma à melhoria dos mesmos por meio de planejamento, padronização, documentação de forma à melhoria contínua dos mesmos.

Plan – Planejar metas, objetivos, métodos, procedimentos e padrões;

Definir o que deverá ser feito, planejar e definir métodos para o alcance destes objetivos;

Do – Fazer/executar, consiste nas tarefas planejadas;

Iniciar, treinar, educar, implementar, executar em concordância e conformidade com o planejado;

Check – Verificação dos resultados alcançados;

Consiste na análise das informações de modo a verificar os resultados obtidos;

Action – agir para correção e melhoria;

Efetuar correções e melhoria dos processos, os ajustes necessários para que os resultados sejam alcançados e aperfeiçoados.
 
Este ciclo representa o processo de melhoria contínua.

Após o mapeamento dos processos (conjunto de atividades inter-relacionadas que influenciam no produto final) constantes das operações da organização e sua análise de forma à obtenção do conhecimento sobre as tarefas e atividades relacionadas com o entendimento de todas as relações, formas de comunicação e transformação destes, busca-se planejar a melhoria contínua nas formas de atuação da organização com a contínua verificação dos resultados alcançados e as correções necessárias. Sempre com a documentação padronizada necessária para que a auditoria seja feita por órgão credenciado para a certificação.

A Certificação Ambiental ISO 14001 precede de muitas normas até seu recebimento, inicialmente é necessário que a organização desenvolva uma política ambiental como um compromisso para as necessidades ambientais, prevenção de poluição, e melhoria continua, deve conduzir um plano que identifique aspectos ambientais de suas operações e as exigências legais, fixe objetivos e metas consistentes como políticas da empresa e estabelecer um programa de gerenciamento ambiental; deve implementar e operacionalizar um procedimentos que incluam uma estrutura e responsabilidades bem definidas, treinamento, comunicação, documentação, controle operacional, e preparação para atendimento a emergências, além de produzir formas de ação corretiva incluindo o monitoramento, a ação preventiva e a auditoria periódica para o processo de melhoria contínua com a conseqüente revisão do sistema de gerenciamento de forma periódica.

Gestão de Resíduos e Logística Reversa

Segundo Razzolini Filho, Edelvino (2007), é a área da logística responsável pelo retorno de produtos ao processo produtivo para reciclagem e/ou destruição após o uso. Envolve, principalmente, as atividades de armazenagem e transporte.

As organizações anteriormente não eram responsáveis por produtos depois do uso pela clientela, eram somente descartados ocasionando danos ambientais. Com o gerenciamento de resíduos, leis ambientais forçam empresas a receber certos produtos descartados pelos consumidores, diminuindo o impacto ao meio ambiente.

Com a logística reversa, empresas perceberam também que a reciclagem e o reaproveitamento de materiais devolvidos produzem benefícios econômicos e maior lucratividade em suas atividades.

Novamente o consumidor percebe que empresas que reciclam e cuidam do meio ambiente merecem maior atenção e valor ético que a concorrência.

Considerações Finais


Segundo Sá, Ângelo (2010) ]"O grande desafio é conjugar melhoria contínua da qualidade ambiental das instituições com melhores resultados econômicos, em termos de eficiência produtiva".

Como se vê, apesar de um maior investimento para obtenção de certificação, as empresas com visão de futuro devem utilizar em seu planejamento estratégico o coeficiente ambiental como importante item pois fornece impacto positivo junto à imagem da organização junto a fornecedores, investidores e clientes, atingindo uma maior fatia de mercado com a incorporação de novos segmentos e clientes preocupados com a sustentabilidade.

Referências Bibliográficas

BERTÉ, Rodrigo – Gestão Socioambiental no Brasil, Ibpex, 2009
RAZZOLINI FILHO, Edelvino – Logística Empresarial no Brasil, Tópicos Especiais, Ibpex, 2007
Cartilha de Licenciamento Ambiental e as Micro e Pequenas Empresas. Vol I , FIESP, 2008
http://www.ogerente.com.br/log/log-dt-logrev.htm
http://www.linkedin.com/news

http://www.abnt.org.br/default.asp

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