Fábrica de plástico biodegradável feito de milho será instalada em Pato Branco

O Paraná vai ter a primeira indústria de produção de resina de plástico derivada do milho na América do Sul. 

O empreendimento, uma parceria da francesa Limagrain com o grupo paranaense Sementes Guerra, será construído em Pato Branco, Sudoeste do Estado.



O anúncio foi feito nesta quinta-feira (08/03) pelo governador Beto Richa e dirigentes das empresas, no Palácio Iguaçu, em Curitiba. "Estamos vivendo um novo ciclo de industrialização porque o Governo do Paraná trabalha lado a lado com o setor produtivo”, disse o governador. Ele lembrou que o Estado já garantiu R$ 9 bilhões em investimentos e que outros R$ 15 bilhões estão em negociação.

Richa lembrou que as negociações com a Limagrain começaram na França, no ano passado, durante viagem de uma comitiva do Estado, que visitou vários países europeus para prospectar novos investimentos para o Paraná, entre eles a ampliação da fábrica da Renault. Ele disse que o projeto tem total apoio do Governo, pois trará desenvolvimento econômico e social para toda a região Sudoeste.

O governador afirmou que o investimento é mais uma prova do acerto da política do governo para reinserir o Paraná na rota dos investidores e criar um bom ambiente para negócios no Estado. O empreendimento foi enquadrado no programa Paraná Competitivo. A empresa preferiu não divulgar o volume de recursos que será investido e a capacidade de produção da fábrica.

BIODEGRADÁVEL - A resina feita de milho é matéria-prima para a produção de materiais plásticos biodegradáveis como sacolas que tem se decompõe na natureza em 180 dias.

O diretor mundial da Biolice - unidade da Limagrain de produção de plásticos biodegradáveis -, David Person, afirmou que a preocupação do Governo do Paraná com questões ambientais foi um dos fatores que pesaram na escolha da localização da indústria. “Outro motivo é a forte produção agrícola do Paraná e o ambiente que existe para agregar valor à produção de grãos e sementes".

Para diretor executivo do grupo Guerra e da Limagrain Brasil, Ricardo Guerra, o investimento é resultado do empenho direto do governador. Em agosto passado, Richa visitou a diretoria da Limagrain na cidade de Clermont-Ferrand, localizada a 450 quilômetros ao sul de Paris, e reforçou o interesse do Estado do Paraná de receber o empreendimento.

"A visita que o governador fez a França em agosto ano passado foi primordial, assim como o trabalho de todos os secretários de Estado para que pudéssemos construir as condições necessárias para o lançamento desse investimento que vai revolucionar o agronegócio brasileiro", disse.

O presidente do grupo Guerra e da Limagrain Brasil, Luiz Fernando Guerra, explicou que as obras da unidade já foram iniciadas. "É um projeto de curto prazo, estamos com obras de terraplanagem na área e a previsão é que inicie a produção no segundo semestre de 2013", disse.

O secretário da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul Ricardo Barros disse que instalação da indústria de plástico biodegradável deve atrair novos empreendimentos para o Sudoeste. "É um importante investimento que agrega valor com alta tecnologia a nossa produção agrícola".

O secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, explicou que a proposta foi construída depois de amplos debates e aliou os interesses do Estado e da empresa. "Uma negociação de sucesso que traz ao Paraná uma indústria de tecnologia inovadora".

SEGUNDA ETAPA - Os dirigentes da Limagrain/Guerra adiantaram que devem anunciar em breve mais um investimento no Paraná. A instalação de uma indústria de alimentos (pães e bolos industrializados) em Guarapuava.

Também participaram do evento o secretário estadual da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara, o prefeito de Maringá, Silvio Barros, o deputado federal Fernando Francischini, o deputado estadual Bernardo Carli, o ex-ministro Alceni Guerra e lideranças da região Sudoeste.

Uma verdade desconfortável: como a área de Saúde encara a sustentabilidade

A maioria dos sistemas de saúde do mundo todo não assumiu sua parcela de responsabilidade
Por Mark Britnell, www.administradores.com.br

Há 20 anos, a ECO-92 colocou de maneira sólida as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável no mapa político.


A crise financeira mundial ocupou com razão as autoridades políticas, mas a Conferência Rio+20, que acontecerá em junho de 2012, dará novamente enfoque aos esforços relacionados ao controle do clima, às emissões de gases e à sustentabilidade. 
Embora as mudanças climáticas tenham um forte impacto na saúde das pessoas, também é uma verdade desconfortável que a área da saúde precisa fazer mais para auxiliar na sustentabilidade global. 
Por exemplo, nos Estados Unidos, a área de saúde é responsável por 8% do total das emissões de gases de efeito estufa, ficando em segundo lugar entre os setores que mais utilizam energia, seguindo o setor de fast food, enquanto que, na União Europeia, a área da saúde responde por 5% do total de emissões, o que equivale ao total gerado pelos setores de aviação e transporte da região em conjunto. 
Há, portanto, uma grande oportunidade de melhoria da pegada ecológica da área de saúde.
Ao longo dos últimos 20 anos, a globalização alterou o equilíbrio do poder do mundo industrializado para os mercados emergentes. A população mundial passou de 1,5 bilhão para 7 bilhões de pessoas, e a maior parte delas vive nas cidades. 
Centenas de milhares de pessoas saíram da faixa de pobreza extrema, e observamos números similares de pessoas que ascenderam à classe média. Até 2030, a classe média mundial, com estilos de vida com mais recursos, crescerá de uma estimativa de 1,8 bilhão para 4,9 bilhões de pessoas, enquanto a população mundial crescerá para 8,4 bilhões de indivíduos. 
Até 2030, está previsto o aumento da temperatura média global em 1%, enquanto 39% da população mundial enfrentará a escassez de água. Os países mais pobres sofrerão as consequências mais diretas dessas mudanças.
Recentemente, um evento realizado pela KPMG sobre mudanças climáticas e sustentabilidade atraiu cerca de 500 líderes do mundo corporativo, que assistiram a palestras de Ban Ki Moon, Bill Clinton e Michael Bloomberg, prefeito da cidade de Nova York. 
A mensagem deles foi clara: os governos não são capazes de resolver sozinhos a crise de sustentabilidade, e as empresas precisam tomar iniciativas. É óbvio que a área de saúde precisa desempenhar um papel mais importante na condução dessa mudança.
No recente relatório da KPMG Expect the Unexpected: building business value in a changing world, identificamos dez megaforças em sustentabilidade global (mudanças climáticas, energia, escassez de recursos, escassez de água, aumento da população, urbanização, opulência, segurança dos alimentos, declínio do ecossistema e desmatamento), que estão interligadas e são importantes para os efeitos sobre a saúde. 
Uma matéria da revista "The Lancet", de 2009, indicava que "os efeitos das mudanças climáticas afetarão a maioria das populações nas próximas décadas e colocarão as vidas e o bem-estar de bilhões de pessoas em grande risco", e, ao mesmo tempo, concluía que, "possivelmente, as mudanças climáticas são a maior ameaça à saúde mundial do século 21".
A maioria dos sistemas de saúde do mundo todo não assumiu sua parcela de responsabilidade. O National Health Service - NHS (Serviço Público de Saúde Britânico) tem uma excelente Unidade de Desenvolvimento de Sustentabilidade, mas sua influência sobre a entidade é limitada. Em poucas palavras, é pequena a quantidade de autoridades políticas, profissionais e gestores que enxergam a sustentabilidade como alta prioridade. 
Como o quarto maior empregador do mundo e uma das organizações que mais necessitam de energia, acho que o NHS tem uma excelente oportunidade de progredir, reduzir as emissões, gerar novos empregos e fornecer um exemplo global do que a saúde é capaz de fazer. Vou ilustrar apenas com os três exemplos a seguir.
A produção, o consumo e a distribuição de energia são altamente fragmentados no NHS. A grande quantidade de hospitais, serviços de ambulância e outras responsabilidades do serviço atuam de maneira independente, o que gera ineficiência. Por exemplo, novos geradores de energia e calor têm uma eficiência energética muito superior e reduzem drasticamente os custos. 
O NHS poderia desenvolver uma das maiores ações no setor público-privado do mundo todo, angariando quantias substanciais de investimentos, criando milhares de empregos e reduzindo em grande volume as emissões. Uma rede nacional de produção combinada de calor e eletricidade de vanguarda, com instalações para o tratamento de resíduos verdes, transformaria o desempenho.
Segundo, a cadeia de distribuição entre indústrias farmacêuticas e de saúde é antiquada e dispendiosa. Atualmente, as empresas farmacêuticas têm dividido sua cadeia de suprimentos com hospitais, clínicas médicas e pontos de vendas no varejo, com milhões de deslocamentos de veículos no Reino Unido. 
Trabalhando em conjunto, o NHS e os setores de ciências biológicas podem simplificar os processos de pedido, recebimento e distribuição, reduzindo, assim, a quantidade de entregas, a quantidade de embalagens e o custo. O Walmart, gigante norte-americano do setor de varejo, demonstrou resultados extraordinários com a transformação de seus negócios de distribuição e embalagem, e é preciso aprender com isso.
Finalmente, precisamos redesenhar a maneira do atendimento. Diariamente, há milhares de visitas ambulatoriais aos hospitais e muitas delas são vitais. 
No entanto, o NHS tem demorado para adotar novas tecnologias, enquanto o desenvolvimento mais recente de serviços como o e-health, telehealth e telecare (sistemas de monitoramento remoto da saúde) nos oferece uma percepção de como tudo poderia ser melhor. 
A utilização maior de telecare pode reduzir as emissões e melhorar a saúde. Uma real inovação do NHS poderia auxiliar a gerar mais saúde, riqueza e sustentabilidade, e este know-how poderia ser "exportado" para o resto do mundo.
À medida que governos buscam novas ideias para o crescimento econômico e a criação de empregos, e a Rio+20 almeja um maior comprometimento com a sustentabilidade, o NHS pode ser uma das lideranças mundiais em relação aos equipamentos avançados de energia, sistemas econômicos de entrega e novas tecnologias. 
Novas parcerias público-privadas poderiam apurar investimentos substanciais, criar milhares de empregos e fazer uma pequena, mas importante, contribuição para salvar o planeta. Precisamos apenas inovar, ser criativos e ter a coragem de atuar em larga escala e com velocidade.
Mark Britnell é líder global da área de Saúde da KPMG

Bolsa de Valores Socioambientais foca em objetivos da ONU

SABRINA BEVILACQUA
Direto de São Paulo

A BM&Bovespa acaba de ampliar o foco da Bolsa de Valores 
Socioambientais para a contemplar projetos que cumpram com os oito objetivos de desenvolvimento do milênio estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). 
A BVSA funciona como uma bolsa de valores que capta recursos financeiros para projetos de ONGs de todo o Brasil.

Até 2011, as categorias eram restritas às esferas ambiental e social. A partir deste ano, a BVSA quer estimular oito temas: erradicação da fome e extrema pobreza, ensino básico universal, igualdade de gênero e autonomia das mulheres, redução da mortalidade infantil, saúde materna, combate ao vírus da Aids, malária e outras doenças, sustentabilidade ambiental e estabelecimento de uma parceria mundial para o desenvolvimento. 
Outra novidade é a captação de recursos pelo novo site www.bvsa.org.br
Empresas e pessoas físicas podem fazer doações a partir de R$ 20 para qualquer um dos 16 projetos que já foram selecionados.



Segundo o diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, tudo o que for arrecadado vai direto para as organizações. Além disso, é possível acompanhar diariamente a atualização de quanto cada projeto está recebendo e os resultados das ações. "Produzimos relatórios como um feedback para o investidor", diz.



Ele destaca a importância da contribuição privada para o desenvolvimento socioambiental do País. "O governo brasileiro não consegue resolver tudo sozinho. Precisa da iniciativa privada", afirma.



A cantora Daniela Mercury, nomeada madrinha da BVSA, diz que o principal objetivo desse projeto é transformar o País por meio de ações. "Estamos investindo em gente, em crianças, no País de maneira concreta e profissional." 
Para ela, as transformações sociais que projetos sérios podem provocar são muito maiores do que os resultados imediatos mostram, "são uma semente que atinge toda a comunidade".

O outro lado - SP vive boom dos prédios idênticos, 'conformistas'

O Estado de São Paulo, Adriana Ferraz e Rodrigo Brancatelli

Cidade tem onda de lançamentos sem criatividade, que vendem status para morador em detrimento das necessidades urbanísticas



É um bocado difícil argumentar que São Paulo seja visualmente mais bela e mais ordenada do que Paris ou Viena, claro. Não que seja despeito com a maior metrópole do Hemisfério Sul, pelo contrário. 

A beleza de São Paulo sempre esteve no fato de ela ser uma cidade em constante construção, um organismo mutante, um local de absurdos 1.524 quilômetros quadrados onde o tecido urbano está sempre em transformação. São Paulo é viva, acima de tudo, e não pode ser comparada com lugares congelados como... Paris, por exemplo.

O problema é que mesmo esse argumento da beleza paulistana pode perder sua força. Com o boom imobiliário que lançou 13.501 prédios e 733 mil apartamentos nos últimos 15 anos, São Paulo está ficando com a mesma cara. A arquitetura dos edifícios hoje se padronizou, quase todos têm o mesmo visual - depois de ir da taipa de pilão ao concreto armado, passando pelas residências operárias, pelas casas modernistas e também pelos prédios com inspirações brutalistas, São Paulo não segue mais linha nenhuma de arquitetura.

Ou melhor, segue, sim: é o que os próprios profissionais chamam de "arquitetura conformista", uma ditadura dos prédios idênticos.

"O modelo dominante hoje é bastante conformista, ele reflete a preocupação constante das construtoras em agradar à maioria, assim como a rapidez com a qual as operações estão montadas por pressão financeira", diz o arquiteto Gui Sibaud, sócio do escritório Triptyque.

"Esse sistema exclui praticamente toda forma de experimentação. Resulta disso uma clonagem de modelos. Diria que o brasileiro pode até talvez se preocupar com arquitetura, mas não é o caso das construtoras. Creio que há muita demanda por prédios diferenciados por parte do público, mas poucas incorporadoras têm a coragem de produzi-los."

Um dos principais motivos é mesmo o financeiro. Hoje, as incorporadoras têm pequenos grupos de arquitetos em suas equipes, a maioria deles recém-formados que trabalham com modelos prontos de prédios. Os projetos são replicados em todas as regiões, sem uma preocupação com o restante da paisagem e com a demanda de cada bairro. Assim, as empresas conseguem economizar até 20% do orçamento da construção.

Terraço. Além disso, para não errar em um lançamento imobiliário, as construtoras criaram um "gosto do paulistano", um prédio sem uma arquitetura clara, que serve mais como um símbolo de status para o comprador do que um exemplo de habitação perfeita que traga felicidade para os moradores.

O maior exemplo desse modelo é o apartamento com varanda gourmet - a sacada ampla, com churrasqueira e espaço para reunir a família e os amigos. 
Em São Paulo, seja qual for a região, pipocam prédios que priorizam a área externa e vendem o conceito gourmet como símbolo de conforto, qualidade de vida e status. É o novo padrão dos prédios paulistanos que atende ao modelo desejado pela classe média, mas ajuda a deixar os bairros com a mesma cara.

Exemplos desse cenário não faltam, principalmente em bairros que até a década passada eram predominantemente ocupados por casas - como Vila Mariana, Ipiranga e Vila Olímpia, na zona sul; Pinheiros e Pompeia, na zona oeste; Tucuruvi, na zona norte; e Mooca e Vila Prudente, na zona leste. No lugar do batido e contestado estilo neoclássico, que dominou as construções nos anos de 1990, reinam hoje fachadas claras, com sacadas envidraçadas e áreas comuns que prometem atrações típicas de um clube. 

Diante da procura, a oferta, antes destinada apenas ao mercado de alto padrão, ganhou opções variadas de plantas, a partir de 57 metros quadrados. Na zona oeste, a Vila Leopoldina é uma das campeãs nesse tipo de lançamento. Somente na Avenida Bolonha, há oito torres em construção com essa característica. Perto dali, na Avenida Mofarrej, são outras seis.

Para Ricardo Monezi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o novo padrão de moradia atende ao desejo da população que quer morar em casa, mas que, diante do temor da violência, acaba optando por um apartamento. 

"O modelo de bem-estar vai mudando com o tempo. Esse é o atual. A sacada funciona como uma espécie de quintal", diz. "A busca pela felicidade é dinâmica, e ocorre pela pressão social."

Futuro. O maior reflexo desse movimento é a própria perda de qualidade de vida dos moradores. Fosse a arquitetura igual a uma música, um filme ou um quadro, não haveria discussão - a beleza de um prédio sempre estaria ao gosto do morador, e ponto final. 

O detalhe é que os prédios de uma cidade são uma espécie de arte pública, formam o tecido urbano que une todos. Assim, a falta de preocupação com a visual da cidade se reflete no urbanismo. "Nós moldamos nossos edifícios; depois eles nos moldam", como disse o estadista britânico Winston Churchill.

"À medida que está se generalizando esse estilo de morar, a rua fica esvaziada e se resume ao escoamento de veículos sobre rodas", diz o arquiteto Gui Sibaud. "

A grande verdade é que os arquitetos não estão convidados a opinar sobre o futuro das cidades brasileiras e participam de fato de uma fatia muito modesta do volume total das construções. 

O poder público tem de organizar uma grande reflexão coletiva sobre as cidades brasileiras e definir politicas viáveis, interferindo nesse modelo que vem a se impor e a se generalizar sem que ninguém aparentemente tenha decidido por isso."

Para o Brasil, Rio+20 não é só ambiental

Por: Daniela Chiaretti

Fonte: Valor Econômico


O embaixador André Aranha Corrêa do Lago, de 52 anos, é um economista apaixonado por arquitetura e um diplomata que fala direto. 




“O que não se pode aceitar é que os países desenvolvidos considerem que nós temos que repensar o que é padrão de consumo de classe média, e eles, não”, diz, referindo-se às negociações da Rio+20, a conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, em junho, no Rio.

Lago, que serviu nas embaixadas brasileiras em Madri, Praga, Washington, Buenos Aires e na missão brasileira junto à União Europeia, em Bruxelas, diz claramente que a Rio+20 é uma conferência sobre desenvolvimento sustentável, com seus pilares econômico, social e ambiental. Não é só frase de efeito. 

“Os europeus dizem que o Brasil está tirando o foco da Rio+20″, menciona. Lago não é explícito, mas trata-se de uma referência ao esforço europeu, encabeçado pela França, de aprovar na Rio+20 a criação de uma agência ambiental mundial, ideia que o Brasil não apoia. “A Rio+ 20 não é uma conferência ambiental, é sobre desenvolvimento sustentável. Quem está tirando o foco da Rio+20 são eles, colocando apenas o pilar ambiental na mesa.”

O negociador-chefe do Brasil para a Rio+20 diz que os empresários são peças-chave em uma conferência que quer desenhar o desenvolvimento do mundo para os próximos 20 anos. E que um dos desafios da Rio+20 é “convencer o empresariado médio e micro que o desenvolvimento sustentável não é agenda apenas de multinacionais gigantes, que têm dinheiro sobrando e que, portanto, podem investir nessas outras dimensões.”

Nesta entrevista ao Valor, concedida em seu gabinete no Itamaraty, ele fala dos emergentes, da mudança necessária nos padrões de produção e consumo e no papel do Brasil. Leia trechos:

Valor: As pessoas não têm ideia clara do que é a Rio+20. O senhor pode explicar?
André Aranha Corrêa do Lago: A Rio+20 pertence a uma família de conferências das Nações Unidas que só acontece com pouca frequência. São conferências de questionamento geral e trabalham com o longo prazo. A Rio+20 têm várias dimensões, mas sua definição formal é que é uma conferência da ONU que vai reunir todos os países do mundo para debater temas que só são discutidos neste nível de profundidade a cada 10 ou 20 anos. É completamente diferente da conferência de Copenhague (em 2009, na Dinamarca) ou da de Durban (em 2011, na África do Sul), que são as reuniões anuais da negociação de mudança do clima.

Valor: O que pode sair dela?
Lago: Por ser rara e ambiciosa, podem sair daí coisas como na Rio 92 que, no momento em que acontecem a gente não se dá conta do quanto são importantes.

Valor: Quais coisas?
Lago: Quando foi assinada a Convenção do Clima, na Rio 92, ninguém podia imaginar que 20 anos depois ela se tornaria a principal negociação econômica no mundo. Mas essas conferências, ao trabalharem com o longo prazo, têm também enorme grau de incerteza. Existem processos que param no meio e outros que inspiram toda uma geração.

Valor: O produto principal da Rio+20 é um documento que pode dizer o quê?
Lago: O produto principal da Rio+20 é reunir todos os países e as melhores mentes das instituições internacionais e repensar o desenvolvimento do mundo. Em momentos como o de hoje, quando pensamos no curto prazo – como nas reuniões do G-20, onde todos pensam como será a crise em uma semana, um mês ou um ano -, a grande contribuição da Rio+20 é pensarmos o que queremos para o longo prazo. É a conferência para tentar determinar qual o nosso objetivo comum para as próximas décadas.

Valor: A Rio+20 tem duas frentes, da economia verde e da governança. Pode explicar?
Lago: Isso são os mandatos. Quando se tem uma conferência das Nações Unidas, todos os países do mundo têm que concordar em qual vai ser a agenda. Não é uma decisão nem das Nações Unidas, nem do país anfitrião. É uma decisão de todos. Neste caso, a decisão foi de que a Rio+20 deveria se concentrar em dois temas: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a governança internacional do desenvolvimento sustentável, ou seja, de que maneira vamos estruturar o debate internacional em torno dessa questão.

Valor: O senhor mencionou outro dia que o “espírito de Estocolmo” está sendo sentido de novo, e de maneira forte, nas negociações da Rio+20. O que quer dizer?
Lago: Quando ocorreu a 1ª conferência ambiental da ONU, em Estocolmo, em 1972, no período preparatório os países em desenvolvimento reagiram muito mal à introdução da questão do ambiente porque interpretavam que era uma deturpação do debate. Que o debate legítimo da ONU, desde os anos 50, era o desenvolvimento. E, graças ao Brasil e há alguns outros em desenvolvimento, caiu a ficha e a questão do ambiente passou a ser ligada diretamente à do desenvolvimento. O consenso foi de que não se podia desligar os dois.

Valor: Mas a participação do Brasil foi esquisita, defendendo o crescimento a qualquer custo…
Lago: Não, isso foi muito mal interpretado naquela época, parecia que o Brasil estava atrapalhando uma agenda progressista. Mas naquele período houve um relatório com grande impacto, do Clube de Roma. Era um clube de grandes empresários e, nesse relatório, havia uma renovação daquelas preocupações malthusianas [economista britânico Thomas Malthus] de que nunca ia haver suficientes recursos naturais para todo mundo.
A solução que as pessoas encontravam era “controle a população dos países em desenvolvimento, porque senão eles vão consumir o que nós precisamos”. Isso classifica o mundo em duas categorias, aqueles que já chegaram a um certo nível de consumo e acham legítimo continuar a tê-lo e querem restringir o crescimento dos outros. Isso acabou mudando. Mas muitos países europeus não se convenceram disso.

Valor: Este espírito voltou nas negociações da Rio+20?
Lago: O espírito pré-Estocolmo é a visão de que o problema do mundo é que tem pobre demais e poucos recursos naturais. Hoje isso está retornando.

Valor: Bom, mas não é verdade que no mundo há pobres demais e recursos naturais de menos?
Lago: Agora a preocupação é outra: os pobres estão virando classe média. E não se achava que isso ia acontecer tão rápido. Entre China, Brasil, Índia e outros países em desenvolvimento estamos botando centenas de milhões de pessoas na classe média. Estas pessoas estão consumindo mais, o que é uma ótima notícia. E também é verdade que isso representa um desafio para o ambiente. Mas a solução não é restringir o consumo só deles. A solução é um esforço mundial para que não haja uma divisão do gênero: a classe média americana pode ter quatro carros e classe média indiana tem que andar de bicicleta.

Valor: A sinalização dos países desenvolvidos é “vocês chegaram à classe média na hora errada?”
Lago: A sinalização é a seguinte: “Nós inventamos esse conceito de classe média meio para a gente. Não é para vocês, não”. Isso não é possível. Os países em desenvolvimento, com toda razão, consideram que, é claro que temos todos que nos preocupar com as emissões e as consequências da entrada de milhões de pessoas na classe média mundial. Mas não podemos aceitar que vá haver duas classes médias, duas categorias diferentes.
O que achamos é que os países desenvolvidos, em vez de se preocupar tanto com o que está acontecendo nos países em desenvolvimento, deveriam mostrar o caminho. Isso está já determinado desde o Rio de Janeiro, em 1992. Um dos princípios do Rio é a mudança dos padrões insustentáveis de produção e consumo, com os países desenvolvidos tomando a liderança. Temos que criar uma ideia de classe média que seja atraente o suficiente para europeus e americanos, e atraente o suficiente para indianos e brasileiros.

Valor: Este ponto, na Rio+20, pode ter qual formato?
Lago: Tem que ser uma questão absolutamente chave. Se estamos trabalhando na Rio+20 para os próximos 20 anos, temos que pensar em medidas que teremos que tomar internacionalmente e que tenham impacto para as próximas duas décadas. A perspectiva é que até lá centenas de milhões de pobres deixarão de ser pobres, o que é uma maravilhosa notícia. Essa visão dramática do mundo tem que ser equilibrada pelo lado positivo do que está acontecendo. Mas temos, sem a menor dúvida, todos, que repensar nossos padrões de consumo. O que não se pode aceitar é que os desenvolvidos considerem que nós temos que repensar o que é padrão de consumo de classe média, e eles, não.

Há um documento, que esperamos aprovar na Rio+20 e que determina essas questões. Temos que mudar e ter consciência de que em um mundo onde teremos bilhões de pessoas de classe média, a ideia do que é o consumo tem que ser mudada. Não podemos ter 7 bilhões de pessoas consumindo como a classe média americana ou italiana.

Valor: O senhor não concorda com a visão “dramática” do mundo.
Lago: Esse alarmismo da falta de recursos naturais vem de Malthus, e a história tem provado que as coisas não são assim. Em 1971 se achava que a população mundial só ia estabilizar em 14 bilhões, mas já sabemos hoje que vai estabilizar em 9 ou 10 bilhões e a partir daí irá cair. E há progresso tecnológico, uma quantidade inimaginável de coisas novas acontecendo.

Valor: Há chance de, na Rio+20, sair uma agência ambiental mundial nos moldes da OMC, para o comércio, ou a OIT, para o trabalho?
Lago: Nós não queremos uma agência ambiental mundial. Essa é a agenda de Estocolmo. Queremos uma agência internacional sobre desenvolvimento sustentável, que trate de maneira equilibrada o econômico, o ambiental e o social. Por outro lado, queremos que seja fortalecido o pilar ambiental no Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Mas o que tem que sair do Rio de Janeiro não é o fortalecimento simplesmente do meio ambiente. 

É o fortalecimento do desenvolvimento sustentável, do tratamento equilibrado entre econômico, ambiental e social. Os europeus dizem que o Brasil está tirando o foco da Rio+20. A Rio+ 20 não é uma conferência ambiental, é sobre desenvolvimento sustentável. Quem está tirando o foco da Rio+20 são eles, colocando apenas o pilar ambiental na mesa.

Valor: Pode sair uma agência sobre desenvolvimento sustentável?
Lago: Este é o objetivo. O fortalecimento da governança internacional de desenvolvimento sustentável. Mas a forma que esta agência terá… Uma coisa é o que o Brasil quer. A outra é o que 193 países querem.

Valor: O que o Brasil quer?
Lago: O Brasil quer que saia uma coisa ambiciosa, que os 193 países queiram. Mas o Brasil não é um país que declara que quer uma coisa extraordinariamente ambiciosa sabendo que aquilo é impossível. Também não podemos predeterminar a opinião de 193 países. Seria pretensioso e inadequado para o presidente de uma conferência.

Valor: Na proposta brasileira defendia-se que o Ecosoc, o conselho econômico e social que existe na ONU, seja reformulado, fortalecido e acrescido da vertente ambiental. Isso pode acontecer na Rio+20?
Lago: Estão sendo examinadas todas as possibilidades. Os países têm diferentes visões. O público e os políticos, em geral, não têm noção do que é o Ecosoc e para o que serve. Temos que ter uma solução que não só seja efetiva para as Nações Unidas, mas percebida como tal pelos governos nacionais e pela sociedade civil.

Procuro sempre explicar que precisamos ter resultados significativos na Rio+20 em três dimensões. Na multilateral, das Nações Unidas, com o fortalecimento da ONU, de seus instrumentos e de sua eficiência. Outra é o que pode trazer de impactos sobre o Brasil, que o país seja o líder mundial na luta do desenvolvimento sustentável. A terceira dimensão é a sociedade civil aceitar e se envolver nessa agenda, o setor empresarial, os trabalhadores, as ONGs, a Ciência. Toda a sociedade civil mundial tem que acreditar que esta é a agenda que deseja para os próximos 20 anos.

Valor: Como os empresários podem aproveitar a Rio+20?
Lago: Os empresários são absolutamente chave na Rio+20. A conferência vai tratar de um assunto caro a eles, que é o longo prazo. O empresariado precisa de segurança com relação ao longo prazo. Na Rio 92 quem apoiava o desenvolvimento sustentável era muito ligado a uma visão idealista do mundo. Eram grandes líderes empresariais convictos de que a dimensão ambiental e social era chave. 
Nos últimos 20 anos apareceram milhares de exemplos de empresas que ao darem atenção à dimensão social e ambiental, ao lado da econômica, naturalmente, cresceram mais, se fortaleceram, ganharam mais mercado. Um passo importante na Rio+20 é convencer o empresariado médio e micro que o desenvolvimento sustentável não é agenda apenas de multinacionais gigantes, que têm dinheiro sobrando e que, portanto, podem investir nessas outras dimensões. 
O Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] assinou um convênio com a organização da Rio+20, e isso é uma sinalização internacional de que a entidade que, no Brasil, reúne as pequenas e micro empresas acredita na agenda da sustentabilidade.

Valor: O senhor fala que é importante trazer os mecanismos financeiros internacionais tipo Banco Mundial, BID e FMI para este debate. O que o senhor imagina?
Lago: Se nós estamos pensando em uma entidade – não vamos dar nome à agência, conselho, porque não houve acordo sobre isso – multilateral que vai assegurar que desenvolvimento sustentável seja o paradigma do desenvolvimento mundial, é evidente que essa entidade tem que envolver o Banco Mundial, o FMI, a OMC. Esses organismos são da estrutura das Nações Unidas, mas sua estrutura de funcionamento é muito diferente. Temos que assegurar que esses organismos também sejam defensores do desenvolvimento sustentável.

Valor: Como os EUA estão se comportando com relação à Rio+20?
Lago: Os EUA têm sido muito construtivos. O grande papel que o Brasil pode ter é justamente de, tendo conhecimento das dificuldades que países como os EUA, Alemanha ou Indonésia têm no tratamento de certas questões, conseguir um resultado com o qual esses países possam concordar. Não é nenhuma vitória propor algo que não será consenso e não será aprovado.

Valor: Mas assim não se enfraquece a conferência?
Lago: Há um certo cansaço que existe do público com relação à capacidade da ONU de conseguir coisas ambiciosas uma vez que têm que haver o consenso de mais de 190 países. Há sempre o temor de se ter o menor denominador comum. A sociedade civil vai ficar observando os líderes mundiais e dizendo a eles “vocês podem ser mais ambiciosos.”

Valor: O senhor diz que, nas negociações internacionais, o confronto Norte-Sul que se verificava passa a ser mais pressão sobre os emergentes. É assim?
Lago: No momento em que há uma tal crise nos países mais ricos do mundo, e eles observam China, Índia e Brasil crescendo entrando na lista das maiores economias do mundo, há uma tendência natural dos países ricos de tentar dividir algumas das suas responsabilidades, sobretudo financeiras, com esses países que parecem estar ricos. Tem uma tendência dos países ricos em achar que os emergentes deveriam fazer mais.

Isso é uma deturpação. Apesar de Brasil, China e Índia terem conseguido grandes progressos recentes, são ainda países em desenvolvimento. Nenhum de nós está dizendo que já é desenvolvido. 

Temos plena consciência de que temos imensa dívida social e muito o que fazer para nos considerarmos desenvolvidos. Estamos tratando com sociedades que têm um nível de qualidade de vida para as suas populações infinitamente superior do que o que Brasil, China e Índia podem oferecer para a maioria da sua população.

Valor: Essa pressão também ocorre nas negociações da Rio+20?
Lago: Na Rio+20 há uma grande diferença entre o que Brasil, China e India consideram que é o maior papel para eles no mundo atual e o que os países ricos consideram que é o maior papel para nós no mundo a partir de agora.

Sustentabilidade: recomendações a partir de uma breve análise de custo-benefício


A crescente demanda da indústria por cafés sustentáveis não está fazendo com que a produção reaja com velocidade suficiente para atendê-la. Os prêmios de preço pagos por cafés sustentáveis estão corretos? 

Vamos ver se uma breve análise de custo benefício segundo a perspectiva do produtor pode explicar o que está acontecendo e apontar soluções.

O benefício mais evidente de produzir café sustentável é o prêmio de preço pago pelos torradores, seguido de acesso preferencial a mercados e clientes específicos. 




Entretanto, a vantagem mais importante (e duradoura) de se tornar um produtor de café sustentável pode estar em melhor gerenciamento, controle de custos e maior eficiência de produção, que são todas exigências básicas para se tornar sustentável e, portanto, são benefícios "ocultos" da sustentabilidade. 

O fato destes benefícios não serem facilmente percebidos nem serem necessariamente de curto prazo pode explicar porque o fornecimento de cafés sustentáveis não acompanha a demanda.

Embora os custos relativos à assistência técnica, assessoria e auditoria sejam geralmente mencionados no outro lado da equação, eles estão longe de ser os custos mais importantes de tornar-se sustentável. 

Estes são indubitavelmente os custos de adequação aos códigos de sustentabilidade, por exemplo, armazenamento adequado de café, fertilizantes e agrotóxicos, o tratamento e disposição de resíduos, ou a provisão de serviços sociais e de saúde aos trabalhadores. 

Mesmo com os preços do café em queda, mas ainda bons, os custos de adequação podem consumir os lucros dos produtores durante alguns anos. 

Na falta de financiamento adequado para ajudar os produtores a distribuir tais custos por vários anos, é improvável que a produção de café sustentável aumente para atender à demanda com os prêmios de preço existentes hoje. No curto prazo, os benefícios podem ser percebidos como não cobrindo os custos ou podem mesmo não cobrir os custos!

Mesmo que a solução de curto prazo possa ser prêmios de preço maiores, como já aconteceu em alguns casos recentes, a solução de longo prazo pode ser estrutural, com melhores serviços de extensão para promover a sustentabilidade (boas práticas agrícolas sustentáveis), treinamento de produtores para se tornar melhores gerentes (custos menores, produtividades altas, maior eficiência) e, muito importante, linhas de crédito a termos razoáveis (habilidade para cobrir os custos das mudanças). 

Por trás desta mudança estrutural está uma mudança organizacional e comportamental (talvez geracional): entender e incorporar a sustentabilidade, gerenciar a mudança de maneira eficiente e dividir os custos da mudança (governo, produtores e indústria). 

O cenário está montado para Parcerias Público-Privadas (PPPs) em que o governo provê treinamento e financiamento, a indústria fornece acesso a mercado e prêmios de preço e os produtores implementam as mudanças para se tornarem sustentáveis, com benefícios para todos os envolvidos. 

Uma limitação do modelo acima é a dificuldade de estender treinamento e financiamento aos pequenos produtores, responsáveis pela maior parte da produção mundial de café. A solução é a formação de grupos de produtores facilitada pelo trade (exportadores, cooperativas e associações) com o apoio das plataformas de sustentabilidade. 

Ausente deste artigo sobre sustentabilidade, as plataformas de sustentabilidade, que estão no cerne do processo e foram sua "parteira", deveriam estar seriamente pensando em se redesenhar para evoluir de selos de sustentabilidade para serviços de sustentabilidade. 

As plataformas que melhor apoiarão as mudanças serão aquelas cujos códigos de conduta e propostas de serviços colaborarem para melhorar o gerenciamento e facilitar a implementação das mudanças para tornar o produtor sustentável. 

O alinhamento dos padrões e a criação de condições para melhoria contínua, de códigos de conduta básicos para outros mais exigentes, é hoje um grande desafio para as plataformas de sustentabilidade. Talvez também haja espaço para sistemas de sustentabilidade nacionais básicos, que podem se tornar o primeiro passo da escada da sustentabilidade. 

Finalmente, mas não menos importante, outro desafio a ser enfrentado é que o alinhamento dos códigos de sustentabilidade com a legislação trabalhista e ambiental de cada país pode fazer com que cafés sustentáveis do país X sejam "mais sustentáveis" que os do país Y porque a legislação do primeiro é mais rigorosa que do segundo. Mas este assunto merece outro artigo...

(*):Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP e com estudos de pós-graduação à nível de doutorado em economia e negócios no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA, é sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria e marketing na área de agronegócio com ênfase em café.

Estudo identifica 10 "megaforças" sustentáveis que afetarão o crescimento das empresas

Empresas e formuladores de políticas devem tomar decisões conjuntas e agir diante desse cenário

Por Redação, www.administradores.com.br

Uma nova pesquisa da KPMG International identificou 10 "megaforças" que afetarão, de maneira significativa, o crescimento das empresas de modo global nas próximas duas décadas. 

O estudo "Espere o inesperado: construindo valor para os negócios em um mundo em mudança" ("Expect the unexpected: building business value in a changing world") explora questões como as mudanças climáticas, volatilidades relacionadas ao suprimento de energia e combustíveis, disponibilidade e custo da água e de outros recursos, assim como problemas relacionados ao crescimento demográfico dos centros urbanos.

A análise examina como estas forças globais podem ter impacto sobre os negócios e indústrias, calcula os custos ambientais dos negócios e convoca empresas e formuladores de políticas a conjugar esforços para mitigar futuros riscos para os negócios e tomar atitudes imediatas frente às oportunidades.

De acordo com Michael Andrew, presidente da KPMG International, "estamos vivendo em um mundo com recursos limitados. 

O rápido crescimento de mercados em desenvolvimento, mudanças climáticas e questões de segurança energética e água estão entre as forças que exercerão enorme pressão sobre os negócios e a sociedade. 

Nós sabemos que os governos sozinhos não podem enfrentar esses desafios. As empresas devem assumir um papel de liderança no desenvolvimento de soluções que ajudarão a criar um futuro mais sustentável. 

Ao alavancar suas capacidades de melhorar os processos, criar eficiências, gerenciar riscos e promover inovação as empresas contribuirão com a sociedade e com o crescimento econômico no longo prazo".

A pesquisa da KPMG considera que os custos ambientais externos (que muitas vezes não são indicados nas demonstrações financeiras, pois seus portadores podem ser indivíduos ou a sociedade como um todo, sendo também geralmente não-monetários e problemáticos para serem quantificados como valores monetários) de 11 setores-chave da indústria subiram 50%, de US$ 566 bilhões para US$ 846 bilhões em oito anos (de 2002 a 2010), duplicando assim em média a cada 14 anos.

Imagem: Thinkstock

O relatório calculou que, se as companhias tivessem que pagar por todo o custo ambiental de sua produção, elas perderiam em média US$ 0,41 a cada US$ 1,00 em ganhos. Yvo de Boer, assessor especial da KPMG Global para assuntos de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade, afirma que as "megaforças" de sustentabilidade global aumentarão, de maneira significativa, a complexidade do ambiente de negócios.

"Sem ação e planejamento estratégicos, os riscos se multiplicarão e serão perdidas oportunidades. 

As corporações estão reconhecendo que há valor e oportunidade na responsabilidade que vai além dos resultados do próximo trimestre, e que o que é bom para as pessoas e para o planeta também pode ser bom para os resultados no longo prazo e para a geração de valor aos acionistas", avalia Yvo de Boer.

No Brasil, que tem a responsabilidade de organizar a Conferência Rio+20 em junho e é hoje referência mundial em ações de sustentabilidade, o avanço das exigências sobre a atuação responsável e sustentável das empresas tem evoluído significativamente, o que exige grande atenção do mundo corporativo. 

"O cumprimento dos compromissos assumidos internacionalmente pelo Brasil em relação à construção de condições adequadas para reduzir impactos sobre o meio ambiente certamente terá de contar com a participação ativa e decisiva das empresas brasileiras, e esse será o grande desafio imposto ao mundo corporativo nos próximos anos, que exigirá cada vez mais eficiência na gestão de custos e de processos", explica Sidney Ito, sócio-lider da área de Riscos e de Sustentabilidade da KPMG no Brasil.

John B. Veihmeyer, head da KPMG nas Américas e presidente e CEO da KPMG LLP, dos Estados Unidos, avalia que firma global assumiu um papel de liderança no auxílio às organizações em compreender a oportunidade da equação que envolve a sustentabilidade, e não apenas o risco. 

"Os clientes da KPMG e outros estão vendo a conexão entre sustentabilidade e resultados financeiros se tornar cada vez mais clara. As companhias que reconhecem as influências externas em suas organizações e as aproveitam como oportunidades estão percebendo uma vantagem competitiva", diz o executivo.

O estudo foi divulgado na abertura do evento KPMG Summit: Business Perspective for Sustainable Growth – Preparing for Rio+20 (Encontro de cúpula da KPMG: Perspectiva de negócios com crescimento sustentável: 

Preparando-se para a Rio+20), que ocorreu de 14 a 16 de fevereiro, em Nova York (EUA). 

O evento atraiu mais de 400 líderes empresariais das maiores corporações do mundo, assim como alguns dos principais formuladores de políticas ambientais e foi organizado pela KPMG International em cooperação com o Pacto Global das Nações Unidas (UNGC), o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP).

· Mudanças climáticas: Esta deve ser a única "megaforça" global que impacta diretamente sobre as outras. As estimativas de perdas anuais devido às mudanças climáticas variam de 1% ao ano, se ações fortes e imediatas forem tomadas, até 5% ao ano, se os formuladores de políticas não agirem rapidamente.

· Energia e combustíveis: Os mercados de combustíveis fósseis tendem a se tornar mais voláteis e imprevisíveis devido: à maior demanda global por energia; a mudanças no padrão geográfico de consumo; às incertezas de fornecimento e consumo; e ao aumento de intervenções regulatórias relacionadas às mudanças climáticas.

· Escassez de recursos materiais: Como os países em desenvolvimento se industrializam rapidamente, a demanda global por recursos materiais deve aumentar drasticamente. 

Os negócios devem enfrentar restrições comerciais crescentes e intensa competição global por uma ampla gama de recursos que se tornam menos disponíveis. A escassez também cria oportunidades para que sejam desenvolvidos materiais substitutos ou para que se recupere materiais a partir de resíduos.

· Escassez de água: A previsão é de que, em 2030, a demanda global por água fresca excederá as provisões em 40%. As empresas estarão vulneráveis ao racionamento de água, à queda da qualidade da água, à volatilidade dos preços da água e a riscos de reputação.

· Crescimento populacional: A população mundial deve alcançar 8,4 bilhões em 2032. Isto deixará os ecossistemas e o fornecimento de recursos naturais, como comida, água, energia e materiais, sob pressão intensa. Se, por um lado, isto é uma ameaça aos negócios, também há oportunidades de crescimento do comércio, de geração de empregos e de criação de inovações para atender às necessidades de agricultura, saneamento, educação, tecnologia, finanças e saúde das populações crescentes.

· Riqueza: Estima-se que a classe média global (definida pela OCDE como indivíduos com rendimento disponível entre US$ 10 e US$ 100 per capita ao dia) cresça 172% entre 2010 e 2030. O desafio para as empresas é atender a este novo mercado de classe média em uma época em que os recursos tendem a ser mais escassos e voláteis. As vantagens da "mão de obra barata", que muitas companhias experimentaram nas nações em desenvolvimento nas últimas duas décadas, tendem a ser corroídas pelo crescimento e o poder da classe média global.

· Urbanização: Em 2009, pela primeira vez, um maior número de pessoas vivia em cidades do que no campo. Até 2030, todas as regiões em desenvolvimento, incluindo a Ásia e a África, devem ter a maioria de seus habitantes vivendo em áreas urbanas. Praticamente todo o crescimento populacional, nos próximos 30 anos, será nas cidades. Estas cidades exigirão melhorias extensas na infraestrutura, incluindo construção, fornecimento de água e saneamento, eletricidade, gestão de resíduos, transporte, saúde, segurança pública e conectividade de internet e telefonia.

· Segurança alimentar: Nas próximas duas décadas, o sistema global de produção de alimentos estará sob crescente pressão das "megaforças", incluindo o crescimento populacional, escassez de água e desmatamento. Os preços globais de alimentos devem aumentar de 70% a 90% até 2030. 

Em regiões com escassez de água, os produtores agrícolas provavelmente terão que competir por provisões com outras indústrias que exigem muita água, como utilidades elétricas e mineração, e com consumidores. Será necessária uma intervenção para reverter o crescimento da escassez localizada de alimentos (o número de pessoas cronicamente subnutridas subiu de 842 milhões, no final dos anos 1990, para mais de 1 bilhão, em 2009).

· Declínio do ecossistema: Historicamente, o principal risco para os negócios no declínio dos serviços de biodiversidade e ecossistema tem sido a reputação das corporações. No entanto, como ecossistemas globais mostram crescentes sinais de colapso e estresse, um número maior de companhias está percebendo o quanto suas operações dependem dos serviços críticos que estes ecossistemas fornecem. 

O declínio dos ecossistemas está tornando os recursos naturais mais escassos, mais caros e menos diversificados, aumentando os custos da água e intensificando o dano causado por espécies invasivas em setores como agricultura, pesca, alimentação e bebidas, medicamentos e turismo.

· Desmatamento: Florestas são grandes negócios: produtos de madeira movimentaram US$ 100 bilhões por ano entre 2003 e 2007, e o valor de outros produtos derivados das florestas, em sua maioria alimentos, foi estimado em US$ 18,5 bilhões em 2005. No entanto, a OCDE prevê que as áreas florestais irão diminuir 13% globalmente, entre 2005 e 2030, principalmente no sul da Ásia e da África. 

A indústria madeireira e as indústrias de derivados, como papel e celulose, estão vulneráveis a uma potencial regulamentação para reduzir ou reverter o desmatamento. As companhias também podem vir a perceber que estão sob crescente pressão de clientes para provar que seus produtos são sustentáveis pelo uso de padrões de certificação. 

Oportunidades de negócios devem surgir a partir do desenvolvimento de mecanismos de mercado e incentivos econômicos para reduzir o desmatamento. 

Em Brasília: prefeitos debatem desenvolvimento sustentável

Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável reúne gestores
O evento será realizado pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) nos dias 27, 28 e 29 de março, em Brasília, no Centro de Convenções e Eventos Brasil 21, em parceria com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e da Associação Brasileira de Municípios (ABM) e o apoio do Sebrae e do Governo Federal. 

O objetivo é incentivar a adoção de uma agenda propositiva para o desenvolvimento sustentável das cidades e fornecer subsídios para incorporar os temas da sustentabilidade socioambiental, da erradicação da miséria e da criação de um ambiente favorável aos pequenos negócios.


O I EMDS também é considerado uma prévia da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20. Durante o evento, será aprovado o posicionamento das autoridades brasileiras para a conferência, a ser realizada, em junho, no Rio de Janeiro. 

Durante a abertura oficial do encontro, que será realizada no dia 27, a partir das 19h, a ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, fará uma apresentação sobre os municípios e a Rio +20. Também serão entregues premiações às experiências de boas-práticas de sustentabilidade ambiental urbana implementadas por municípios. 

Os trabalhos serão ainda expostos durante a Conferência das Nações Unidas.

Durante o Encontro, haverá o lançamento da Rede Nacional de Agentes de Desenvolvimento. A Rede vai incentivar que mais agentes entrem em ação e possibilitará a troca constante de informação. 

Os Agentes de Desenvolvimento (AD) são profissionais contratados pelas prefeituras para articular políticas públicas de desenvolvimento territorial, com prioridade para os pequenos negócios e a implementação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei Complementar 123/06).

O presidente da FNP e prefeito de Vitória (ES), João Coser, afirma que o tema desenvolvimento sempre foi considerado importante, mas, nunca foi considerado urgente. "Nossa proposta é fazer com que os prefeitos compreendam que a sua melhor atividade é ser um empreendedor, um prefeito empreendedor. 

Com isso, eles vão buscar potencializar seus municípios, porque eles geram não só tributos, mas principalmente oportunidades de trabalho".

Para o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, este é um momento especial para que a agenda do empreendedorismo seja focada e ampliada. 

"Vamos ter eleições municipais e o espaço dos municípios é muito importante para que a gente consiga introduzir, com concretude, uma agenda de posturas municipais que apoiem o empreendedorismo, uma agenda local voltada para o desenvolvimento que tenha no empreendedor individual, na micro e pequena empresa um sustentáculo importante para a geração de emprego e renda", opina Barretto.

Já o secretário Nacional de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Nabil Bonduki, avalia que a sustentabilidade urbana é um dos grandes temas que tem relação com desastres urbanos e com mudanças climáticas. 

"Os grandes temas nacionais, no fundo, têm origem nas cidades", argumenta ele. Bonduki acredita que este é um bom momento para que os prefeitos que buscam a reeleição expliquem o que realizaram para enfrentar os problemas ambientais. 

Também é uma oportunidade para que aqueles que estão pleiteando o cargo pela primeira vez — ou buscando retornar ao Executivo municipal — possam apresentar projetos.

Participam do evento o presidente da Câmara do Deputados, deputado Marco Maia, que na ocasião estará no exercício da Presidência da República; ministros, parlamentares, prefeitos e prefeitas, além de representantes de organizações da sociedade civil e de instituições financeiras.